O Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou, na última quarta-feira (13), a taxa Selic em 1 ponto percentual, para 12,25% ao ano, decisão que surpreendeu até mesmo o mercado financeiro.
A expectativa era a de que a elevação fosse de 0,75 ponto, mas sob a justificativa da recente alta do dólar e das incertezas em torno da inflação e da economia global, o Copom aumentou a taxa básica de juros e prometeu repetir o feito nas próximas duas reuniões, de acordo com o cenário internacional e nacional.
Mas, para o professor de economia da PUC-SP, a decisão do comitê do Banco Central (BC) não passa de uma “picaretagem política generalizada”, voltada para interesses do mercado financeiro e de gigantes mundiais, como a BlackRock e o JP Morgan.
A primeira coisa para entender é o seguinte, quem é que faz aplicação financeira? Aqui chamam de investimento, mas é aplicação financeira. Investimento é quando você produz alguma coisa que aumenta o estoque de capital. Aqui são aplicações financeiras, mas na realidade é especulação.
Dowbor chama a atenção para o fato de que 75% das famílias brasileiras não fazem aplicações porque mal conseguem “fechar o mês” com a renda que recebem.
Na realidade, nós temos 79% das famílias que estão endividadas, ou seja, parte do que elas têm estão transformando para pagar juros em vez de dinamizar a economia comprando coisas.
Além de atender aos interesses de 1% da população mais rica do país, a alta de 1% da Selic não faz jus à realidade econômica do país, que teve 0,9% de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, mas sim um processo de apropriação dos tributos pagos pela população.
O segundo ponto muito importante de entender é o seguinte, esse estoque da dívida de mais de R$ 7 trilhões, não é que o Estado construiu universidades, fez coisas úteis e se endividou para isso. Não, são esses bancos, esses grupos financeiros, eles vão comprando títulos do governo financiado pela Selic e a Selic dá os juros para eles e eles reaplicam esses juros, o que vai aumentando a dívida e aumentando o volume de dinheiro dos nossos impostos transferidos para esses grupos.
Ciclo
A decisão do Copom responde, então, a um ciclo vicioso. Eles sobem a Selic, aumentam os juros, elevam a dívida pública e mais dinheiro de imposto é transferido para os mais ricos.
Outra consequência do aumento da Selic é o agravamento do processo de industrialização do país, uma vez que, ao observar que as famílias estão endividadas e, consequentemente consomem menos, o capital que investiriam em fábricas para produzir bens é direcionado em títulos da dívida pública. Assim, além de garantir um retorno, o investimento não tem grandes riscos se comparado à complexidade de gerir uma indústria.
É muito mais interessante fazer aplicação financeira do que fazer investimento produtivo, o que reorienta toda a economia para a especulação financeira e explica a desindustrialização e a fragilização da economia.
Ladislau Dowbor acrescenta ainda que o aumento da Selic em 1 ponto percentual custa ao país R$ 70 bilhões em juros da dívida pública, montante que representa quase metade do que é gasto com o programa Bolsa Família (R$ 170 bilhões).
Isso, para mim, é apropriação indébita. Para os muito ricos, a gente não fala em roubo, a gente fala em apropriação indébita mais elegante, certo? Mas quando você ganha dinheiro sem fazer a contrapartida correspondente e produtiva para a sociedade, isso é simplesmente desonesto ou sem vergonha.
Alternativas
Para romper o ciclo vicioso, Dowbor sugere que o governo invista mais dinheiro na base da sociedade. Botar dinheiro para esses grupos financeiros especulativos é um dreno. Quando você coloca dinheiro para a base da sociedade, seja através do SUS, seja através do sistema de educação, seja Bolsa Família, seja o salário mínimo, seja qual for o subsistema, digamos, o dinheiro vai na base da sociedade, em uma economia que está em situação de subutilização da sua capacidade produtiva, você está dinamizando o conjunto da máquina. Esse é essencial.