Lula visita Cristina e reafirma o vínculo que resiste à perseguição, provando que legitimidade não nasce de cargos, mas de memória e coragem
Lula e Cristina não foram apenas perseguidos, foram alvos de um projeto transnacional que busca desidratar qualquer tentativa de soberania popular na América Latina. O lawfare que os atingiu não é aberração, é método. Cristina segue condenada apesar da falta de provas diretas e denúncias de parcialidade. Lula foi impedido de concorrer em 2018 por um juiz que virou ministro de Bolsonaro, lucrou no setor privado e hoje é senador. Em comum, os dois enfrentaram a combinação venenosa de tribunais parciais, mídia concentrada e plataformas digitais que empurram o ódio com precisão cirúrgica.
Ambos conheceram a solidão das sentenças e a força dos que não se dobram. Lula passou 580 dias isolado em Curitiba, cercado por uma vigília que não deixou o acampamento silenciar nem por uma noite. Cristina está cercada por dezenas que, dia após dia, aclamam seu nome da calçada em frente à sua casa. O sistema tentou calá-los, mas foi a rua que lhes devolveu voz. A justiça popular seguiu firme mesmo quando a justiça formal falhou.
Foi nesse contexto que Lula, em plena visita oficial à Argentina, decidiu visitar Cristina em casa. Sabia do risco político e midiático. Em meio à guerra de comunicação que finalmente resolveu comprar, posou ao lado de uma liderança tachada como criminosa pelos mesmos setores que, no Brasil, o chamaram de presidiário. Sabia das manchetes, da exploração oportunista, do julgamento moral. Mesmo assim, foi. E publicou no Twitter: “Fiquei muito feliz em revê-la e encontrá-la tão bem, com força e gana de luta”. A mensagem é mais do que cortesia, é posicionamento. Reafirma o elo que os une, não apenas institucional, mas afetivo e político. Ambos seguem de pé, não apesar da perseguição, mas porque a legitimidade que carregam sobreviveu a ela.
Enquanto os dois reafirmam vínculos com o povo, o cenário latino-americano é invadido por figuras fabricadas sob medida para impedir qualquer horizonte emancipador. Milei é uma delas. Um produto polido pelo ressentimento, calibrado para o algoritmo, treinado para confundir desmonte com liberdade. Durante a Cúpula do Mercosul, ao posar ao lado de Lula, elevou sua cadeira num truque patético. Tentou parecer maior. Foi só menor. A cena condensou o vazio, a autoridade que precisa ser encenada já nasceu fracassada.
Bolsonaro já nem tenta parecer relevante. Se arrasta em público como mártir em decomposição, fazendo da própria ruína um espetáculo a ser consumido. Sua retórica moralista virou lamento, sua figura, relíquia de um tempo que insiste em não morrer. Mas segue sendo amplificado pelos mesmos sistemas que o fabricaram, redes, robôs, notícias falsas. Seu legado não é projeto, é trauma rentável.
E eu, no meio disso tudo, tento criar sozinha um menino que vai virar homem em um mundo cheio de ódio, de misoginia, sem Lula ou Cristina. Tentando evitar que ele ceda à pressão, à insegurança ou o que diacho seja, e se torne um pequeno Milei, que não precise fingir grandeza, nem confunda presença com performance, nem autoridade com volume. Que saiba reconhecer a dignidade que vem do vínculo, e não da encenação. Que aprenda que não se cresce subindo o encosto da cadeira. Cresce-se sustentando a própria altura, sem precisar subir em nada, e em ninguém.