Para além da enxurrada de decretos populistas, do festival de declarações anticivilizatórias e de gestos neonazistas, a posse de Donald Trump em seu retorno à Casa Branca também foi muito comentada nas mídias graças ao look da primeira-dama dos Estados Unidos, Melania Trump.

A esposa do presidente republicano contrastou totalmente com a Melania do primeiro mandato. Desta vez, ostentou um traje em azul profundo com uma estrutura retilínea, quase militar, luvas pretas de couro, uma camisa com lapela alta em tom de branco, e um chapéu que escondia parte do rosto e o olhar da primeira-dama. “Se a moda é política, o que Melania quis nos dizer?”

A pergunta foi feita pela ex-candidata a vice-presidente da República e ex-deputada federal Manuela D’Ávila em suas redes sociais. Na publicação, ela demonstra um incômodo com a mensagem subliminar que Melania tentou transmitir com seu traje.

“Passei o dia atenta aos sinais da posse de Trump. Foram muitos. Uns mais objetivos, outros mais subjetivos. Entre eles, as mãos cruzadas de Melania, sua esposa, sob o casaco absolutamente fechado e o chapéu que nos impedia de olhar para seus olhos. Se a moda é política, o que Melania quis nos dizer? Como mulher, o que você sentiu quando a viu vestida desse jeito?”, indagou Manuela.

À esquerda, Ivanka Tump na posse do segundo mandato de Donald Trump. À direita, a personagem da série O Conto de Aia, Serena Joy

Muitas mulheres responderam à publicação citaram o livro de Margaret Wood transformado em série pela Hulu, The Handmaid’s Tale (O Conto de Aia), como referência para explicar o sentimento causado pelas roupas das damas da família Trump.

Porque além do impactante traje de Melania, comentado ao redor do mundo todo, o vestido da grife Dior usado por Ivanka Trump não passou desapercebido, sobretudo pela cor utilizada: um verde petróleo muito similar ao usado por uma das personagens principais do Conto de Aia, Serena Joy, uma escritora que ajuda a promover um golpe de Estado nos EUA para colocar no poder uma oligarquia de ultraconservadores que retiram todos os direitos das mulheres e outras minorias.

Mas se deixarmos a ficção de lado, ainda assim, são muitos os recados dados pela vestimenta de Melania Trump neste retorno à Casa Branca. A começar pela mudança na escolha dos estilistas. Na primeira posse de Donald Trump, em 2017, Melania usou um vestido e luvas em azul claro assinados por gripes europeias, e um coque clássico que permitia ver seu rosto sorridente.

Agora, em 2025, quando Trump volta ao poder com sede de “vingança”, Melania abandona os estilistas estrangeiros e desfila o traje assinado pelo nova-iorquino Adam Lippes, em com cores muito mais sombrias, coroada por um chapéu de Eric Javits (também estadunidense) que não lhe permite ter muito contato visual com o público.

Em entrevista ao portal Marie Claire, Thais Farage, especialista em gênero e moda, explicou que usar chapéu é um item comum no guarda-roupa das primeiras-damas. A diferença, desta vez, é que Melania escolheu um que não só a coloca em segunda plano por esconder seu rosto, mas também passa a mensagem de que ela não está preocupada em manter contato visual com a sociedade, que não está preocupada em parecer acessível.

Associado ao casado acinturado e scarpin em veludo, entre outros detalhes do traje, tudo se resume em uma palavra, diz Thais Farage: “impecável. E é essa imagem que ela está passando, de ser austera, de submissão ao marido. Ela está solidificando uma imagem das mulheres conservadoras para o futuro”.

Para a especialista em personal stylling, Manu Carvalho, o azul profundo escolhido por Melania deixou a imprensa na dúvida: era diplomação presidencial ou um funeral? “De 2017 para 2025, Melania tocou ombros arredondados por ombros pontudos, linhas sinuosas por linhas retas, abotoamento simples por abotoamento duplo, gola ampla por gola fechada com lapela alta e pontiaguda e fechou com um chapéu que cobriu na maior parte do tempo a parte mais relevante do rosto: os olhos. Trocou a estética pós guerra, bem Jacqueline Kennedy, por essa silhueta militar. Se seu look determinasse o mandato, era para se esperar tempos duros e austeros. Veremos.”

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Last Update: 21/01/2025