Equipe de Anora no Oscar, com a protagonista Mikey Madison e o diretor Sean Baker; filme conquistou cinco estatuetas. Foto: Reuters

A cerimônia do Oscar 2025 surpreendeu ao coroar “Anora” como Melhor Filme e a protagonista, Mikey Madison, como Melhor Atriz, superando “Ainda Estou Aqui”, estrelado por Fernanda Torres. O longa brasileiro ganhou a estatueta de Melhor Filme Internacional, mas é difícil levar a sério uma premiação que teve “Anora” e o lixo identitário “Emília Pérez” como principais nomes.

A escolha do filme dirigido por Sean Baker no lugar de outras histórias mais profundas e interessantes – como o inusitado “Conclave”, o épico “O Brutalista”, ou a biografia de Bob Dylan “Um Completo Desconhecido” – levantou questionamentos sobre os critérios da Academia.

“Anora” é sobre uma stripper do Brooklyn que se envolve com um adolescente, filho de um oligarca russo. O filme é marcado por frequentes cenas de sexo, discussões intermináveis e palavrões, o que revoltou alguns espectadores. No site Adoro Cinema, um usuário detonou: “Filme medíocre. Roteiro péssimo. A cada 10 palavras, 9 são palavrões. Cenas de sexo uma atrás da outra sem sentido algum”.

Comentários na rede social Reddit também trouxeram críticas à construção da personagem principal. Um internauta afirmou: “A personagem da Anora foi uma decepção. Ela não é bem escrita. Não há nada além da casca exterior vulgar, sempre gritando, irritada de sua personagem”.

Os 10 minutos iniciais do filme são bons, mas ele logo se transforma em uma comédia sem graça. O roteiro aposta em exageros e situações forçadas, em uma superficialidade que parece ter se tornado atalho para o prestígio no cinema. Filmes que abusam do apelo sexual, com cenas explícitas e um tom provocador, são imediatamente glorificados por parte da crítica como “viscerais” e “audaciosos”.

A impressão é de que o choque visual cria uma fórmula em que o exagero vale mais do que um bom desenvolvimento narrativo. Se uma obra consegue escandalizar e chocar o espectador, já é suficiente para ser celebrada como inovadora, mesmo que sua construção dramática seja rasa e sua mensagem, vazia.

Em contraste, “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles, apresenta a história de Eunice Paiva, que busca respostas sobre o desaparecimento de seu marido durante a ditadura militar no Brasil. Fernanda Torres entregou uma performance aclamada, descrita como “magnífica e complexa”. Sua atuação rendeu-lhe o Globo de Ouro de Melhor Atriz.

A escolha de “Anora” como Melhor Filme serve para enterrar, de uma vez por todas, a imagem que já se teve do Oscar como símbolo de excelência cinematográfica. O choque, o exagero e a exposição gratuita passaram a valer mais do que qualquer esforço em contar uma história de verdade. Se um filme joga algo na cara do público com a maior brutalidade possível, já é suficiente para ser celebrado como inovador — ainda que, no fim, não passe de um espetáculo vazio.

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Last Update: 03/03/2025