O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, afirmou que existe a possibilidade de redução das tensões comerciais entre Washington e Pequim, apesar de ressaltar que as negociações bilaterais ainda não foram iniciadas e exigirão um processo prolongado.
A declaração foi feita nesta terça-feira, 22, durante uma conferência privada promovida pelo banco JP Morgan, em Washington, segundo informações da agência Reuters.
Durante sua participação no evento, Bessent descreveu o cenário atual entre os dois países como um “embargo bilateral” e avaliou que “nenhum dos lados considera o status quo sustentável”.
O secretário apontou que a administração norte-americana, liderada pelo presidente Donald Trump, não tem como objetivo a separação econômica entre as duas maiores economias do mundo, mas busca uma reconfiguração das relações comerciais.
Segundo relatos de uma fonte presente na conferência, Bessent afirmou: “Esperamos um grande e belo reequilíbrio: da economia da China em direção a mais consumo e da economia dos EUA em direção a mais manufatura”. No entanto, o secretário indicou que ainda não há clareza sobre a disposição de Pequim em adotar esse modelo.
As declarações ocorreram paralelamente às Reuniões de Primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, que reúnem autoridades econômicas e financeiras de diversos países para debater políticas econômicas globais.
Bessent destacou que um eventual entendimento entre os Estados Unidos e a China pode ter efeitos significativos sobre os mercados financeiros internacionais.
Atualmente, produtos chineses enfrentam tarifas americanas que chegam a 145%, enquanto mercadorias dos Estados Unidos estão sujeitas a tarifas de até 125% impostas por Pequim.
O secretário classificou esse quadro como “insustentável” e sugeriu que uma trégua entre os dois países pode ocorrer em breve. “Uma redução da tensão deve acontecer em um futuro muito próximo”, afirmou. Bessent acrescentou que esse cenário pode representar “um suspiro de alívio” para os mercados.
Os comentários do secretário do Tesouro provocaram reação imediata no ambiente financeiro. As bolsas de valores em Nova York registraram forte alta ao longo do pregão da tarde, revertendo as perdas acumuladas no dia anterior. Na segunda-feira, os mercados haviam sido impactados negativamente pelas críticas do presidente Donald Trump ao presidente do Federal Reserve, Jerome Powell.
Com as declarações de Bessent, os principais índices acionários subiram mais de 2% durante a tarde, refletindo a expectativa de investidores em relação a um possível alívio nas disputas comerciais entre Washington e Pequim. A sinalização de um potencial avanço nas conversas entre os dois governos contribuiu para reduzir a percepção de risco nos mercados financeiros.
A disputa comercial entre Estados Unidos e China tem sido marcada pela imposição de tarifas de importação sobre uma ampla gama de produtos, em um movimento iniciado pela administração Trump sob o argumento de correção de desequilíbrios comerciais e proteção da indústria norte-americana. Em resposta, Pequim adotou medidas semelhantes, elevando tarifas sobre produtos vindos dos Estados Unidos.
O cenário de conflito tarifário tem gerado incertezas no comércio global, afetando cadeias produtivas e ampliando a volatilidade nos mercados financeiros. Diversos setores da economia, incluindo agricultura, tecnologia e manufatura, têm sido impactados pelas medidas adotadas pelos dois governos.
Apesar das declarações otimistas sobre a possibilidade de uma redução nas tensões, Bessent enfatizou que ainda não há negociações em curso. O secretário indicou que qualquer avanço dependerá de um processo de diálogo e entendimento entre as partes, o que, segundo ele, exigirá “um trabalho árduo”.
O governo norte-americano tem defendido mudanças na política econômica chinesa, com ênfase na redução de subsídios estatais, maior abertura de mercado e respeito à propriedade intelectual. Por outro lado, Pequim tem contestado as tarifas americanas, argumentando que as medidas violam regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) e prejudicam o comércio global.
As declarações de Bessent ocorrem em um momento de discussões internas nos Estados Unidos sobre política monetária e fiscal. Recentemente, o presidente Donald Trump tem pressionado o Federal Reserve por cortes na taxa de juros, ao mesmo tempo em que critica a condução da política monetária pelo presidente da instituição, Jerome Powell.
A combinação de disputas comerciais e incertezas em relação à política econômica dos Estados Unidos tem influenciado o comportamento dos mercados financeiros nos últimos meses. A perspectiva de um possível entendimento entre Washington e Pequim, ainda que incipiente, foi suficiente para alterar o humor dos investidores na sessão desta terça-feira.
Segundo analistas do setor financeiro, qualquer sinal de progresso nas negociações comerciais entre os dois países pode contribuir para reduzir a volatilidade e fortalecer a confiança dos mercados, especialmente em um ambiente global já afetado por desafios econômicos e geopolíticos.