Empresas brasileiras do setor siderúrgico voltaram a pressionar o governo federal por medidas adicionais contra o avanço das importações de aço da China, após divulgarem seus resultados do primeiro trimestre de 2025, conforme reportagem do Valor.
Gerdau e Usiminas, dois dos maiores grupos do segmento, apontaram impactos diretos no desempenho das operações no país, atribuindo os prejuízos à elevação expressiva das compras externas, especialmente do mercado chinês.
De acordo com dados do Instituto Aço Brasil, o Brasil importou 1,096 milhão de toneladas de produtos siderúrgicos da China entre janeiro e março deste ano, volume 57,8% superior ao registrado no mesmo período de 2024.
O país asiático se mantém como o principal fornecedor externo de aço para o Brasil, à frente da Coreia do Sul, que exportou 117,2 mil toneladas no mesmo intervalo.
Apenas em março, as importações brasileiras de aço chinês somaram 448 mil toneladas, um aumento de 53,1% em relação a março do ano passado.
Diante do cenário, representantes da indústria alegam que as medidas até agora adotadas não foram suficientes para conter os efeitos da concorrência estrangeira.
Desde junho de 2024, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) implementou uma tarifa de importação de 25% sobre alguns tipos de aço.
A medida, no entanto, tem validade até 31 de maio de 2025, e a possibilidade de revisão da política comercial é aguardada com expectativa por executivos do setor.
O presidente da Gerdau, Gustavo Werneck, afirmou que o cenário atual pode levar a empresa a rever seus planos de investimento no Brasil.
“Nós temos um balanço saudável, que nos permite manter o nível de Capex, mas estamos nos questionando se faz sentido manter esse volume no Brasil”, disse, durante coletiva sobre os resultados financeiros da companhia.
Segundo ele, a empresa avalia alternativas como redirecionamento de recursos para programas de recompra de ações ou a paralisação temporária de linhas de produção.
Werneck ressaltou a preocupação com o que classificou como “competição desleal” promovida pelo aço chinês e declarou que uma definição sobre o futuro dos investimentos dependerá da revisão do atual modelo de cotas e tarifas.
“O que nos preocupa é como vai ficar o nível de importação no Brasil. Há uma competição desleal. Temos dúvida se vale a pena continuar investindo no país, onde não temos uma defesa comercial que traga competição isonômica”, afirmou.
A Usiminas também demonstrou insatisfação com a condução da política comercial brasileira. Durante teleconferência com analistas, o presidente da empresa, Marcelo Chara, destacou que o avanço das importações subsidiadas representa uma ameaça concreta à sustentabilidade do setor.
“A falta de aplicação de medidas eficazes para criar condições justas de concorrência, ante a forte presença de importações subsidiadas, é a principal ameaça para a sustentabilidade do setor siderúrgico brasileiro e de sua cadeia de valor”, afirmou.
Executivos das duas companhias indicaram que o setor poderá adotar medidas adicionais de ajuste caso não haja uma resposta institucional mais contundente. O segmento emprega milhares de trabalhadores no país e está inserido em cadeias produtivas estratégicas para a indústria de base, incluindo setores como construção civil, automotivo e infraestrutura.
O debate sobre a revisão da política de tarifas de importação se intensificou no início de 2025, após sucessivas altas nos volumes comprados da China.
Representantes da indústria defendem que as atuais alíquotas são insuficientes diante da magnitude da produção chinesa e de suas condições de financiamento e subsídios internos.
Segundo fontes ligadas ao setor, o crescimento das importações tem reduzido a utilização da capacidade instalada das siderúrgicas nacionais e provocado desequilíbrios nas operações comerciais.
O governo federal ainda não indicou oficialmente se pretende prorrogar ou ampliar as tarifas aplicadas desde o ano passado. Técnicos do Mdic avaliam o impacto das medidas em vigor, mas não há, até o momento, definição sobre ajustes nas cotas, nas alíquotas ou na abrangência da política antidumping vigente.
Nos bastidores, dirigentes do setor industrial afirmam que a decisão do governo poderá influenciar diretamente os planos de médio e longo prazo das companhias.
Além da Gerdau e da Usiminas, outras empresas têm demonstrado preocupação com a perda de competitividade frente ao avanço de produtos importados. Uma eventual reconfiguração do ambiente regulatório poderá impactar também investimentos em inovação, modernização de plantas e ampliação da capacidade produtiva.
O Instituto Aço Brasil estima que, mantida a tendência observada no primeiro trimestre, as importações de aço da China poderão ultrapassar os níveis históricos registrados em anos anteriores.
A entidade calcula que o volume de produtos estrangeiros no mercado interno já comprometeu parte do espaço da indústria nacional, afetando preços, margens operacionais e níveis de emprego.
Em nota, a associação reiterou que as empresas do setor aguardam uma resposta “rápida e efetiva” do governo federal, com base nos princípios da Organização Mundial do Comércio e nas normas de defesa comercial permitidas pelo sistema multilateral.
A revisão da política tarifária, prevista para as próximas semanas, poderá definir os rumos do setor para o restante do ano e impactar a estratégia de alocação de recursos das maiores empresas da indústria. A depender do desfecho, executivos avaliam a possibilidade de redirecionamento de investimentos para outros mercados, diante da incerteza sobre as condições de competitividade no Brasil.