O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou a certeza de que Jair Bolsonaro conspirou para tentar um golpe no país, criticou a postura de Eduardo Bolsonaro ao instigar os EUA contra o Brasil, disse estar disposto a disputar as eleições de 2026 e chamou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de “serviçal de Bolsonaro”.
As declarações foram feitas em entrevista ao Jornal da Band, concedida nesta quinta-feira (11), antes do resultado final do julgamento de Jair Bolsonaro e demais integrantes do núcleo crucial da trama golpista pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal.
Lula reafirmou que o ex-presidente “tentou dar um golpe no país” e que há “dezenas e centenas de provas” relativos aos atos praticados com esse objetivo, inclusive no que diz respeito ao plano Punhal Verde e Amarelo, que previa assassinar Lula, seu vice, Geraldo Alckmin e o ministro do STF, Alexandre de Moraes. O país, declarou, “não pode permitir que quem quer que seja tente ferir o Estado Democrático Direito”.
Na avaliação do presidente, Bolsonaro “teve um comportamento, ao longo de todo o mandato, de desacreditar as instituições. E desacreditou também a vacina, a ciência, a Covid-19, dizendo que era uma gripezinha”. E acrescentou: “está nas costas dele (Bolsonaro) possivelmente a responsabilidade pela morte de mais de 300 mil pessoas das 700 mil que morreram (de Covid-19)”.
Ataques dos EUA
O presidente Lula também criticou a atuação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que tem incentivado, há meses, ações dos Estados Unidos contra o Brasil em favor de seu pai. “O filho dele (Bolsonaro) está nos EUA a serviço dele, tentando instigar o governo americano contra o governo brasileiro, os EUA contra o Brasil, numa demonstração de traição à pátria jamais vista na história brasileira”.
Para Lula, Joaquim Silvério dos Reis — que entrou para a história como o traidor dos inconfidentes mineiros, entre os quais, Tiradentes — “é um trombadinha perto dele, porque esse cidadão está traindo uma nação de 215 milhões de habitantes”. Lula ainda defendeu a expulsão de Eduardo da Câmara e que ele seja processado.
Sobre os ataques dos EUA e a possibilidade deles aumentarem diante do resultado do julgamento de Bolsonaro, Lula enfatizou: “um presidente de um país não pode ficar interferindo na decisão soberana de outro país. Então, se ele vai tomar outras atitudes, é um problema dele. Nós iremos reagir na medida em que as medidas forem tomadas”.
Além disso, declarou: “O Lula Paz e o Amor está à disposição para negociar. Eu não quero briga nem com a Bolívia, nem com o Uruguai e, muito menos, com os Estados Unidos e com a China. Eu quero paz e amor. Eu quero paz e desenvolvimento. Eu quero paz e crescimento econômico. Eu quero paz e harmonia. É por isso que o Brasil é um país que não tem contencioso com nenhum país”. Porém, afirmou que os Estados Unidos devem entender que “não estão tratando com uma republiqueta de banana”.
Sobre a anistia defendida por bolsonaristas, Lula criticou o fato de terem iniciado as discussões antes mesmo da condenação e acrescentou: “o Congresso tem o direito de discutir a anistia a hora que quiser e o governo tem o direito de ser contra ou a favor, de orientar sua base para ser contra ou a favor” e, enfatizou, “o governo vai trabalhar contra a anistia”.
Economia
Com relação a assuntos ligados à economia, o presidente demonstrou confiança na aprovação, pelo Congresso Nacional, da isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil e o desconto para quem ganha até R$ 7,2 mil mensais. “Isso não é um favor ao presidente da República. É o reconhecimento de que as pessoas pobres não podem pagar o Imposto de Renda que os ricos não pagam nesse país. É fazer justiça tributária, é apenas isso”. Ele também disse acreditar na aprovação do projeto do governo que criou o Gás do Povo, bem como o Luz do Povo.
Com relação ao impacto dos programas sobre as contas públicas, classificou essa preocupação como uma “bobagem”. Lula apontou, ainda, que o país “não tem déficit fiscal, ou seja, o que acontece é que os banqueiros ficam todos nervosos quando a gente anuncia que vai dar um benefício para o pobre. ‘Para que dar pra pobre? Dá para nós. Para que dar para pobre ao invés do sistema financeiro? A Faria Lima tá precisando’”, ironizou.
Eleições
Quanto às eleições de 2026, declarou “não escolher candidato” e salientou: “O PT pode encontrar outro candidato, os partidos que estão comigo podem encontrar outro candidato, não tem problema nenhum. Eu não sou candidato de mim mesmo. A única coisa que eu quero dizer é que, se eu estiver do jeito que eu estou hoje, a extrema direita jamais voltará a governar este país. Democracia sempre”.
Lula também criticou a fala do governador bolsonarista de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) que, no Sete de Setembro, chamou de “tirano” o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), relator do processo contra Bolsonaro relativo à trama golpista. “O Tarcísio demonstrou que ele não é nada mais, nada menos que um serviçal do Bolsonaro”, declarou.