Se até o imperialismo ensaia se afastar… e o Brasil?

Nos últimos dias, assistimos a uma reviravolta das mais hipócritas: governos europeus que até então apoiavam incondicionalmente a entidade sionista começam a recuar diante da barbárie em Gaza. A Inglaterra, a França, a Alemanha e a Espanha – países cujas burguesias financiaram e armaram “Israel” por décadas – anunciam medidas simbólicas de distanciamento do regime de Netaniahu.

A razão para isso é que a política de extermínio em massa, de fome planejada e de assassinato de crianças palestinas tornou-se insustentável diante dos olhos do mundo. As redes sociais expõem, diariamente, o genocídio, e a pressão popular dentro desses países obriga até mesmo representantes diretos do imperialismo como Macron e Merz a fingir uma postura crítica.

Mas e o Brasil? Enquanto governos do capital imperialista são forçados a recuar, o governo Lula mantém, e aprofunda, relações diplomáticas e comerciais com a ocupação sionista.

Como explicar que um presidente que já denunciou o genocídio palestino mais de uma vez não tenha a coragem de romper definitivamente com “Israel”? Como aceitar que, em pleno massacre, o Senado brasileiro – com o apoio vergonhoso de setores do PT – aprove um “Dia da Amizade Brasil-Israel”?

Não nos iludamos: França, Alemanha e Inglaterra não “rompem” com “Israel” por humanismo. Eles são cúmplices históricos do sionismo. Foram as potências europeias que, com a Declaração Balfour e depois com a ONU, impuseram a colonização da Palestina. Foram elas que venderam as armas que hoje matam crianças em Rafá. A mudança de discurso é puro calculismo político: Netaniahu ultrapassou todos os limites, e a opinião pública mundial se levanta contra a fraude da “autodefesa” sionista, e em defesa da luta da Resistência Palestina.

A fome em Gaza é uma arma de guerra. Os bombardeios a hospitais e campos de refugiados são política de Estado. A entidade sionista não esconde seu projeto: limpeza étnica total.

Diante disso, até os governos imperialistas precisam fingir repúdio procurando conter a revolta em seus próprios países. Macron, que reprimiu brutalmente protestos pró-Palestina na França, agora fala em “preocupação”, em um “Estado palestino”. A Alemanha, que persegue militantes antissionistas, suspendeu parte do comércio de armas. É hipocrisia – mas é também um sinal de que a Resistência Palestina e a pressão popular estão funcionando.

Se até os governos mais reacionários da Europa são obrigados a recuar, o que justifica a continuidade das relações do Brasil com a entidade sionista? Lula já chamou o massacre em Gaza de genocídio – e está correto. Mas palavras não bastam. Enquanto o governo brasileiro mantém laços diplomáticos, comerciais e militares com “Israel”, sua condenação moral é vazia.

Pior: enquanto Gaza é reduzida a escombros, o Senado brasileiro – com apoio de setores do PT – aprovou o “Dia da Amizade Brasil-Israel”. Que amizade é essa? Amizade com os carrascos que matam 15 mil crianças? Amizade com um regime de apartheid que há 75 anos extermina um povo inteiro? Essa votação é uma traição à luta do povo palestino e à esquerda que diz combater o imperialismo.

O PT não pode ser conivente. Se Lula realmente condena o genocídio, deve seguir o exemplo da Bolívia e da Colômbia: romper relações imediatamente, fechar a embaixada brasileira em Jafá (“Telavive”), expulsar a embaixada sionista de Brasília, e cortar todo comércio militar e econômico com o regime assassino. Enquanto isso não acontecer, suas palavras serão apenas gestos vazios.

Se até os governos europeus fingem se distanciar, o Brasil – que almeja uma posição de liderança dentre os países atrasados – não pode continuar sendo cúmplice do “porta-aviões” do imperialismo na Ásia ocidental.

Não há neutralidade possível em um genocídio. Ou se está do lado dos carniceiros, ou dos massacrados. E, a carnificina é tal, que mesmo os mais fortes apoiadores do sionismo são forçados a recuar. Até mesmo Donald Trump, com toda a fraseologia pró-“Israel”, não visitou o “país” em sua última turnê pela Ásia Ocidental, e estabeleceu negociações diretamente com o Hamas, passando por cima do governo Netanyahu. O governo Lula precisa escolher: será um verdadeiro aliado da Palestina ou um cúmplice do sionismo?

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