Nesta sexta-feira (8), completam-se nove meses desde a queda de Bashar al-Assad. Seu governo, uma manifestação do nacionalismo burguês de um país oprimido pelo imperialismo, foi derrubado em um golpe de Estado que serviu ao imperialismo.

Desde o golpe, cerca de 9.899 pessoas foram mortas — 7.449 civis — por forças governamentais e aliadas ou em decorrência de conflitos que vêm ocorrendo no país, o mais destacado deles entre drusos e beduínos.

Conforme informações do Observatório Sírio para Direitos Humanos, uma organização britânica, desse total de mortos, 396 são crianças e 541 são mulheres.

A organização fez um levantamento mensal do número de vítimas:

  • 8 a 31 de dezembro de 2024: 2.354 mortes (1.894 civis)
  • Janeiro de 2025: 1.122 mortes (679 civis)
  • Fevereiro de 2025: 603 mortes (435 civis)
  • Março de 2025: 2.644 mortes (2.069 civis)
  • Abril de 2025: 452 mortes (352 civis)
  • Maio de 2025: 428 mortes (295 civis)
  • Junho de 2025: 391 mortes (360 civis)
  • Julho de 2025: 1.733 mortes (1.225 civis)
  • 1 a 6 de agosto de 2025: 162 mortes (140 civis)

O golpe de Estado contra Bashar al-Assad levou o Hayat Tahrir al-Sham (HTS) ao poder.

Este grupo é uma continuação da Frente Al-Nusra (braço da Al-Qaeda na Síria). Seu líder, Ahmed al-Shaara, que agora é presidente do país, era membro da Al-Qaeda no Iraque durante a década de 2000 e fundou a Frente Al-Nusra com apoio de Abu Bakr al-Baghdadi, um dos fundadores do Estado Islâmico e líder do grupo entre 2010 e 2019.

Embora o Estado Islâmico ainda exista, sua insurgência na década de 2010, que ocorreu principalmente na Síria e no Iraque, sofreu uma derrota esmagadora por uma coalizão de forças lideradas pelo Irã e que contou com o apoio da Rússia.

O Golpe como Parte do Cerco do Imperialismo e do Sionismo ao Hesbolá e ao Irã

Com apoio ativo da Turquia, bem como de agências de inteligência do imperialismo, a ofensiva do HTS começou em 27 de novembro de 2024, no mesmo dia em que o cessar-fogo entre “Israel” e o Hesbolá foi assinado. Durante a ofensiva, o Exército Árabe Sírio desmoronou, e o golpe foi consumado em 8 de dezembro.

Nesse mesmo dia, “Israel” realizou uma ofensiva, capturando todo o território das Colinas de Golã e ocupando partes do sul da Síria, especificamente nas regiões de Quneitra e Daraa. Com isso, controlou toda a fronteira com “Israel”, uma pequena parte da fronteira entre Síria e Jordânia e uma parte maior da fronteira síria com o Líbano.

Uma das finalidades da ocupação israelense foi cortar rotas utilizadas pelo Eixo da Resistência para enviar armas e suprimentos ao Hesbolá. Durante um ano, o partido revolucionário xiita libanês realizou milhares de ataques com mísseis e VANTs (drones) contra “Israel” em apoio à Palestina, gerando uma crise sem precedentes nos territórios da entidade sionista. A ocupação sionista do sul da Síria faz parte do cerco do imperialismo ao Hesbolá, que visa desarmar (e, eventualmente, desmantelar) o partido revolucionário. Faz igualmente parte da tentativa do imperialismo de isolar o Irã na região.

Face à ocupação sionista, Ahmed al-Shaara, na posição de novo líder da Síria, deu reiteradas declarações afirmando que “Israel” não era o real inimigo do país, mas sim o Irã, o Hesbolá e demais milícias revolucionárias xiitas em atuação na região.

Expondo ainda mais claramente a subserviência do governo golpista ao imperialismo e ao sionismo, vem sendo noticiado recentemente sobre uma normalização entre a Síria e “Israel” através dos chamados Acordos de Abraão. Por ora, as tratativas estariam no início e sendo realizadas de forma indireta, com Estados Unidos e Emirados Árabes Unidos (monarquia árabe lacaia do imperialismo) como mediadores.

Governo Golpista Persegue a Resistência Palestina

Mostrando-se também um agente do imperialismo contra a Palestina, o governo do HTS vem perseguindo organizações da Resistência Palestina e seus membros desde que tomou o poder.

Já em dezembro de 2024, representantes do HTS anunciaram a vários grupos palestinos na Síria, como a Frente Popular pela Libertação da Palestina (FPLP), a Frente Popular pela Libertação da Palestina – Comando Geral (FPLP – CG), a Jihad Islâmica Palestina e a As-Sa’iqa, que eles teriam que se desarmar, dissolver suas formações armadas no país e reorganizar-se apenas como entidades políticas ou de caridade sob o novo governo sírio. Como resultado, residências, veículos, escritórios, órgãos de imprensa e campos de treinamento foram confiscados, inclusive em torno de áreas como o campo de refugiados de Yarmouk, base tradicional da luta palestina na Síria.

A perseguição continuou em 2025: em abril, o aparato de repressão do HTS prendeu dois importantes membros da Jihad Islâmica: Khaled Khaled (responsável pelo setor sírio) e Abu Ali Yasser (membro do comitê executivo da organização). No mês seguinte, eles prenderam em Damasco o veterano líder do FPLP – CG, Talal Naji.

Governo Golpista e Aliados Massacram Alauítas

Desde que subiu ao poder, o governo golpista vinha perseguindo a população alauíta, que era uma importante base do governo de Bashar al-Assad. Em razão dessa perseguição, em março de 2025, grupos armados da população realizaram ações localizadas, eliminando agentes da repressão do governo.

Em retaliação, e sob a propaganda de que seria um levante pró-Assad, as forças do HTS e grupos aliados, como o Exército Nacional Sírio (controlado pela Turquia), realizaram massacres sistemáticos contra a população alauíta, concentrada na costa do Mediterrâneo, em cidades como Latakia, Tartus e outras. Estima-se o número de mortos entre 1.000 e 3.000, a maioria dos quais foram executados sumariamente, conforme inúmeros vídeos divulgados na época em diversos canais de comunicação.

“Israel” Impulsiona Drusos para Manter a Síria Fragmentada

Inúmeros confrontos vêm ocorrendo entre drusos e forças militares do governo da Síria, bem como entre drusos e beduínos, desde o início de 2025. O mais recente ocorreu há cerca de duas semanas e resultou em mais de 1.000 mortos em ambos os lados.

Aproveitando-se de diferenças religiosas, “Israel” vem impulsionando os drusos sírios, especialmente aqueles da região de Sueida, contra as tropas do governo e os beduínos, com a finalidade de expandir o controle israelense sobre o sul do país. Isso viabilizaria o chamado Corredor de Davi (uma rota que ligaria “Israel” ao Curdistão Iraquiano) e, ao mesmo tempo, impediria uma unidade nacional da Síria.

A Ofensiva Turca Contra Organizações Curdas Lacaias do Imperialismo na Síria

Desde o triunfo do golpe, que teve a Turquia como principal ator ativo externo, este país vem tentando desmantelar as organizações curdas que controlam parte do território norte da Síria há muitos anos.

O território sob o controle dos curdos é rico em petróleo e em terras agricultáveis para a plantação de trigo. Tais organizações estão sob o controle do imperialismo, especialmente o norte-americano, que rouba as riquezas dos territórios sob seu controle.

Recentemente, a Turquia forçou um acordo de rendição ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), partido ligado diretamente às Forças Democráticas Sírias e às Unidades de Proteção Popular, as principais organizações curdas no norte da Síria. O acordo resultou na entrega das armas do PKK. Atualmente, há a tentativa de incorporar as milícias curdas às forças militares e de segurança do governo do HTS, o que resultaria no desmantelamento dessas milícias.

Acordos com o Imperialismo e Lacaios do Imperialismo

Em maio de 2025, o presidente Donald Trump anunciou o levantamento de quase todas as sanções dos EUA contra a Síria. Na esteira disso, foi reaberta a residência do embaixador americano em Damasco, simbolizando o início de uma reaproximação diplomática, ainda que a embaixada permaneça oficialmente fechada.

Um grande acordo energético para construir quatro turbinas a gás (4.000 MW) e uma usina solar de 1.000 MW (capaz de suprir mais de 50% da demanda elétrica do país) foi assinado entre o governo sírio e empresas dos EUA, Catar e Turquia.

Da mesma forma, a UE removeu todas as sanções econômicas restantes contra a Síria (excetuando sanções de segurança e relacionadas ao antigo regime) em maio/junho de 2025.

Quanto aos países árabes lacaios do imperialismo na região, a Arábia Saudita anunciou planos para pagar parte da dívida da Síria com o Banco Mundial (US$ 15 milhões) para viabilizar concessões para a reconstrução do país.

Recentemente, o Azerbaijão, que agora faz parte da ofensiva do imperialismo contra a Rússia e o Irã, firmou um pacto para fornecer até 1,2 bilhão de metros cúbicos de gás por ano via Turquia, suficiente para reativar usinas com até 1.200 MW de capacidade — aumentando em cerca de 4 horas diárias na matriz energética do país.

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Last Update: 08/08/2025