
Em setembro de 2020, a mãe de um dos servidores recebeu uma mensagem solicitando o endereço do filho sob o pretexto de “fazer uma surpresa”. Poucos dias depois, outro servidor recebeu uma ameaça direta no celular, contendo detalhes pessoais, como o nome da mãe, modelo do carro e endereços vinculados a ele. Esse servidor já havia denunciado irregularidades à Polícia Federal.
Os funcionários atuavam para impedir descontos ilegais na folha de pagamento dos aposentados e buscaram apoio da Polícia Federal em Brasília. Dois inquéritos foram abertos, mas as investigações foram transferidas para a PF no Paraná, onde se originaram as ameaças.
Em depoimento, um dos servidores relatou que, após o encerramento de três acordos e a suspensão de outros dois, o repasse financeiro para as associações afetadas foi interrompido, o que motivou as intimidações. Ele também listou dez entidades que foram descredenciadas entre 2019 e 2020 por práticas suspeitas.
Outro servidor reforçou que as ameaças estariam diretamente ligadas ao trabalho de fiscalização e controle dos descontos ilegais realizados pelas associações.

Curiosamente, um mês após os episódios de ameaça, o então presidente do INSS, Leonardo Rolim, assinou uma portaria transferindo a responsabilidade pela fiscalização dessas entidades para outro setor da instituição.
Esse movimento coincidiu com uma mudança na gestão dos acordos: enquanto entre janeiro de 2019 e outubro de 2020 dez associações foram canceladas e nenhum novo credenciamento ocorreu, no período de outubro de 2020 até abril de 2024, 24 novas entidades foram aprovadas e seis que haviam sido descredenciadas foram reabilitadas.
Segundo dados do Portal da Transparência, os valores descontados por essas novas associações cresceram drasticamente: de R$ 36 milhões em 2020 para R$ 2,4 bilhões em 2024. Somente nos primeiros três meses de 2025, os descontos atingiram R$ 655 milhões, totalizando R$ 4,3 bilhões repassados a essas entidades.
Apesar das denúncias e ameaças, os inquéritos da Polícia Federal foram arquivados após três anos sem identificar os responsáveis. A PF também não investigou representantes das associações, nem realizou diligências no INSS ou nas entidades suspeitas.
O inquérito que resultou na Operação Sem Desconto, que revelou várias irregularidades nessas associações, só foi instaurado em abril de 2024, depois que o caso ganhou repercussão na imprensa.
Leonardo Rolim, ex-presidente do INSS, afirmou que a mudança nas diretorias responsáveis pelos contratos ocorreu como parte de uma reestruturação do instituto. Ele destacou ainda que deixou o cargo em 2022 e desconhece o andamento dos contratos após sua saída.
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