O Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras (PT) realizou, nesta terça-feira (3), em Recife (PE), o segundo debate entre os candidatos à Presidência Nacional do partido. Participaram desse segundo confronto de ideias e projetos os candidatos Edinho Silva (nº 180), Romênio Pereira (nº 150), Rui Falcão (nº 130) e Valter Pomar (nº 120).

Os quatro candidatos a presidente do PT apresentaram suas propostas em um debate que foi realizado no Sindicato dos Bancários de Pernambuco. A mediação do segundo debate foi realizada pela integrante da Comissão Executiva Nacional (CE) do PT, Natália Sena. O evento foi transmitido ao vivo pelas redes sociais do PT, pela Rádio PT e pela TvPT.

Todos os candidatos contaram com as mesmas condições para participar do debate e tiveram tempos iguais para responder os questionamentos e apresentar suas ideias. O primeiro turno de votação do Processo de Eleição Direta (PED) ocorre no dia 6 de julho, em todo o país.

Retomada do PT combativo e socialista

Em sua fala como candidato à presidência nacional do PT, Rui Falcão apresentou um conjunto de propostas que, segundo ele, buscam resgatar o “projeto histórico” do partido. Com ênfase no internacionalismo, na democracia interna e na combatividade frente à conjuntura política e social do país, Falcão defendeu maior protagonismo das bases e da militância.

Logo no início de sua fala, o candidato falou sobre uma Palestina Livre: “Começo falando Palestina Livre aqui ao lado da bandeira, porque o nosso partido é internacionalista, além de socialista”, afirmou. Falcão fez críticas ao governo de Israel, a quem classificou como “genocida”, e ressaltou a tradição petista de solidariedade com povos oprimidos.

Rui Falcão destacou a importância da participação do PT em campanhas populares. O objetivo é pressionar por pautas como a redução da jornada de trabalho sem redução de salário, o fim da escala 6×1, e o combate à impunidade dos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro. “A única anistia que nos interessa é rever a anistia de 1979”, frisou. Ele também reforçou a necessidade de reconectar o PT com suas origens e com a militância.

Para Rui Falcão, a conjuntura exige um PT mais combativo e menos conformado com acordos institucionais. “Diálogo é importante, mas não basta. A conjuntura exige enfrentamento”, declarou. Ele reforçou propostas como a taxação dos super-ricos e a defesa de um projeto de sociedade socialista.

A campanha de Falcão também se apoia em um resgate simbólico do PT das origens. Citando falas de uma indígena no Ceará e de uma jovem em Brasília, ele reforçou o apelo pelo retorno do “PT das lutas”. “Todos nós queremos o nosso PT de volta”, afirmou.

Por fim, Falcão sintetizou sua candidatura como um esforço para “recuperar, reconstruir a esperança e eleger o presidente Lula em 2026”, destacando o papel do PT como motor de transformação e enfrentamento social.

Guinada à esquerda e protagonismo da militância

Segundo a falar no debate, o candidato Valter Pomar defendeu uma mudança profunda na linha política da legenda. Para ele, o PT enfrenta uma “encruzilhada histórica”, em que apenas duas alternativas estão realmente em jogo: seguir com a atual política de conciliação ou apostar numa estratégia de confronto com os setores conservadores e empresariais.

Pomar afirmou que, apesar da existência de oito chapas e quatro candidaturas na disputa interna, o que está em jogo é a direção estratégica do partido diante de um cenário que ele classifica como de crise sistêmica, com agravamento das desigualdades, avanço da extrema direita e ameaças ambientais e geopolíticas. Nesse contexto, defendeu que o socialismo volte a ocupar o centro do programa petista.

“Falar de socialismo hoje não é bravata, como alguns disseram. É uma necessidade diante de uma catástrofe climática, do crescimento da extrema direita e da ofensiva global contra direitos sociais”, disse o candidato. Ele destacou a importância de retomar o debate ideológico em uma conjuntura que, segundo ele, exige clareza política e ousadia.

Assista a íntegra do debate:

Alianças

O candidato propôs ainda uma revisão de alianças do partido como estratégia, apostando em mobilização social e na construção de uma nova correlação de forças. “O partido precisa parar de fazer concessões ao neoliberalismo e deve enfrentar os interesses do agronegócio, das mineradoras, do capital financeiro e do imperialismo”, afirmou. Ele apontou que a melhoria das condições de vida da população só virá com enfrentamento político e econômico mais direto.

Pomar também defendeu que o PT seja efetivamente dirigido por sua base, com mais democracia interna e autonomia política. Ele reivindicou a efetivação de políticas sociais vigorosas, com valorização do salário mínimo, aposentadorias dignas, e mais investimento em saúde, educação e proteção social.

Encerrando sua participação no debate, Valter Pomar fez um chamado à militância para que o partido retome seu papel histórico de motor da transformação social e propôs construir uma “democracia popular” e enfrentar, de forma decidida, tanto o fascismo quanto o neoliberalismo.

“Quem acha que contra o fascismo não adianta fala mansa? Quem acredita que só com luta social vamos mudar esse país? Essa é a hora de escolher qual PT queremos”, concluiu.

Interiorização do PT

Terceiro a falar no debate entre os candidatos à presidência do PT, Romênio Pereira iniciou sua participação reforçando sua origem mineira e seu compromisso com a unidade partidária. “Sou do mundo, eu sou PT e sou de Minas Gerais”, disse. Para ele, Minas é um elo entre o Sul e o Nordeste na construção da cultura política do partido.

O candidato destacou como uma de suas principais pautas a valorização dos pequenos e médios municípios brasileiros, especialmente no interior de Minas e do país. “Eu andei 660 cidades do meu estado, e mais 300, 400 pelo Brasil. São esses municípios que deram as vitórias a Dilma e a Lula.”

Segundo Romênio Pereira, é urgente que a direção nacional se aproxime mais dessas localidades. “A força do PT está na base. É hora de reconhecer e valorizar isso.”

Pereira também prestou homenagem às mulheres e homens que, segundo ele, constroem o PT longe dos grandes centros. “São essas pessoas que mantêm o partido vivo. Faço aqui uma grande homenagem a todas elas.”

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Defesa dos setoriais e da diversidade

O candidato ressaltou seu compromisso com a juventude, os setores organizados e a diversidade. “Talvez eu seja o mais velho na mesa, mas sou o único que gravou vídeo em apoio ao mês do orgulho LGBTQIA+. Defendo 6% para os setoriais e mais recursos para os negros, mulheres e para o meio ambiente.”.

Ele também propôs redistribuição do fundo entre parlamentares, com 50% dos recursos de deputados federais sendo destinados a estaduais. “São os estaduais que estão no dia a dia nos estados, nas sessões, com o povo. Isso precisa ser reconhecido.”

Compromisso com Lula e a classe trabalhadora

Romênio Pereira enfatizou seu apoio à reeleição de Lula e à luta da classe trabalhadora. Ele também, como os demais candidatos, reforçou a defesa da causa palestina. “Todos aqui, eu, Rui, Edinho, somos radicalmente a favor da luta do povo palestino. Essa bandeira nos une.”

Ao encerrar, Romênio Pereira defendeu que as alianças políticas respeitem os valores do partido. “Ampliar alianças não pode significar abrir mão dos nossos compromissos históricos. Precisamos reafirmar a autonomia do PT, inclusive para discordar do governo quando necessário.”

“Não estou aqui em nome de uma corrente, mas representando todas e todos os trabalhadores e trabalhadoras do nosso partido”, finalizou.

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Reconstrução popular do PT

Durante o debate, Edinho Silva destacou o que considera ser o momento mais desafiador da trajetória petista. Para ele, o Processo de Eleições Diretas (PED) de 2025 será o mais importante da história do partido, dada a conjuntura política nacional e internacional.

Segundo Edinho, os dirigentes que assumirem a nova direção petista terão a missão de garantir a continuidade de um projeto histórico que foi responsável por conquistas sociais e pela eleição do presidente Lula em três mandatos.

“Não estamos falando de qualquer partido, mas do maior partido de esquerda da América Latina, perseguido pela direita justamente por seus méritos”, disse, afirmando que a direção eleita precisará ter consciência da responsabilidade histórica que carrega.

Edinho afirmou que a tarefa dos dirigentes não é agradar plateias, mas construir um projeto político com base em diagnósticos responsáveis.

“Nossos erros e acertos impactam diretamente a vida dos mais pobres e da classe trabalhadora. Não é um jogo retórico”, afirmou.

Edinho admitiu que o partido enfrenta contradições e precisa aprimorar seu funcionamento, mas lembrou que isso faz parte de qualquer organização viva e inserida na disputa social. “Somos formados por seres humanos, não por uma bolha. Temos que enfrentar nossos problemas com responsabilidade e olhar estratégico.”

Desafio do pós-Lula

Um destaque de sua fala foi a preparação do PT para um cenário em que o presidente Lula não será mais candidato. Edinho lembrou que Lula sempre teve papel central na superação de crises enfrentadas pelo partido, mas advertiu que 2026 marcará a última eleição com sua presença nas urnas.

“Precisamos construir um partido que saiba fazer disputa política mesmo sem Lula na cédula”, afirmou.

Em tom de alerta, Edinho chamou atenção para a ascensão do fascismo no Brasil e no mundo, reforçando que o combate a essa ameaça exigirá mais do que palavras de ordem. “O pensamento fascista não é uma força menor.”

Ao citar exemplos da Europa como Alemanha, Itália e Polônia, e lembrar a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023 no Brasil, Edinho destacou que o embate contra o fascismo será uma das maiores provas políticas da próxima direção partidária.

“O que vimos aqui foi a gestão e formulação do golpe feitas por uma força fascista orgânica. Não é um enfrentamento pequeno.”

Para enfrentar esse novo cenário, Edinho defendeu um PT mais forte, com funcionamento regular das instâncias, autocrítica, democratização do orçamento partidário e ampliação do debate interno. “Temos que reconhecer nossas deficiências e aprimorar nossa democracia interna”, disse.

Edinho Silva encerrou defendendo um congresso partidário para redefinir estratégias, com foco na organização popular, orçamento participativo e temas sociais centrais. Ressaltou o governo Lula como maior patrimônio do PT e a necessidade de retomar a construção de um projeto nacional socialista.

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Da Redação

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Last Update: 03/06/2025