Nesta quinta-feira, 17 de julho, movimentos sociais realizaram um protesto em frente ao Fórum Criminal da Barra Funda em solidariedade à Joice Silva, mãe de Guilherme Silva Guedes, 15 anos.

O jovem foi morto por dois ex-PMs em 2020 na Vila Clara, zona sul de São Paulo. Na época, moradores da região realizaram fortes protestos, reprimidos pela polícia comandada então pelo playboy João Doria. Cinco anos depois, a família ainda aguarda os envolvidos serem responsabilizados.

Judiciário enrola e aumenta o sofrimento da mãe

O júri popular dos ex-policiais acusados estava marcado para o dia 17 de julho, mas for desmarcado a dois dias da audiência. Agora só deve acontecer em março de 2026.

Joice recebeu com grande indignação este segundo adiamento. “E mais uma vez a audiência do Gui foi cancelada. Além de perder o amor da minha vida, estou sendo sentenciada à tortura”, disse.

Como na vez anterior, o argumento foi de que a defesa de um dos acusados não poderia comparecer por questões de saúde. Essa repetição nos faz perguntar: diante desses fatos, por que não se buscou um modo de não alongar mais ainda a espera dessa mãe?

Independentemente de quaisquer justificativas técnicas, o fato é que o Judiciário se mostra totalmente insensível à dor de uma trabalhadora negra que já sofreu demais. Fosse o caso de um filho de empresários da Faria Lima, é impossível imaginar essa enrolação.

Conheça a história

Em junho de 2020, Guilherme estava em um churrasco na casa da mãe. Tratava-se de uma ocasião especial: a família tinha ido conhecer o novo lugar onde moraria. Quando sua avó foi embora, o menino foi acompanhá-la para não voltar sozinha.

Por volta de 1h50 da madrugada saiu para conversar com conhecidos na rua. Um deles percebeu a aproximação de dois policiais à paisana e chegou a alertar Guilherme, que decidiu permanecer no local.

Os agentes atuavam como seguranças privados em um terreno da Globalsan, terceirizada da Sabesp, que supostamente vinha sendo alvo de ladrões. Embora Gui nada tivesse a ver com os crimes, foi sequestrado e morto brutalmente.

Um deles é o ex-sargento Adriano Fernandes de Campos, demitido da PMESP por manter uma empresa de segurança privada, o que é proibido. Campos chegou a ser absolvido em 2021 pela morte de Gui, mas o Tribunal de Justiça anulou a sentença e estabeleceu que fosse levado novamente a júri popular.

O outro envolvido chama-se Gilberto Eric Rodrigues, cujo histórico impressiona. Em 2013, Rodrigues era um dos oito policiais que apertaram o gatilho na Chacina do Jardim Rosana, no Campo Limpo, zona sul da capital. A motivação era executar uma pessoa que havia filmado um homicídio, mas sete moradores acabaram mortos no episódio.

Em 2015, ele chegou a fugir do Presídio Militar Romão Gomes onde se encontrava pela participação no massacre, só sendo preso novamente em 2021. Dois anos depois, em 2023, foi condenado a mais de 100 anos de prisão pela chacina. Como seu colega Campos, até hoje não foi punido pelo que fez com o filho de Joice.

De acordo com levantamento feito pela advogada criminalista e pesquisadora Débora Nachmanowicz, apenas 1,5% dos policiais envolvidos em ações que resultaram em mortes na cidade de São Paulo foram condenados entre 2015 e 2020.

“Não acredito na Justiça do Brasil. Justiça era provar a inocência do meu filho e ele voltar, mas não volta mais“, disse Joice à Folha de S. Paulo na semana passada, durante protesto por justiça para o estudante Marco Aurélio Cardenas Acosta, também vítima da violência policial.

Com informações de Ponte Jornalismo, G1 e Folha

Opinião

Precisamos acabar com o poder dos ricos sobre as nossas vidas

Israel Luz

No sistema capitalista todas as autoridades trabalham eficientemente para manter o extermínio de jovens negros e filhos da classe trabalhadora em geral, como Guilherme Silva.

Apesar disso, lamentavelmente muitos dos nossos ainda acreditam em contos de farda, ou seja, creem que a única forma de termos segurança é deixar correr solta a violência policial. Se assim fosse, as polícias brasileiras já teriam tornado nosso país um dos mais seguros do mundo, considerando que atuam do mesmo modo há décadas.

Para quebrar essas ilusões, é fundamental intensificar a denúncia de cada caso particular e fortalecer a luta de Joice e outras mães, pais e irmãos na mesma situação. Eles deixam evidente o papel de controle social da tal “segurança pública”.

Ao mesmo tempo, é estratégico ampliar os horizontes da luta: enquanto os ricos tiverem o poder das leis e das armas seremos o alvo. Por isso, a dura batalha contra a violência policial deve ser parte da construção de mudanças mais amplas no nosso país.

Nós, trabalhadores e trabalhadoras, não podemos mais ficar reféns de quem despreza nossa existência: os poderosos precisam perder o poder de decidir se vivemos ou morremos.
A estratégia socialista pode ser entendida, desse ponto de vista específico, como a afirmação radical do nosso direito à vida. Nós por nós, façamos com nossas mãos tudo o que nos diz respeito.

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Last Update: 18/07/2025