Seminário destaca a parceria entre Brasil e China na produção de tecnologia agrícola

Exposição de máquinas da parceria Brasil-China na Feira Nacional. Foto:

Por Flora Villela/Equipe de texto da 5ª Feira da Reforma Agrária
Da Página do MST

Que projeto de desenvolvimento tecnológico queremos para construir uma cooperação entre os povos do Sul e do Norte? Queremos avançar na construção de um entendimento comum sobre a soberania digital dentro do campo popular”, pontua por Carol Cruz, da frente de TI do MST.

A reflexão foi central nos debates do Seminário “Agricultura Digital Familiar e Camponesa na Cooperação Brasil-China”. O espaço aconteceu nesta sexta-feira (9), como parte das trocas e debates da 5ª Feira Nacional da Reforma Agrária, no Parque da Água Branca, em São Paulo.

Essa parceria, feita a muitas mãos, nos dá uma perspectiva, uma esperança de avançarmos em temas e desafios importantes, que nós temos na agricultura e na construção da Reforma Agrária no Brasil”, ressaltou Diego Moreira, da Coordenação nacional do setor de produção do MST. 

Foto: André Gouveia

O evento ressaltou a parceria entre o MST, a UNB e a China na transferência e adaptação de tecnologias para a agricultura familiar e agroecológica. E contou com a participação de Diego Moreira do MST, Daniel Buzon, gestor no Ministério de Ciência e Tecnologia da Informação e Tita Moreno, militante da Marcha Mundial de Mulheres (MMC) e pesquisadora da Baobab, no escritório da China.

Recentemente uma delegação de parlamentares ligados ao Movimento esteve na China para conhecer o projeto das novas forças produtivas desenvolvidas no país. Participante da delegação, a deputada estadual pelo PT do Rio de Janeiro, Marina do MST, também presente no seminário, destacou como a experiência abriu novos horizontes. 

Marina do MST. Foto: André Gouveia

“Foi muito enriquecedor para todos nós que estivemos lá. E eu digo sempre, cheguei na China desesperançada com a humanidade, por tudo que temos vivido no Brasil e na América Latina, e voltei com esperança de que é possível”, disse a parlamentar.

O Seminário é parte de um esforço de construção da cooperação Brasil-China, no desenvolvimento e adaptação à realidade Brasileira de tecnologias que possibilitem o avanço na produção agrícola, como explica o coordenador do setor de produção.

“Podemos enfrentar alguns desafios na Reforma Agrária Popular e na agricultura familiar brasileira, à luz dessa parceria com a China, trilhando um caminho de desenvolvimento: a emergência da fome e a emergência climática. E nós sabemos a causa disso, esse modelo hegemônico de agricultura, que em nome do capital e do lucro, nós impõe viver em condições subumanas”.

Fotos: André Gouveia

Soberania digital e autonomia nas tecnologias de produção

Para Carol Cruz, a iniciativa visa também escapar da dependência digital de empresas estadunidenses, possibilitando ao Brasil seu próprio desenvolvimento e a gestão soberana de seus dados.

“vivemos em um tempo em que as tecnologias de informação e comunicação ocupam um lugar cada vez mais central nas diversas dimensões da nossa vida. E infelizmente essas tecnologias estão sob o controle de um número muito restrito de empresas que tem avançado sobre os dados dos nossos territórios, dos nossos povos e da natureza”, destacou a militante em sua fala inicial. 

No âmbito da mecanização e insumos agrícolas, embora o Brasil seja grande produtor desse tipo de tecnologia, esse acúmulo nunca esteve acessível à agricultura camponesa, sendo monopolizada pelo agronegócio. Outro problema enfrentado pelas famílias camponesas, que ocupam a terra é a falta de insumos sustentáveis que resgatem os solos já muito degradados pelo modelo de produção tradicional. 

“Nós da Reforma Agrária herdamos solos degradados. É por isso que estamos buscando essa parceria em relação aos bioinsumos, devolver a fertilidade dos nutrientes, a riqueza do nosso solo, para aumentar a produtividade de alimentos cada vez mais saudáveis do ponto de vista do seu manejo”, disse Carol.

Agora, com a parceria em curso, segundo Tica, esse espaço de diálogo se mostra ainda mais importante: “esse tema das transformações digitais e do desenvolvimento de tecnologias digitais para agricultura familiar, tem a ver com os desafios e projetos estratégicos que o MST está construindo na luta pela Reforma Agrária Popular. Temos essa oportunidade histórica, a partir das plataformas de intercâmbio e cooperação que estamos construído com a China, o que coloca para as organizações populares aqui no Brasil, um desafio gigante”.

Entenda a parceria 

A cooperação se estrutura em três frentes: a adaptação de maquinário agrícola voltado à agricultura familiar e camponesa aos contextos e biomas Brasileiros e construção de fábricas dessas máquinas em território nacional; a transferência de tecnologias de produção de bioinsumos sustentáveis; e a implementação de um centro Brasil – China com um sistema de processamento de dados, ligado ao sistema da Sinomaq digital – uma empresa estatal Chinesa – para a agroecologia familiar digital.

Diego Moreira, coordenação do setor de produção do MST. Foto: André Gouveia

Não estamos falando de importação de máquinas, sejam elas chinesas, italianas ou alemãs, estamos falando de transferência de tecnologia. Nós queremos que o MCTI incorpore o projeto que estamos debatendo na nova indústria Brasil”, destaca Moreira. 

Assim, a parceria se estrutura em torno da transferência de tecnologia, possibilitando ao Brasil e ao MST se tornar co-produtores de conhecimento científico e desenvolvimento adaptado a nossa realidade da agricultura familiar e camponesa. Outro fator de suma importância ao firmar essa parceria foi a soberania sobre os dados produzidos em nossos territórios, como destacou Tica em sua fala final. 

“Quando começamos a proposta de instalação de uma plataforma desse sistema de big data aqui no Brasil, a primeira coisa foi a garantia de que estamos orientados por uma noção de soberania digital. O que significa, como ponto de partida, que os dados são nossos, os servidores estão aqui, não tem transferência internacional dos nossos dados”, destacou a pesquisadora. 

Para ela essa condição diferencia a parceria da dependência de plataformas estadunidenses, uma vez que, por ser construída com empresas estatais, ela se volta à soberania popular. 

“É muito impactante, porque ao mesmo tempo em que parece que a tecnologia é muito similar, com o que a gente ouve, vê e conhece do agronegócio, é uma tecnologia, como vocês viram, vinculada com a política de Estado”, disse ela.

*Editado por Solange Engelmann

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