Os resultados recentes, por vezes surpreendentes, tanto aqui quanto nas decisões dos campeonatos europeus, têm chamado atenção. No Brasil, por exemplo, o 5 a zero do Flamengo sobre o Fortaleza pode ser explicado, em parte, pelo momento vivido pelos dois clubes.

O Flamengo atravessa boa fase, enquanto o “Leão” cearense foi pego em meio a uma crise que ganhou os noticiários durante a semana. Difícil entender a distância, já que parecia um time organizado, dentro e fora de campo.

Mas a turbulência se confirmou: houve mudança na direção do futebol, com o retorno de um supervisor que teve passagem pelo clube – mas que, pelo menos na chegada, cometeu um deslize. Logo de cara, ele falou que o grupo precisava de novas “peças”, tratando nomes como se fossem simples “mercadorias de troca”.

Como se não bastasse, ainda soltou que era necessário “tirar as frutas podres” que contaminam o grupo. Pesado. Tudo indica que há encrenca política nos bastidores. Uma pena, porque esse desvio de rota acontece justamente quando o time dava sinais de estar subindo de patamar no nosso futebol. Torço para que tenha sido só um tropeço.

Outro resultado que chamou atenção foi a goleada do Paris Saint-Germain sobre a Inter de Milão, também por 5 a zero. A conquista da equipe francesa é fruto de anos de trabalho e de uma constante correção de rumos.

O clube, primeiro, apostou alto em grandes estrelas. Mesmo assim, o time seguia batendo na trave. Foi só quando colocaram os pés no chão e encontraram um equilíbrio entre craques e operários que o objetivo maior – vencer a ­Champions League – ficou mais próximo.

Aliás, a própria Inter já foi tão poderosa que, mesmo com Ronaldo (o Fenômeno) no auge, não hesitou em negociá-lo, desde que os valores econômicos fossem respeitados. Isso é profissionalismo.

Fica a reflexão: por que o centro de valorização do futebol saiu da Itália e foi parar na Inglaterra? Hoje, a Premier ­League é o campeonato mais cobiçado do mundo. No meio disso tudo, a Espanha segue estável, sempre presente nas grandes decisões.

Desta vez, a França conquistou o topo, com o técnico Luis Enrique – espanhol, por sinal – sendo reconhecido pela liderança do elenco. Trata-se de um treinador obcecado pelo trabalho coletivo e claramente mais preocupado com o campo do que com os holofotes.

Vale lembrar que a França, não faz muito tempo, levou a Copa do Mundo em cima da nossa Seleção. Agora, é bom prestar atenção no Mundial de Clubes que está por começar, com a promessa de reunir os melhores do planeta. Um torneio que, talvez, vá além da disputa entre seleções, hoje bastante descaracterizada.

E onde entra o Brasil nisso tudo? Por muito tempo fomos chamados de “o país do futebol”. Mas faz tempo que não vencemos um título global, seja com clubes, seja com seleções. Parte disso decorre da nossa instabilidade organizacional.

O exemplo do Santos F.C. é simbólico. O clube, que vive hoje um momento delicado, tem uma história gloriosa, tendo sido não somente o berço de grandes craques, mas também um lugar marcado por uma base forte, que sempre permitiu renovações.

E aí tem o Neymar. Nosso principal jogador hoje parece ser visto como maior que o próprio clube que o revelou. Uma contradição? Sim, mas, por enquanto, é a realidade.

No meio desse caldeirão, o calendário segue sendo um problema. Um caso curioso é o do equatoriano Gonzalo ­Plata, do Flamengo. Lesionado, virou motivo de disputa entre o clube e a seleção do Equador, já que ambos contam com ele para compromissos importantes.

O atleta começou a recuperação com o Flamengo, mas logo chegou o momento da convocação. Agora, os dois lados desconfiam um do outro na luta por um jogador de talento.

Para fechar: começou a era Ancelotti na Seleção. O técnico italiano deve estar atordoado com o tamanho da repercussão de sua chegada ao nosso país tropical. E a estreia já veio com uma bela história: a convocação do zagueiro Alexsandro Ribeiro, nascido na Comunidade do Dique, em Duque de Caxias, e atleta do Lille, da França. •

Publicado na edição n° 1365 de CartaCapital, em 11 de junho de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Semana do 5 a zero’

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Last Update: 05/06/2025