O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central inicia nesta terça-feira (6) mais uma reunião decisiva. A expectativa é de que a taxa Selic seja elevada para 14,75% ao ano, o maior patamar desde 2006 . Essa política de juros altos tem gerado críticas devido aos impactos negativos sobre a economia real, especialmente para os trabalhadores de baixa renda.
Iniciado com o ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, o ciclo de alta da Selic continua sob o comando de Gabriel Galípolo. E vem desencadeando uma série de efeitos colaterais na economia brasileira, impactando diversos setores e, principalmente, os trabalhadores de baixa renda.
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Desaceleração econômica e desemprego
O aumento da taxa Selic para 14,75% ao ano tem como objetivo declarado a contenção da inflação, no entanto afeta negativamente o país em diversos aspectos.
Com o crédito mais caro, o consumo das famílias e os investimentos das empresas diminuem, levando à redução da produção e, consequentemente, ao crescimento mais lento do PIB. De acordo com estudo do Banco Central de 2023, cada 1 ponto percentual de aumento da Selic pode reduzir o crescimento do PIB em até 0,3 ponto percentual ao longo de 12 meses.
Essa desaceleração atinge diretamente o mercado de trabalho. Com menor demanda por produtos e serviços, as empresas tendem a frear contratações ou até mesmo demitir funcionários.
A taxa básica elevada também pressiona o custo da dívida pública, que ultrapassou R$ 7,5 trilhões em março. Os juros pagos pelo governo podem atingir a astronômica soma de R$ 1 trilhão no acumulado de 12 meses, conforme projeções recentes.
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Impacto nos trabalhadores
Os trabalhadores de baixa renda são os mais afetados por esse cenário. Com menor acesso a crédito e maior vulnerabilidade às oscilações econômicas, enfrentam maiores dificuldades para manter o consumo básico. Além disso, a inflação de alimentos, que pesa mais para os mais pobres, é muitas vezes causada por fatores externos, como clima e oferta, o que não é resolvido com o aumento da taxa de juros.
A economista Clara Brenck, da UFMG e do Made-USP, chama atenção para o caráter regressivo da atual política monetária. “Esse tipo de política desacelera a economia, encarece o crédito e aumenta o desemprego, afetando principalmente a população de baixa renda”, analisa. Ela acredita, entretanto, que o ciclo de altas esteja se aproximando do fim. “A expectativa é que esse aumento agora seja o último ou penúltimo”.
Clara também ressalta quem mais sofre com o desemprego gerado pelos juros altos: “Quem perde o emprego são geralmente os trabalhadores de menor salário”, afirmou. Sua análise reforça a percepção de que os custos da política atual são socialmente desiguais, penalizando quem já está em situação de fragilidade.
O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, criticou igualmente a trajetória da Selic, afirmando que é necessário reverter essa política “o mais rápido possível”. Ele observou que, embora tenha havido aumento nas aprovações de crédito pelo banco no primeiro trimestre de 2025, a consulta para novos projetos já “desacelerou um pouco”, refletindo o ambiente de incerteza.
O líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (CE), cobrou em suas redes sociais uma revisão na política do Banco Central. Segundo ele, dólar e petróleo em queda, somados à safra e economia em alta, “são fatores que apontam para queda da inflação e provável redução dos juros”.
Nesta semana, o Copom vai se reunir para definir a taxa de juros. Com o Dólar caindo aqui e em todo o mundo, queda mundial do preço petróleo, dos fertilizantes, safra recorde entrando nos supermercados, os dados da economia, do emprego e da renda cada vez melhores, são fatores…
— José Guimarães (@guimaraes13PT) May 5, 2025
Protestos
Nesta terça-feira (6), centrais sindicais como CUT, Força Sindical, UGT e CTB realizam protestos em São Paulo contra a alta dos juros. Seus líderes expressam frustração com a condução da política monetária e cobram mudanças que priorizem o emprego e o crescimento econômico.
A manutenção de juros elevados tem beneficiado o mercado financeiro e os rentistas, enquanto impõe custos significativos à economia real — especialmente para os mais vulneráveis. A discussão sobre a política monetária do país continua, com vozes importantes pedindo uma revisão que leve em conta os impactos sociais e econômicos mais amplos.
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Da Redação