O primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz, comentou a fala do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que criticou o mandatário ucraniano Volodymyr Zelensky, acusando-se de ser um “ditador” por discordar da proposta norte-americana para o fim da guerra com a Rússia.
Para Scholz, que concedeu entrevista ao jornal alemão Spiegel nesta quarta-feira 19, o fato de Trump chamar Zelensky de ditador “é falso e perigoso”. “É simplesmente errado e perigoso negar ao presidente Zelensky sua legitimidade democrática”, afirmou.
Nesta semana, Trump subiu o tom contra Zelensky depois que o ucraniano discordou da abordagem direta entre o republicano e Vladimir Putin. Para Zelensky, a Ucrânia deve participar das negociações pelo fim do conflito, que se estende há quase três anos. O ucraniano também se queixa do interesse dos Estados Unidos em reservas minerais do seu país.
Trump foi às redes para dizer que “os EUA gastaram mais de US$ 200 bilhões a mais do que a Europa” no apoio à Ucrânia, o que não corresponde aos dados do Instituto Kiel para a Economia Mundial (IfW), que aponta que, na verdade, os gastos se distribuem da seguinte forma:
- União Europeia: US$ 138 bilhões de dólares;
- Estados Unidos: US$ 119 bilhões de dólares.
Os dados, aliás, se referem ao conjunto total de ajuda financeira, humanitária e militar fornecida à Ucrânia.
Como Zelensky se mantém no poder há tanto tempo?
Volodymyr Zelensky, um ex-comediante ucraniano, foi eleito para a presidência do país em abril de 2019. Vitorioso sobre Petro Poroshenko, um bilionário que presidiu o país entre 2014 e o ano do último pleito, Zelensky deveria ter encerrado o seu mandato no primeiro semestre de 2024.
Só que, desde que foi invadida pela Rússia, a Ucrânia foi forçada a viver sob lei marcial. Significa dizer que Zelensky, como presidente, se mantém no cargo sem que se realize uma nova eleição.
A prática é pouco habitual e só costuma acontecer nos momentos em que países entram em guerra. A expectativa é que uma nova eleição na Ucrânia seja realizada apenas quando a situação no país do leste europeu se normalizar, o que não é possível estimar.
O estabelecimento de uma lei marcial está previsto na Constituição ucraniana, que relativiza o tempo máximo de cinco anos para o mandato quando tais condições especiais estiverem presentes. Esse trecho, inclusive, foi incluído em 2015, logo depois que a Rússia anexou a Crimeia, antigo território ucraniano.
A percepção da população sobre Zelensky e sobre a lei marcial
Até o momento, a maioria da população ucraniana respalda a permanência de Zelensky no cargo e a continuidade da lei marcial. No último mês de setembro, 60% da população foi contrária à realização de eleições durante a guerra, segundo dados do Instituto Republicano Internacional.
Mais recentemente, neste mês de fevereiro, um levantamento do Instituto Internacional de Sociologia de Kiev mostrou que 57% da população diz confiar em Zelensky. O número é alto, mas já foi bem maior: tendo alcançado o seu pico de 90% em maio de 2022.
Junto a números e índices de aprovação, a realização de um pleito presidencial na Ucrânia, neste momento, seria praticamente impossível.
Desde que a guerra começou, várias cidades do país foram ocupadas pelas tropas russas, sem desconsiderar o fato de que parcela importante da população ucraniana teve que fugir do conflito: segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 25% de todos os ucranianos saíram do país desde o início da guerra. Pouco mais de 6 milhões deles foram para outros países da Europa, e ainda há o deslocamento interno. Além disso, 880 mil ucranianos estão, neste momento, lutando no exército, segundo Zelensky.