A jornalista Heloísa Villela alertou, nesta quinta-feira (26), que o tom dos discursos durante a votação relâmpago que derrubou o decreto do governo Lula sobre o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) lembrou, de forma perturbadora, o clima político que antecedeu o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff, em 2016.
“Hoje eu tô [sic] nervosa. Eu senti um eco de golpe dentro daquele Congresso ontem. Gente, vocês me desculpem, eu tenho que desabafar. Eu vi um eco da cena do impeachment da presidente Dilma. E não fui só eu. Teve assessor de político me falando a mesma coisa. O clima tá muito estranho”, disse Heloisa durante o programa ICL Notícias.
Embora tenha enfatizado que sua avaliação não se trata de informação jornalística, Heloísa defendeu a legitimidade de percepções políticas baseadas na experiência. “A gente não pode desprezar as intuições que a gente tem quando a gente vê certas cenas, trazendo a bagagem da análise política”.
Congresso vai pra cima
A fala ocorre em meio à intensificação da crise entre o Executivo e o Congresso Nacional, após a Câmara dos Deputados, sob liderança de Hugo Motta (Republicanos-PB), convocar uma votação relâmpago para revogar um decreto presidencial que elevava as alíquotas do IOF. A Câmara e o Senado aprovaram a derrubada do aumento do IOF nesta quarta-feira.
A medida visava combater a evasão de impostos por parte dos mais ricos e contribuir para o equilíbrio das contas públicas. A estimativa de perda de arrecadação com a revogação é de R$ 10 bilhões.
Para Heloisa, “está colocada a luta de classes na política brasileira. Existe uma maioria no Congresso que representa a ínfima minoria da economia brasileira. E existe uma maioria da população brasileira que precisa ser informada de que é isso que está acontecendo”.
Diante desse cenário, ela defendeu que o presidente Lula utilize, urgentemente, os canais oficiais de comunicação para esclarecer os rumos da disputa política em curso. “Presidente Lula devia usar rede de rádio e TV, explicar qual é a luta que está sendo travada, chamar a sociedade para participar dessa discussão e assumir as rédeas do seu destino”.
Complementando o diagnóstico, o jornalista Luis Nassif aponta neste artigo que a intenção de Motta é colocar o governo em uma sinuca, paralisar o orçamento e promover agitações nos mercados. Tudo isso tendo em vista 2026.
“A decisão do presidente da Câmara Hugo Motta, de colocar em votação o PDL do IOF, sem sequer alertar o governo, é o dia D do golpe parlamentar. Não se trata mais de um jogo de perde-ganha, de toma-lá-dá-cá, no qual o Congresso mostra suas armas e chama o Executivo para conversar. Se não é isso, o que resta?”.
O programa TVGGN 20 Horas desta quarta-feira recebeu o cientista político Thiago Trindade, professor do Instituto de Ciência Política da UnB e coordenador do Observatório das Metrópoles em Brasília, para debater o tema. Confira aqui.
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