Há dois dias, confrontos vem ocorrendo entre as forças militares do Hayat Tahrir al-Sham (HTS), grupo pró-imperialista que forma o atual governo da Síria (e milícias aliadas) e drusos, em diversos locais do país. Concomitante a isto, “Israel” vem aproveitando a situação para continuar seus ataques contra a Síria, bombardeando posições e tropas do governo, bem como tentando utilizar os drusos para aumentar a instabilidade do país e, quem sabe, dividi-lo.

Os confrontos começaram na segunda-feira (28), quando o HTS e milícias aliadas iniciaram ataques contra drusos nas cidades de Jaramana e Sahnaya, que, através de suas organizações armadas, revidaram. O Observatório Sírio para Direitos Humanos, organização sediada na Inglaterra, informou que 14 pessoas haviam sido mortas (e várias outras feridas), dentre drusos e forças governamentais e aliadas.

Após os confrontos iniciais, drusos em Damasco (capital) e Homs (cidade ao noroeste do país), saíram às ruas em protesto contra as ações do HTS contra os drusos. 

Conforme noticiado então pelo portal de notícias The Cradle, os ataques inicias teriam sido desencadeados “por uma nota de voz vazada na qual o líder druso Marwan Kiwan teria insultado o profeta Maomé — acusação que ele negou”. The Cradle informou ainda “uma investigação inicial do Ministério do Interior sírio mostrou que Kiwan não era responsável pela gravação”.

Na terça-feira (29), um acordo para desescalar a situação foi firmado entre representantes do governo sírio e os drusos de Jaramana, conforme noticiado pela Agence France Presse. Conforme noticiado pelo jornal libanês Al Akhbar, “os pontos principais incluem processar os perpetradores, compensar as famílias das vítimas e restaurar o trânsito seguro entre Damasco e Sueida”, destacando que o acordo seria “implementado imediatamente sob supervisão governamental, com ambas as partes enfatizando a necessidade de acalmar as tensões sectárias e promover a justiça por vias legais”.

No mesmo dia, o Ministério da Justiça sírio alertou contra ataques a locais religiosos e incitação, enfatizando que tais atos são puníveis por lei. Além disso, pediu aos cidadãos que evitassem discursos divisionistas e confirmou que os processos judiciais estão em andamento em coordenação com as autoridades competentes.

Contudo, os confrontos vêm persistindo desde então, especialmente Sahnaya (cidade na zona rural de Damasco). Em canais de comunicação no Telegram, foi divulgada a mensagem de um druso de Sahnaya. Segundo ele, “os que estão atacando Sahnaya são de Deir Ezzor, Huaran e de fora de Sahnaya. E há um cerco acontecendo porque eles não conhecem as ruas. Como chegaram a Sahnaya se a Segurança Geral não os trouxe? Onde os comboios Jolani os estão parando?”, fazendo referência ao atual presidente da Síria, e a pontos de controle que teriam sido erguido pelas tropas do governo para evitar a escalada dos confrontos.

Aproveitando-se da situação, na quarta-feira (30), “Israel” realizou ataques contra um “grupo armado que se preparava para atacar uma comunidade drusa na cidade de Sahnaya”, conforme noticiado pelo jornal sionista The Times of Israel. A informação foi anunciada por Benjamin Netaniahu e Israel Katz, respectivamente primeiro-ministro e ministro da Defesa de “Israel”. Conforme ambos, os ataques, realizados com veículos aéreos não tripulados (VANTs), feitos sob pretexto de “proteger os drusos”.

No mesmo sentido, o jornalista israelense Edy Cohen publicou um nota em sua página do X, tentando cinicamente se passar por defensor dos drusos: “aos animais de al-Joulani, estamos monitorando vocês de cima. Se se aproximarem de Jaramana, tomaremos as medidas necessárias. Os drusos são uma linha vermelha”.

Como afirmado acima, a suposta “proteção” aos drusos é um pretexto para “Israel” continua desestabilizando a Síria, objetivando a fragmentação no país. Nesse sentido, um representante da extrema direita israelense (um setor ainda mais fascista que Netaniahu), foi claro no objetivo de “Israel” em relação à Síria: “não pararemos a guerra até que a Síria seja desmantelada e dividida em regiões étnicas autônomas”, declarou o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, em um comício.

Ainda na quarta-feira (30), o druso Hikmat al-Hijri, líder da comunidade drusa em Sueida (cidade ao sul de Damasco), se pronunciou sobre a situação, afirmando que os drusos “não confiam mais em um órgão que se diz ser um governo”, pois “o governo não mata seu próprio povo com suas ‘gangues takfiri’ (paravra que designa apóstatas dentro dos islamismo) que lhe pertencem”. Ele então afirmou que “pedir proteção internacional é um direito legítimo para um povo ‘dizimado por massacres’”, e pediu “à comunidade internacional que não continue a ignorar e ofuscar os ‘massacres’”. acrescentando que “este massacre sistemático exige a intervenção imediata das forças internacionais de manutenção da paz”.

Diante das declarações acima, e da tentativa de “Israel” de utilizar os drusos da mesma forma que os Estados Unidos vem utilizando os curdos no norte do país, “o Ministério interino das Relações Exteriores da Síria emitiu uma declaração rejeitando todas as formas de interferência estrangeira nos assuntos internos do país, denunciando os apelos de grupos ilegais envolvidos em ações violentas exigindo a chamada “proteção internacional” como ilegítimos e inaceitáveis”, conforme noticiado pela emissora libanesa Al Mayadeen.

A emissora informa também que o ministério “reiterou que todas as questões nacionais devem ser resolvidas exclusivamente por meio de mecanismos domésticos, rejeitando firmemente qualquer ditame ou interferência externa”.

Em denúncia da tentativa israelense de fomentar os druso para eventualmente desmembrar a Síria, o líder druso libanês, Walid Jumblatt, deu a seguinte declaração:

“Rejeitamos a intervenção israelense, e o que está acontecendo hoje é uma tentativa de envolver os drusos em uma guerra em larga escala. Rejeitamos e condenamos qualquer insulto ao Santo Profeta. Estou pronto para ir a Damasco para mediar.”

Ao fechamento desta edição, a Autoridade de Radiodifusão de Israel havia noticiado que “centenas de soldados drusos [de “Israel”] se preparam para apresentar a Netaniahu uma iniciativa que lhes permita entrar na Síria para lutar com os drusos [sírios]”.

No mesmo sentido foi a declaração da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), que condenou “a contínua agressão sionista no território sírio, que resultou no martírio de vários cidadãos sírios — um novo crime adicionado ao registro da ocupação, já manchado com o sangue de pessoas inocentes na Palestina, na Síria e em toda a região”.

A FPLP destacou que “essa agressão não pode ser separada do ataque contínuo ao povo palestino; o inimigo é um só, e o projeto sionista tem como alvo toda a nossa nação — de Beirute a Damasco e Gaza — em uma tentativa desesperada de subjugar nossos povos e quebrar sua vontade”. O partido palestino “rejeita categoricamente todas as tentativas sionistas de semear conflitos sectários e denominacionais dentro do tecido nacional sírio, visando fragmentá-lo e enfraquecê-lo a serviço de seu projeto colonial”, reiterando seu apoio pela “unidade da terra síria e a unidade do povo sírio com todos os seus componentes”.

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Last Update: 02/05/2025