As eleições presidenciais de 2026 no Brasil prometem transcender o debate nacional. De um lado estará o atual presidente Lula, representante da esquerda ideologicamente alinhada aos BRICS; do outro, um candidato da direita bolsonarista, provavelmente indicado pelo ex-presidente e alinhado à agenda de Donald Trump. O pleito refletirá um embate entre dois projetos geopolíticos distintos, num cenário em que o Brasil se torna peça-chave na nova ordem internacional.

Segundo a pesquisa Atlas/Bloomberg divulgada em maio de 2025, o presidente Lula tem 45,5% de aprovação e 53,7% de desaprovação após 881 dias de mandato (iniciado em 1º de janeiro de 2023). Já Donald Trump, nos Estados Unidos, aparece com 44,5% de aprovação e 54,5% de desaprovação após apenas 131 dias no cargo (desde 20 de janeiro de 2025), de acordo com a mesma metodologia aplicada nos dois países. Mas há uma diferença fundamental: enquanto Trump encara turbulência econômica e a perspectiva de recessão agravada por sua guerra tarifária, o Brasil vive um momento de estabilidade com indicadores sólidos.

O PIB brasileiro cresceu 1,4% no primeiro trimestre de 2025 em relação ao trimestre anterior. Na comparação anual, o crescimento foi de 2,9%. O desempenho foi puxado pela agropecuária, que saltou 12,2% no trimestre. O setor de serviços cresceu 0,3% no trimestre e 2,1% no ano. Já a indústria, apesar de estável em relação ao trimestre anterior (-0,1%), teve avanço de 2,4% frente ao mesmo período de 2024, com destaque para a construção civil (3,4%) e a indústria de transformação (2,8%).

Outro dado importante é o crescimento de 9,1% nos investimentos (formação bruta de capital fixo) no primeiro trimestre frente ao mesmo período de 2024. A taxa de investimento chegou a 17,8% do PIB.

No campo social, os programas federais também apresentaram resultados expressivos. De janeiro a abril de 2025, os pagamentos do Benefício de Prestação Continuada (BPC) somaram R$ 41,8 bilhões, acima dos R$ 39,7 bilhões pagos no mesmo período de 2024.

O mercado de trabalho também apresenta resultados positivos. A taxa de desocupação caiu para 6,6% no trimestre encerrado em abril de 2025, representando queda de 1,0 ponto percentual em relação ao mesmo período do ano anterior. O contingente de trabalhadores com carteira assinada no setor privado atingiu o recorde histórico de 39,6 milhões de pessoas, um crescimento de 3,8% em doze meses. A massa de rendimento real habitual alcançou R$ 349,4 bilhões, outro recorde que reflete a melhoria gradual no poder de compra dos brasileiros.

Entre os setores que mais geraram empregos no primeiro trimestre, destacam-se a Indústria Geral (mais 471 mil pessoas, alta de 3,6%), Comércio (mais 696 mil pessoas, alta de 3,7%) e Transporte (mais 257 mil pessoas, alta de 4,5%), na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior. O setor público também contribuiu significativamente, com aumento de 4,0% (mais 731 mil pessoas) em Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais.

Nas contas públicas, os dados da Receita Federal mostram uma evolução positiva. O resultado primário registrou em abril de 2025 um superávit de R$ 17,78 bilhões, representando um aumento de 12,3% em relação ao mesmo mês de 2024 e uma melhora de 8,5% em comparação a março de 2025. Os números indicam que o Brasil caminha para um superávit nas contas públicas, equilibrando responsabilidade fiscal e investimentos sociais.

Um dos aspectos mais intrigantes da pesquisa Atlas/Bloomberg é o padrão de aprovação de Lula por faixa de renda. Contrariando expectativas históricas e possivelmente refletindo algum ruído estatístico da pesquisa, sua popularidade aparentemente aumenta conforme sobe a renda: 39,4% entre os mais pobres (renda de R$0 a R$2.000); 39,1% na faixa intermediária baixa (R$2.000 a R$3.000); 50% na classe média (R$3.000 e R$5.000); 52,1% na classe média alta (R$5.000 a R$10.000); e surpreendentes 55,4% entre os mais ricos (renda superior a R$10.000).

Esse padrão contrasta com o observado para Trump nos EUA, que tem seu pico de aprovação na classe média americana: 41,8% entre os mais pobres (renda abaixo de $50 mil anuais), 50,1% na classe média ($50 mil a $100 mil), e 41,6% entre os mais ricos (acima de $100 mil por ano).

A pesquisa também revela diferenças na aprovação de Lula por gênero (47,2% entre homens e 44,1% entre mulheres) e por idade, com maior apoio entre idosos (62,1% na faixa de 60-100 anos) e menor entre adultos de meia-idade (28,8% na faixa de 35-44 anos). Regionalmente, o Nordeste permanece como bastião de apoio ao presidente, com 58,3% de aprovação, enquanto o Sul registra apenas 37,1%.

Cenários Eleitorais para 2026

Segundo a pesquisa Atlas/Bloomberg, Lula mantém liderança confortável nas intenções de voto para 2026. Contra Tarcísio de Freitas, o presidente aparece com 44,1% contra 33,1%, uma vantagem de 11 pontos percentuais. Em cenário alternativo contra Michelle Bolsonaro, Lula também se mantém à frente com 44,4% contra 33,5%. Já sem a presença do atual presidente, Tarcísio (33,7%) e Haddad (33%) aparecem tecnicamente empatados na disputa.

As projeções de segundo turno ainda são muito preliminares nesta altura do campeonato, com dados tão confiáveis quanto previsões meteorológicas para o próximo ano. Se pesquisas de segundo turno realizadas com tanta antecedência tivessem alguma validade, Ciro Gomes já seria presidente há três mandatos e Tabata Amaral estaria em seu segundo governo. A história política brasileira nos ensina que essas simulações distantes servem mais ao entretenimento que à análise séria – o que realmente importa é o desempenho no primeiro turno, onde Lula segue com vantagem consistente.

O recente escândalo envolvendo o INSS, amplamente explorado pela oposição, pode ter prejudicado a recuperação da aprovação do governo. Mesmo assim, Lula conseguiu ampliar sua vantagem sobre Tarcísio, considerado o candidato mais forte da direita para 2026, caso decida concorrer à presidência.

A oposição enfrenta seus próprios desafios. Seu principal líder está em meio a um julgamento que pode resultar em prisão, o que potencialmente afetaria toda a direita brasileira. Diante desse cenário, a criação de um movimento de vitimização parece ser a estratégia que resta aos opositores.

Lula conta com uma vantagem estratégica: está no governo, comandando a máquina pública. Até as eleições de 2026, terá a oportunidade de inaugurar numerosos projetos e obras, consolidando sua imagem de realizador. Como disse Juscelino Kubitschek: “É melhor sermos criticados pelo que fizemos do que pelo que deixamos de fazer.”

Infelizmente, temos que lidar com o fato de que uma quantidade expressiva de eleitores provavelmente decidirá seu voto baseado no último meme viral ou na última fake news do WhatsApp – afinal, quem precisa de propostas quando se tem algoritmos?

“O bom senso é a virtude mais bem distribuída no mundo”, dizia Descartes. A história nos ensina que ele costuma prevalecer, mas nem sempre a tempo de evitar resultados eleitorais ruins ou garantir a paz mundial. O futuro da democracia brasileira depende de nossa capacidade coletiva de trabalhar para que a razão chegue antes da contagem final dos votos.

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 31/05/2025