Um artigo publicado nesta quarta-feira (28) pelo analista militar Amir Bohbot no portal sionista Walla! trouxe à tona uma constatação incômoda para o regime de ocupação: mesmo após 600 dias de bombardeios contínuos e ofensivas terrestres contra a Faixa de Gaza, o Hamas não apenas resiste, como mantém sua estrutura política e militar ativa, apoiado por grande parte da população palestina.
A análise, baseada em avaliações do alto comando militar de “Israel”, reconhece que a guerra iniciada pelo exército sionista com o objetivo de aniquilar o movimento de resistência palestino fracassou em suas metas estratégicas. A campanha, que começou com a promessa de ser rápida e decisiva, transformou-se em uma guerra de desgaste prolongada, que expôs as limitações da máquina de guerra israelense e o fortalecimento contínuo da Resistência Palestina.
Segundo Bohbot, o Hamas segue reorganizando sua infraestrutura, recrutando combatentes, redistribuindo cargos de comando e recuperando armamentos, mesmo sob intensa ofensiva militar. A estrutura do grupo não foi desmantelada, e sua presença política permanece sólida, especialmente entre a população da Faixa de Gaza. “Enquanto a conexão entre o Hamas e a rua palestina não for rompida, não haverá colapso interno”, afirma o autor, citando avaliações do Estado-Maior israelense.
O artigo revela também a frustração das autoridades sionistas com os resultados das tentativas de contornar a influência do Hamas por meio de ações ditas “humanitárias”. O governo de ‘Israel’ tem tentado implementar um modelo de assistência direta à população, buscando fragmentar a sociedade palestina e instalar uma administração paralela, mas, segundo o analista, tais medidas não surtiram efeito.
Além da permanência do Hamas como força política e militar, Bohbot destaca o surgimento de novos quadros no movimento. Apesar da destruição generalizada em Gaza, o grupo segue atraindo novos militantes e mantém coesão interna. “O fanatismo do Hamas preenche as fileiras”, declarou um alto oficial do setor de defesa citado pelo analista, ao reconhecer que não há vácuo de poder na região e que qualquer tentativa de substituição forçada está fadada ao fracasso.
Internamente, a reportagem também denuncia as falhas de coordenação entre os setores das forças armadas israelenses, especialmente entre os comandos responsáveis pelas frentes norte (contra o Hesbolá) e sul (em Gaza). Bohbot questiona por que a operação em Gaza não foi conduzida com a mesma escala e preparação vista em ações anteriores contra o Líbano. A comparação com o enfrentamento ao Hesbolá levanta suspeitas sobre a real capacidade de ação do exército sionista diante de uma resistência que se fortalece com o apoio popular.
A análise aponta ainda os impactos prolongados da guerra sobre a sociedade israelense. O desgaste das tropas de reserva, o aumento de deserções entre militares de carreira, o custo econômico da campanha militar e as pressões internacionais começam a gerar tensões internas e instabilidade no próprio regime. Nesse cenário, cresce o temor entre os militares de que o Hamas mantenha os prisioneiros de guerra israelenses como uma importante moeda de troca diante da iminência de um colapso político e militar do regime.
Bohbot encerra o texto alertando que, caso os esforços diplomáticos — em especial os patrocinados pelos Estados Unidos — não avancem, o exército israelense poderá aumentar ainda mais a intensidade dos ataques na tentativa de conquistar algum “avanço” militar. No entanto, após mais de um ano e meio de ofensiva, a única conclusão possível é a resistência continua de pé, sustentada pelo apoio popular e pela determinação do povo palestino de seguir lutando por sua libertação.