do IPB – Instituto Piano Brasileiro
Senzala, de José Siqueira, pérola do acervo de Frank Acker
Olá, amigos! Continuando a saga das fitas de Frank Justo Acker – o glorioso engenheiro de som brasileiro que deixou mais de 1.400 preciosas fitas-rolo com pérolas inéditas da música brasileira, hoje estamos trazendo uma revelação importante.
Trata-se da música Senzala, de José Siqueira, composta em 1941 em homenagem aos 70 anos da Lei do Ventre Livre, e que NÃO EXISTIA EM GRAVAÇÃO! Como é possível uma coisa dessas? Quando ouvirem a música, entenderão o meu espanto.
Essa música tem tudo para figurar no repertório mainstream de todas as orquestras do mundo. Ela é uma espécie de “Bolero de Ravel brasileiro” pela maneira como a obra é estruturada sobre uma base rítmica marcada pela caixa, e que vai crescendo em instrumentação e em intensidade até o final.
Aqui, José Siqueira rege a Orquestra Sinfônica da Filarmônica de Kharkov [Kharkiv/Carcóvia], na Ucrânia. Ele estava em turnê a convite do governo soviético, como presidente da União dos Músicos do. Brasil, e regeu em cidades da Ucrânia. Não temos a data exata deste concerto, mas estimamos que tenha ocorrido em outubro de 1973.
Nas falas introdutórias, em russo, é dito o seguinte:
“A criação do professor José Siqueira baseia-se em melodias de origem africana e indígena — dois troncos formadores da nação brasileira contemporânea. O maestro apresenta sua obra escrita sobre temas de matriz africana: Senzala. A senzala era um pequeno casebre coberto de palha (trançada de cana), habitação típica das pessoas negras escravizadas. A peça é permeada por ritmos tradicionais afro-brasileiros.
À medida que o som cresce e desemboca em pulsos próximos ao bolero, o autor evoca o início da luta libertadora dessas comunidades. No final, irrompem ritmos de libertação. A obra foi composta em comemoração aos 70 anos da abolição da escravidão no Brasil. Com Senzala, sobe ao palco a Orquestra Sinfônica, sob a batuta do próprio autor e regente, José Siqueira, convidado especial vindo do Brasil.”
A música começa em 1:44.
Boa audição! Que orgulho desse maestro paraibano.