O ministro das Relações Exteriores (MRE), Mauro Vieira, participou nesta quinta-feira (18) do programa Bom Dia, Ministro, e falou sobre a finalização do acordo entre Mercosul e União Europeia (UE).
A expectativa é que os países do Conselho Europeu aprovem a medida até sexta-feira (19), o que permitiria que o acordo final fosse assinado durante a cúpula do Mercosul, em Foz do Iguaçu, no sábado (20).
Segundo o ministro, reiterando fala do presidente Lula, não terá mais nada a ser feito caso o acordo não seja formalizado neste final de ano.
“Se não for concluído agora, não há mais o que se negociar em termos substantivos. E nós vamos dirigir nossa atenção e energias para outros parceiros importantes que estão na fila”, disse Vieira.
O ministro ressalta que para a UE o acordo também é muito importante, em especial pelo atual desequilibro nas relações externas mundiais.
“Um ataque ao multilateralismo, um ataque a instituições como a Organização Mundial de Comércio (OMC), e este acordo vai criar uma espécie de rede de proteção aos países da União Europeia e do Mercosul, fortalecendo as suas relações com uma base legal muito melhor, já que a OMC está sendo atacada e bombardeada, assim vai proteger a todos nós”, explicou.
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O acordo comercial entre os blocos envolve 720 milhões de habitantes nas duas regiões e um PIB total de cerca de 22 trilhões de dólares: “A União Europeia é o segundo maior sócio comercial do Brasil, às vezes é o terceiro, varia de acordo com o ano, portanto, é um sócio importantíssimo”, frisou.
No entendimento do chanceler, dos 27 países da UE entre 20 e 22 são totalmente a favor da adesão, incluindo Espanha, Portugal e Alemanha.
“Há dois países que são grandes, importantes e que estão precisando refletir um pouco os pedidos e as posições dos seus setores agrícolas”, indicou em relação à França e Itália, os dois principais opositores.
Apesar de serem apenas dois países, as posições deles contam muito, uma vez que para a decisão o peso das populações importa dentro do bloco. França (15,2%) e Itália (13,1%), junto com a Polônia (8,1%), outro opositor, já somam mais de 35% da população, o que regimentalmente é o suficiente para impedir o acordo.
No caso de o negócio entre os blocos realmente não ter continuidade, Vieira revela que a direção será buscar outras negociações que já tem uma lista de interessados em se aproximar do Mercosul.
“Concluímos esse ano um acordo com o EFTA, Associação Europeia de Livre Comércio, que inclui a Suíça, a Noruega, a Islândia e o Liechtenstein. E se assinarmos com a União Europeia teremos a cobertura de praticamente toda a Europa nesses dois acordos. Agora, além deles, já assinamos recentemente com Singapura e há um número grande de países que já demonstraram interesse. O Canadá, o Reino Unido e países do Oriente. Na Ásia, a Malásia, a Indonésia, Vietnã, há um grupo enorme de países que querem celebrar acordos de livre comércio com o Mercosul e outros que querem atualizar. Por exemplo, a Índia assinou há mais de 20 anos, foi no primeiro ano de mandato do presidente Lula, em 2003. Portanto, há 22 anos foi assinado um acordo com a Índia, mas feito em outro estágio de desenvolvimento, ainda limitado. Agora há o interesse de negociar a expansão para um número maior de produtos”, revelou o ministro, também incluindo o Japão entre os interessados.
Venezuela
Sobre a tensão entre Estados Unidos e Venezuela o ministro ressaltou que acompanha de perto a situação. Conforme explica, o Brasil mantém excelentes relações com o país caribenho, classificado como importante parceiro comercial e no qual compartilham 2.200 km de fronteira dentro da Amazônia.
Na sua avaliação, há muitos empresários brasileiros que têm interesse em investir e aumentar o comércio com a Venezuela, que detém as maiores reservas mundiais de petróleo e de vários outros minerais críticos.
“Há um número muito grande de venezuelanos morando no Brasil, vivendo no Brasil, cerca de 500 mil. E há 20 mil brasileiros que vivem na Venezuela. Somos todos parte desse espaço de paz e cooperação que é a América do Sul. O presidente Lula, nas duas vezes em que falou com o presidente Trump por telefone, se referiu à Venezuela e disse que a nossa região é uma região de paz e cooperação e que o Brasil estará sempre pronto a facilitar o diálogo e aproximar as partes para que se chegue a uma solução”, apontou Vieira.
“É uma questão de preocupação para todos e o Brasil quer facilitar esse diálogo, essas iniciativas de contato, promover iniciativas de contato que possam levar a um entendimento e uma negociação”, completou o chanceler, ao afirmar que espera que as ações dos EUA sejam efetivamente para coibir o narcotráfico e não passem desse ponto.