Em decisão unânime, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou nesta quarta-feira (7) a Selic em 0,5 ponto percentual, levando-a para 14,75% ao ano — maior patamar em duas décadas, desde 2006. É a sexta alta consecutiva. Seu impacto sobre a economia real é significativo e preocupante. 

A decisão já era esperada pelo mercado financeiro. O novo patamar reforça o ciclo de aperto monetário mais intenso da história recente, iniciado com o objetivo declarado de conter a inflação em meio a diversas pressões internas e externas. 

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Justificativa do BC

Segundo o comunicado do Copom, o momento ainda é de “muita incerteza”, pois a inflação deve continuar elevada até o fim do ano, fechando 2025 em 5,53% — acima da meta de 4,5%. 

Diante desse cenário, o Banco Central continua apostando na elevação da Selic como remédio, mesmo que o país já esteja sentindo os efeitos negativos dessa política. Juros altos freiam a economia, diminuem o consumo das famílias, travam os investimentos das empresas e reduzem a geração de empregos.

Segundo o documento, entre os fatores de pressão está também o patamar das taxas de juros nos Estados Unidos, que influencia o câmbio e os fluxos financeiros globais. O Copom ainda cita que o mercado de trabalho local está aquecido e os preços dos serviços continuam subindo, o que justifica manter a taxa básica nesse nível. 

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“Fardo pesado”

A decisão do Copom foi duramente criticada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). A entidade adverte que a medida impõe “um fardo ainda mais pesado à economia, com consequências negativas para o emprego, a renda e o bem-estar da população”. Para o presidente Ricardo Alban, a conjuntura atual exigia mais prudência.

“Embora o controle da inflação seja o objetivo primordial do Banco Central, a elevação da Selic traz riscos significativos à economia, que está em processo de desaceleração mais acentuado do que esperávamos no final de 2024”.

De acordo com a CNI, a elevação dos juros ocorre em um contexto de revisão para baixo das expectativas de crescimento. A entidade projeta que o Produto Interno Bruto (PIB) deverá subir 2,3% em 2025, uma queda de 1,1 ponto percentual em relação ao ano passado. Para o setor industrial, a expansão prevista é de apenas 2%, bem abaixo dos 3,3% registrados em 2024. “Caso a estimativa se concretize, isso representaria o menor crescimento da economia nos últimos cinco anos e está diretamente relacionado à política monetária contracionista”, alertou Alban.

A entidade também observa que a política de juros elevados desestimula o investimento produtivo, encarece o crédito e aumenta o custo da dívida pública, dificultando ainda mais o crescimento econômico. E ressalta que diversos fatores recentes – como a retração fiscal, valorização do real, queda dos preços internacionais do petróleo e desaceleração da inflação – já apontavam para um cenário mais favorável ao controle dos preços, tornando, na visão da indústria, injustificável a nova alta neste momento.

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Futuro incerto

Com a nova alta definida pelo Banco Central, o Brasil passa a ter uma taxa de juros real de 8,65% ao ano — a terceira maior do mundo, atrás apenas da Turquia (10,47%) e da Rússia (9,17%). No nível em que está, a Selic desacelera a economia justamente quando o país mais precisa tornar o crédito mais acessível, estimular a produção e impulsionar a geração de empregos. Os impactos desse aperto monetário atingem com mais força os trabalhadores, que enfrentam maior dificuldade para manter o consumo básico, aprofundando as desigualdades sociais.

O ciclo de elevação da taxa básica, iniciado em setembro de 2024, segue sem sinais claros de encerramento. Segundo o Copom, “o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”.

No entanto, os efeitos já são evidentes: de acordo com estudo do próprio BC, cada ponto percentual de alta nos juros pode reduzir o PIB em até 0,3 ponto percentual em um ano. Além disso, o custo da dívida pública — que ultrapassou R$ 7,5 trilhões — pode alcançar até R$ 1 trilhão em juros em 12 meses.

O risco é que o país esteja pagando caro demais por esse excesso de zelo.

Da Redação

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Last Update: 07/05/2025