No programa Análise da 3ª, da Rádio Causa Operária, desta terça-feira (9), o presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, analisou a escalada da repressão contra o movimento de solidariedade à Palestina na Inglaterra, a onda de golpes de Estado na África, o impasse na situação venezuelana e a crise aberta na direita brasileira com a possível candidatura de Flávio Bolsonaro à Presidência da República.
Solidariedade com a Palestina no Reino Unido
Pimenta abriu a análise destacando que, na sua avaliação, “a Inglaterra é o local onde a repressão ao movimento da Palestina é a maior de todas”. Segundo ele, não se trata apenas de casos isolados, mas de uma política sistemática do Estado britânico contra qualquer expressão de solidariedade ao povo palestino.
Ele citou como exemplo o caso da organização Palestine Action, que “foi considerada organização terrorista”, mas observou que a reação das organizações de esquerda tem sido muito limitada. “Me chama a atenção que a esquerda não reaja ao conjunto da situação”, afirmou. Para ele, os setores de esquerda “reagem a casos extremos, como o do Palestine Action, mas não há movimento em defesa dos direitos democráticos da população”.
Na avaliação de Pimenta, o que está em curso é um teste mais geral de repressão contra qualquer movimento que enfrente o imperialismo. “Já está claro que qualquer tipo de luta contra o imperialismo vai receber tratamento igual”, disse. O caso palestino, explicou, não é uma exceção: “o caso Palestina não é um caso à parte, é o caso”.
Rui Pimenta advertiu que o comportamento do Estado britânico hoje tende a se generalizar em situações futuras de crise social: “amanhã tem uma guerra e a atitude do Estado vai ser igual. Amanhã tem uma grande crise social e a atitude vai ser a mesma”. Para ele, é “impressionante que o pessoal consiga ter esse posicionamento”, sem organizar uma campanha consequente em defesa das liberdades democráticas.
Nesse sentido, comentou a recente posição da deputada trabalhista Zarah Sultana, que defendeu a convocação de um referendo sobre a monarquia. “O posicionamento é correto”, avaliou, lembrando que a abolição da monarquia deveria fazer parte do programa de qualquer partido de esquerda. O problema, segundo Pimenta, é a centralidade que esse tema assume no momento atual: “o que chama atenção é: por que agora? Com tanta coisa acontecendo… essa política é meio que distracionista neste momento”. Para ele, a esquerda deveria colocar no centro de sua atuação “a política econômica, toda essa repressão” e a defesa dos direitos democráticos dos trabalhadores e da população que apoia a Palestina.
Golpes na África
Outro eixo da análise foi a situação no continente africano, em especial a tentativa de golpe de Estado em Benim. Para Rui, o fato de essa tentativa ter sido contida não altera o quadro geral. “O fato de que a tentativa de golpe de Estado em Benim foi frustrada não muda em nada a situação de fragilidade do imperialismo”, afirmou.
Ele descreveu a região como “muito fluida”, com uma sucessão de golpes em países cujos governos mantêm forte submissão às potências imperialistas. “Aquela região está sendo alvo de golpes de Estado porque os governos são muito submissos ao imperialismo”, explicou. Pimenta destacou, em particular, o papel da Nigéria: “em primeiro lugar a Nigéria, que é um ponto de apoio do imperialismo na região. Isso que explica a incidência dos golpes de Estado”.
Ao comparar as diferentes zonas do continente, o dirigente do PCO diferenciou o norte da África, com países maiores e “uma independência maior em relação ao imperialismo”, da faixa de países da África Ocidental, “a região que é a mais dominada pelo imperialismo francês, de países menores e mais atrasados economicamente”. Para ele, a sucessão de levantes e golpes nessa área é “um sintoma claro de que há uma tendência revolucionária na África, que é um sintoma da crise capitalista mundial”.
Ele utilizou uma imagem clássica para descrever a situação: “a corda está arrebentando do lado mais fraco, e a África com certeza é o lado mais fraco”. Por isso, insistiu que a derrota momentânea da tentativa de golpe em Benim “não significa nada” do ponto de vista da tendência geral.
Pimenta ressaltou o caráter desses processos. “O que é importante deixar claro é que esses golpes têm um caráter progressista. São golpes militares contra o imperialismo”, afirmou. Comentando a posição oficial de Abuja, observou que “a Nigéria falou: precisamos defender a democracia no Benim. Isso é conversa fiada. Não tem democracia de fato”.
Pelo que se pôde saber do episódio, prosseguiu, “a tentativa de golpe foi dada por soldados comuns, o que é mais grave que se fosse por cima”. Isso leva Pimenta a considerar que se trata de um movimento ainda mais profundo: “dá a impressão de que é um movimento ainda mais revolucionário que os outros que aconteceram, porque os outros dão a impressão de que é insatisfação das camadas altas da sociedade. Esse não, das camadas mais baixas, portanto, mais radical, mais revolucionário”. Nessa perspectiva, “o fato de terem conseguido derrotar o golpe não quer dizer nada”.
Para o presidente do PCO, o que está em curso é “uma desagregação do regime político” em vários países, combinada com o impacto do exemplo de governos como o de Burquina Fasso. “A propaganda que países como Burquina Fasso fazem estimula a rebelião”, resumiu.
Venezuela será ‘nova Cuba’?
Ao tratar da Venezuela, Pimenta procurou responder à pergunta sobre por que a situação no país permanece indefinida, mesmo depois de anos de cerco e sanções. “O nível de radicalização na Venezuela é muito grande”, afirmou, destacando que o imperialismo tem “uma experiência muito negativa” com processos desse tipo.
Ele recordou o caso cubano: “em Cuba tinha um governo de esquerda, nacionalista, eles pressionaram, pressionaram, o governo expropriou a burguesia”. Segundo Pimenta, o receio das potências ocidentais é que algo semelhante ocorra em Caracas: “pode acontecer a mesma coisa na Venezuela”.
Pimenta comparou também com a experiência nicaraguense, apontando o que considera um erro grave: “na Nicarágua fizeram isso e o governo não expropriou a burguesia, foi um erro muito grave deles”. Na situação venezuelana, advertiu, “ninguém garante nada”. “Devem estar pensando: se a gente pressionar, a Venezuela se transforma numa nova Cuba”, sintetizou.
Na visão do dirigente, esse risco é “muito grande” para o imperialismo, justamente porque há um fosso entre a burguesia e as massas populares: “a burguesia está do lado do imperialismo. As massas estão vendo, há uma mobilização de massas gigantesca, o chavismo está fazendo assembleias de tudo que é setor… é enorme, estão chamando a mobilização no continente inteiro… é um problema isso”, avaliou.
Candidatura de Flávio Bolsonaro
Na parte final do programa, o presidente do PCO analisou a situação política no Brasil diante da movimentação em torno da candidatura de Flávio Bolsonaro. Para ele, ao apoiar publicamente o filho, Jair Bolsonaro “colocou o pé na porta” diante das pressões do grande capital.
“Até agora o que estava acontecendo era esse rolo compressor contra Bolsonaro para ele apoiar o candidato do grande capital”, explicou. Segundo Pimenta, havia uma operação para enquadrar o ex-presidente e afastá-lo da disputa direta, mas essa linha foi rompida quando ele decidiu bancar a candidatura de Flávio: “agora Bolsonaro colocou o pé na porta. Ele estava quieto. Aí o que acontece: ele colocou o pé na porta com a candidatura do filho”.
Na avaliação de Pimenta, essa iniciativa “radicaliza a situação”, pois Bolsonaro “mostra o seguinte: se não tiver uma oferta muito vantajosa, ele vai para a eleição”. O dirigente chamou a atenção para a reação imediata do setor financeiro. “Uma coisa muito interessante disso: os dados da situação mostram aquilo que a gente sempre falou. Bolsonaro não é o candidato do grande capital, porque se ele lança o filho, a bolsa cai, o dólar sobe, mostra que ele é o candidato que está em oposição ao grande capital. É como o caso Trump”, afirmou.
Ele também lembrou que, antes do lançamento, setores da direita e da imprensa propagandeavam que o ex-presidente estaria acabado politicamente. “A conversa antes do Flávio ser lançado é que o Bolsonaro era cachorro morto. Se fosse, qual a importância do lançamento do filho?”, questionou.
Para o presidente do PCO, um eventual ingresso de Flávio Bolsonaro na disputa presidencial altera toda a engenharia montada pela burguesia para 2026. “Se Flávio Bolsonaro for para a eleição, quem vai para o segundo turno é ele, e aí a burguesia vai ser obrigada a apoiar ele contra Lula, ou Lula contra ele, e aí desfaz toda a manobra, que era nem Lula nem Bolsonaro”, analisou.
Pimenta resumiu o impasse colocado para o regime: “é um ano de guerra contra o Bolsonaro para terminar em nada. Imagina se termina com a vitória do Flávio Bolsonaro?”.
Ele também comparou o peso eleitoral de Flávio e de figuras da frente ampla. “Flávio Bolsonaro, para o eleitorado, parece a mesma coisa que o Bolsonaro”, afirmou. Já do lado do PT, a situação é diferente: “o Haddad para o eleitorado do Lula não parece o Lula. O Haddad é o homem de terno e gravata, é um acadêmico, um playboy. O Lula é um operário. Na hora da eleição isso conta muito”.
Veja o programa na íntegra pelo link abaixo: