Em entrevista concedida na manhã desta quarta-feira, 30, ao UOL News – 1ª Edição, o senador Rogério Carvalho (PT/SE), líder do Partido dos Trabalhadores no Senado Federal, comentou os bastidores e desdobramentos da missão oficial de parlamentares brasileiros a Washington, nos Estados Unidos. A principal pauta foi o chamado “tarifaço” imposto pelo governo de Donald Trump sobre produtos brasileiros — medida considerada injusta e politicamente motivada.

Ao longo da conversa, Carvalho fez um balanço da viagem, abordou os impactos econômicos da medida e reforçou a necessidade de manter a soberania brasileira e o diálogo estratégico com os Estados Unidos. “Não é racional, é ideológico”, disse Rogério sobre o tarifaço de Trump.

Para o parlamentar, a missão foi fundamental para compreender que as medidas adotadas pelo atual governo norte-americano extrapolam a lógica comercial. “Foi muito positiva, porque passamos a compreender melhor quais são as motivações do atual governo dos Estados Unidos — de Donald Trump — por trás desse tarifaço. Não se trata de uma questão comercial”, afirmou.

Segundo ele, essa leitura foi unânime entre parlamentares e representantes institucionais norte-americanos com quem a comitiva dialogou. “Todos consideram uma ação sem explicação lógica. Não é racional. Vários usaram essa mesma expressão: ‘não é racional’”, completou.

Carvalho destacou que o Brasil, na verdade, deveria ser valorizado como parceiro estratégico. “Somos um país que tem déficit na balança comercial com eles. Isso deveria ser vantajoso para os Estados Unidos. Disseram também que não é correto usar tarifas como arma política para punir países, interferindo diretamente na sua soberania”, pontuou.

Soberania do Brasil e reposicionamento estratégico

Ainda durante a entrevista, Carvalho explicou que o tarifaço faz parte de uma estratégia maior do trumpismo para reposicionar os Estados Unidos como polo central e dominante nas relações internacionais. “O que está em jogo é o reposicionamento estratégico que o governo Trump quer impor aos EUA — uma tentativa de reeditar a lógica de que o país está no centro e quem não estiver totalmente alinhado está contra”, avaliou.

De acordo com ele, essa lógica fere os avanços diplomáticos construídos nas últimas décadas. “Depois de mais de 40 anos de globalização, de construção de um mundo multipolar baseado em comércio, desenvolvimento, integração econômica e até monetária, o governo atual quer jogar tudo isso fora para restabelecer uma hegemonia americana”, revelou.

“Ficou muito claro: isso não tem nada a ver com comércio. Tem a ver com posição política”, acrescentou.

Caminhos para o diálogo e solução diplomática

Apesar do cenário adverso, Carvalho destacou que há caminhos possíveis para reverter parte das tarifas, com base no impacto que elas podem ter sobre o consumidor norte-americano. “O senador Christopher colocou com clareza que o caminho para o Brasil não é Washington, e sim Nova York. Ou seja, buscar os governadores dos estados que importam produtos brasileiros”, comentou.

Por essa razão, o líder do PT ressaltou que há expectativa de revisão das sobretaxas nos próximos meses. “Ele, e também um senador republicano, afirmaram que, com o tempo, as tarifas devem cair para patamares de 10%, 15%, até chegar a zero — conforme o impacto na opinião pública americana”, detalhou.

Além dos parlamentares, Carvalho explicou que a comitiva dialogou com agências de pesquisa, representantes empresariais e a Embaixada do Brasil. “Não falamos apenas com parlamentares — falamos com representantes de vários setores. Todos com quem conversamos disseram que a maior pressão virá do próprio consumidor americano”, complementou.

“Precisamos, portanto, de paciência e de preservar nossa soberania. Essa, para mim, é a lição mais importante dessa missão. Os ataques virão — e serão fortes”, concluiu.

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Last Update: 30/07/2025