O volume de serviços no Brasil registrou retração em janeiro de 2025, sob influência do desempenho negativo do segmento de transportes.
Os dados, divulgados nesta quinta-feira, 13, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indicam queda de 0,2% em relação ao mês anterior, após estabilidade em dezembro. O resultado marca o início do ano com sinal de desaceleração da atividade econômica, em um cenário de política monetária restritiva.
A expectativa do mercado, conforme pesquisa da Reuters, era de um recuo menor, de 0,1%. No comparativo anual, o setor teve alta de 1,6% frente a janeiro de 2024, abaixo da projeção de 1,9%.
Segundo o gerente da pesquisa do IBGE, Rodrigo Lobo, o desempenho negativo está relacionado à base elevada de comparação.
“Após alcançar o ápice de sua série histórica em outubro de 2024, o setor de serviços apresentou duas taxas negativas e uma estabilidade nos últimos três meses. Nesse período, acumulou perda de 1,1%, que pode ser explicada pela alta margem de comparação”, afirmou.
O setor de serviços representa cerca de 70% do Produto Interno Bruto (PIB) do país e encerrou o ano passado com crescimento de 3,7%, conforme dados das contas nacionais.
No entanto, a tendência para 2025 aponta desaceleração, com impacto das condições monetárias mais restritivas. A taxa básica de juros, a Selic, está em 13,25% ao ano, e o Banco Central indicou nova elevação de um ponto percentual ainda neste mês.
A análise de economistas reforça o cenário de acomodação da atividade. “O dado de janeiro reforça a visão de acomodação no ritmo de atividade da economia brasileira. Nota-se uma piora tanto nos serviços mais ligados à demanda, quanto nos serviços mais ligados à oferta, refletindo o menor consumo”, avaliou André Valério, economista sênior do Inter.
O recuo no volume de serviços em janeiro foi impulsionado principalmente pela queda de 1,8% no segmento de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio. As maiores reduções foram observadas nos transportes dutoviário, aéreo, rodoviário coletivo de passageiros, ferroviário de cargas e serviços postais.
“Houve quedas importantes no transporte dutoviário, com perda de receita de empresas relevantes que atuam nesse segmento”, disse Rodrigo Lobo, ao comentar o resultado do setor.
Outros dois grupos apresentaram retração em janeiro: serviços prestados às famílias, com recuo de 2,4%, e serviços profissionais, administrativos e complementares, que caíram 0,5%. No sentido oposto, dois segmentos registraram variação positiva no mês: serviços de informação e comunicação (2,3%) e o grupo classificado como “outros serviços” (2,3%).
A retração parcial observada nos primeiros meses do ano ocorre após um período de crescimento sustentado, mas também reflete o impacto de fatores macroeconômicos. O encarecimento do crédito e a redução do consumo de famílias e empresas têm afetado diretamente setores que dependem da demanda interna.
Embora o setor de serviços tenha sido o principal responsável pela recuperação econômica nos últimos trimestres, o atual patamar de juros elevados limita a expansão. A alta da Selic, adotada como estratégia de controle da inflação, tende a desacelerar os investimentos e o consumo, com efeitos diretos sobre os serviços.
O desempenho do setor em 2025 dependerá da combinação de fatores como o comportamento da taxa de juros, o ritmo de recuperação do mercado de trabalho e a confiança dos consumidores. A expectativa de continuidade da política monetária contracionista reforça a projeção de desaceleração para os próximos meses.
No acumulado dos últimos 12 meses, o volume de serviços apresenta alta de 2,1%, mantendo trajetória de crescimento, embora com ritmo mais moderado em comparação aos meses anteriores.
As próximas divulgações de indicadores econômicos devem confirmar se a tendência observada em janeiro se consolidará ao longo do primeiro trimestre. A evolução do setor será acompanhada de perto por analistas e formuladores de política econômica, em meio às incertezas sobre o impacto das decisões de juros sobre o desempenho dos segmentos mais sensíveis à atividade doméstica.