Boa parte do Brasil começou a viver, nesta quarta-feira 12, uma onda de calor que deve levar cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte a picos de temperatura em 2025. A previsão é que esse calor intenso dure pelo menos até 21 de fevereiro.
Em algumas regiões de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Piauí e Pernambuco, os termômetros devem ultrapassar os 40°C. As temperaturas máximas elevadas constituem “uma característica típica do verão”, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (InMet).
Nessa toada, passaram a circular nas redes sociais projeções de que algumas áreas do país poderiam chegar a uma sensação térmica de 70°C. Caso se confirmasse, isso seria um recorde absoluto no Brasil. A informação repercutiu tanto nas redes quanto em alguns veículos de imprensa.
A projeção se baseia em uma tabela do Grupo de Climatologia Aplicada ao Meio Ambiente da Escola de Engenharia de São Carlos da USP, que cruza temperatura e umidade relativa do ar para estimar a sensação térmica. Segundo esse documento, por exemplo, se em determinado local a temperatura chegar a 40°C com 90% de umidade, a sensação poderia ultrapassar 70°C – o que, de fato, seria praticamente insuportável para o corpo humano.
Entretanto, essa interpretação não significa que o país enfrentará, necessariamente, uma sensação térmica de 70°C nos próximos dias. A tabela é um estudo genérico, que não projeta cenários reais imediatos e não deve ser encarada como previsão oficial para a atual onda de calor.
Para Paulo Artaxo, coordenador do Centro de Estudos Amazônia Sustentável da USP e professor de Física Atmosférica na mesma instituição, a projeção não se sustenta. “O que existe é um aumento da sensação de calor com uma maior umidade relativa do ar”, afirma ele.
O quadro, contudo, que exige cuidados. “As pessoas têm que tomar muita água nesse período de onda de calor, mais do que nos períodos normais. Além de evitar exposição direta ao sol e procurar ficar em ambientes bem ventilados”, recomenda.
Segundo o professor, a desidratação é uma das principais razões para o aumento da mortalidade em ondas de calor. “A forma como nosso organismo regula a temperatura interna é via suor. A evaporação da água eliminada pelo suor ajuda a esfriar o corpo. 40°C com 20% de umidade é tolerável; 40°C com 80% de umidade é insuportável”, explica.
A Organização Meteorológica Mundial define “onda de calor” como um evento extremo em que as temperaturas máximas ficam 5°C acima da média mensal por, no mínimo, cinco dias consecutivos.
No verão, a sensação de calor costuma ser ainda maior porque essa estação combina altas temperaturas com maior umidade relativa do ar. Some-se a isso o fato de que as mudanças climáticas têm impulsionado fenômenos extremos. No início do ano passado, por exemplo, o Rio de Janeiro registrou uma sensação térmica de 62,3°C, algo que já foge bastante do normal.
Em resumo, apesar das projeções divulgadas em redes sociais, não há qualquer consenso entre especialistas de que a sensação térmica alcance efetivamente os 70°C no Brasil nos próximos dias. O calor será intenso, mas é fundamental compreender que as tabelas de sensação térmica servem apenas como referência, não como previsão exata do que realmente vai acontecer.