Segundo Ipec, Lula lidera até mesmo entre eleitores da “direita não-bolsonarista”

A pesquisa Ipsos-Ipec, divulgada essa semana, traz dados muito interessantes sobre as preferências ideológicas dos eleitores brasileiros.

Segundo a pesquisa, 21% dos eleitores desejam um presidente alinhado com a direita bolsonarista, 15% com a esquerda lulista, e 6% com a direita não bolsonarista. Além disso, 10% preferem um presidente “mais de centro” e 38% declaram não ter preferência ideológica, importando apenas a capacidade de governar.

Isso significa que 48% do eleitorado se posiciona de forma independente ou centrista, um bloco maior que qualquer ideologia específica. Em números absolutos, considerando os 155 milhões de eleitores registrados no TSE, isso representa 74,4 milhões de eleitores. A direita soma 27% (41,9 milhões de eleitores), enquanto a esquerda fica com 18% (27,9 milhões de eleitores).

Os eleitores de centro/independentes formam, portanto, o maior bloco eleitoral do país. E a pesquisa IPEC mostra que a maior parte desse segmento está preferindo o Lula, ou seja, está se inclinando mais à esquerda do que à direita.

Quando o IPEC cruza esses dados com as intenções de voto dos candidatos a presidente, há revelações bastante curiosas.

A pesquisa traz cinco cenários: um espontâneo e quatro estimulados, com Tarcísio de Freitas, Flávio Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro e Michele Bolsonaro. Neste texto, vamos focar no cenário 2 da estimulada, que é com Flávio Bolsonaro, já que ele foi escolhido pelo pai, pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, para ser o candidato oficial do bolsonarismo. Mas vamos abordar, no final, um pouco da espontânea também.

No segundo cenário estimulado (P.03), onde Flávio Bolsonaro é apresentado como candidato principal, uma situação curiosa emerge: o Lula tem mais votos na direita moderada do que o próprio Flávio Bolsonaro.

Entre os que preferem esse segmento, Lula obtém 27% enquanto Flávio tem apenas 20%.

Nem se trata apenas de uma questão do Flávio Bolsonaro. Segundo a pesquisa, Lula lidera no segmento de direita moderada em três dos quatro cenários estimulados, demonstrando uma vantagem consistente nesse eleitorado que deveria ser natural para candidatos de direita.

Isso revela as dificuldades que a direita bolsonarista vem encontrando para atrair os eleitores independentes de centro. Mesmo aqueles que preferem um candidato de direita moderada preferem Lula a um candidato bolsonarista raiz.

Quando se considera o centro propriamente dito, ou seja, os eleitores que dizem não ter uma preferência clara, somados àqueles que mencionam especificamente a preferência para um presidente de centro, a liderança de Lula é ainda mais clara.

Nesse cenário, no centro e entre os sem preferência ideológica, Lula marca 35–37% contra apenas 10–11% de Flávio.

A rejeição ao radicalismo bolsonarista é tão forte que chega até o eleitorado que se identifica com posições de direita tradicional ou centro-direita.

O que deveria ser o nicho natural de Flávio Bolsonaro, o eleitorado de direita, é conquistado por Lula através de sua capacidade de se posicionar como alternativa centrista e moderada.

Um diferencial importante dessa pesquisa IPEC é que ela apura as intenções de voto de eleitores com renda familiar até um salário mínimo, um segmento que representa 25% do eleitorado brasileiro.

Muitos outros institutos de pesquisa não separam ou não divulgam esse eleitorado especificamente.

No cenário 2 estimulado (P.03), Lula obtém 52% de intenção de voto entre os que ganham até um salário mínimo, enquanto Flávio Bolsonaro fica com apenas 14%. Essa é uma das maiores diferenças de votação entre os candidatos em qualquer segmento.

A pesquisa também traz dados estratificados por escolaridade, região, religião e raça/cor, revelando padrões consistentes de força de Lula entre os segmentos mais vulneráveis economicamente.

A pesquisa também apresenta um cenário espontâneo, quando nenhum candidato é sugerido. Nessa sondagem, Lula volta a demonstrar força entre eleitores de centro e direita não-bolsonarista.

Entre os que preferem um presidente “mais de centro”, Lula obtém 24%, enquanto Jair Bolsonaro fica com 14%. Entre os que preferem alguém da direita não bolsonarista, Lula tem 22% contra 15% de Jair Bolsonaro, e 12% de Tarcísio.

Esses dados reforçam o padrão observado no cenário estimulado. Há dificuldade de candidatos na direita em conquistar o eleitorado mais centrado, o eleitor moderado de centro ou independente, incluindo muitos na centro-direita.

Em síntese, a pesquisa mostra que Lula mantém liderança isolada tanto na espontânea (29% versus 18% para Jair) quanto no cenário estimulado com Flávio Bolsonaro (38% vs 19% para Flávio).

No cenário 2, Lula demonstra força admirável entre os mais jovens e entre os mais velhos, mas mantendo apoio robusto em praticamente todos os grupos etários. Um diferencial importante é que esta pesquisa IPEC é a única que captura especificamente o eleitor com renda familiar até um salário mínimo. Nesse segmento, que representa 25% do eleitorado, Lula obtém 52% de intenção de voto, enquanto Flávio Bolsonaro fica com apenas 14% — uma diferença de 38 pontos percentuais.

A pesquisa Ipsos-Ipec foi realizada entre os dias 4 e 8 de dezembro de 2025, com 2 mil entrevistas em 131 municípios e margem de erro de 2%.

Clique aqui para baixar a íntegra da pesquisa Ipec.

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