Seca na Amazônia: a repetição dos erros

por Augusto Cesar Barreto Rocha

Na última semana tive a oportunidade de organizar um encontro entre ANTAQ, DNIT, Porto Chibatão e Super Terminais, com respeito às providências relativas ao enfrentamento da seca na Amazônia em 2025, especialmente no que diz respeito às ações institucionais para equacionar os possíveis impactos, que nos últimos dois anos causaram quase R$ 3 bilhões de sobrecustos para a logística industrial de Manaus.

Diferente do esperado, o DNIT parece não ter tirado nenhuma lição dos dois anos. Insiste em uma dragagem sem estudos. Não decidiu ainda o tipo de draga que será usada, quando se sabe por 2023 que uma draga de menor porte é inútil. Não fez nenhum estudo adicional, nem conseguiu agir sobre um cabo de fibra ótica que inviabiliza a dragagem em determinado ponto crítico. Parece que voltamos ao ano de 2022.

A ANTAQ consegue divisar o problema, mas ainda não fez um esforço para a ação. Há um entendimento claro das questões, mas, tal qual o DNIT, parece não ter equipes técnicas apropriadas para enfrentar o desafio. Os terminais portuários privados estão com ações distintas. Um deles está pronto para movimentar estrutura para alívio dos navios, permitindo o trânsito até Manaus e o outro está em contato com os armadores para deliberar se move ou não seu píer para Itacoatiara, para, em estratégia distinta, descarregar os navios se houver restrição para a navegação.

Estamos numa armadilha do tempo. Ficamos voltando aos assuntos, sem aprendizados. Com este tipo de fato, é fácil compreender a razão da indignação das pessoas da Amazônia. Não há postura de país, não há postura federativa, não se aprende com os erros, não se admitem erros, não se faz nada para sanar os problemas conhecidos. Há apenas um diálogo cordial e uma tratativa quase infantil relativa aos problemas. É como se bilhões de reais daqui fossem menos importantes do que as questões de outras regiões. A inação é visível e gritante.

Enquanto isso, faremos a Cop-30 em uma Amazônia largada à própria sorte. Os caminhos potenciais para o desenvolvimento, com governança, construção de infraestrutura, uma economia regenerativa e tudo o mais de potencial que existe está sendo desconsiderado. Há uma oportunidade de integrar a Amazônia ao país, mas ela segue sendo percebida como uma área distante e isolada. É como se a atração de “investimentos estrangeiros” fosse o único caminho para a região. Como se o incentivo da Sudam ou da Suframa fossem suficientes para desenvolver, enquanto, de fato, são mecanismos de retirada de tributos.

Difícil ver saída para o problema da seca. A natureza trará a seca – e não há dúvida sobre isso. Tal qual “A permuta dos santos” (Edu Lobo e Chico Buarque) parece que nos resta, como no Nordeste, cuidar de começar a mudar os santos de lugar, na busca de um milagre e que a chuva nos dê 11,5m de calado no Rio Amazonas, fora disso, haja custo e taxa da seca para pagarmos por aqui. O que seria esperado? Algum aprendizado pelo poder executivo: estudos e ações para a solução. Por ora, o que temos é apenas uma torcida e a repetição do que foi feito, principalmente o que não deu certo.

Augusto Cesar Barreto Rocha – Professor da UFAM.

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Last Update: 07/07/2025