Mortes, queda de árvores, alagamentos, desabamentos e falta de energia elétrica. Já faz parte da rotina do paulistano quando chegam as “águas de março” no final do verão. Como se a população vivesse em uma época pré-industrial, a imprensa burguesa culpa a natureza e indica para o povo que o remédio é torcer para não acontecer nada de grave. O Estado de S. Paulo, por exemplo, publicou, na quarta-feira (12), uma matéria intitulada Chuva em SP mata um, deixa 127 mil sem luz e provoca caos – chuva, uma espécie de criminoso de alta periculosidade, solta nas ruas.
Na quarta-feira, um taxista foi atingido dentro do carro por uma árvore e morreu. Ocorreram 343 chamadas por queda de árvores no dia, incluindo um chichá de cerca de 200 anos no Largo do Arouche. Mais de 156 mil imóveis ficaram sem energia elétrica, fazendo lembrar dos longos apagões de 2023 e 2024. Assim como nas recentes enchentes no Rio Grande do Sul, a culpa é da chuva, do aquecimento global, de Deus ou do Diabo, mas nunca dos governos de direita que se gabam por “enxugar” o Estado.
Em outubro do ano passado, mais de 150 mil imóveis ficaram sem luz por mais de 100 horas. Gerando inclusive um gigantesco prejuízo econômico. A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo calculou que o prejuízo superou R$1,65 bilhão. Em 2023, a cidade de São Paulo teve imóveis sem energia elétrica entre 3 e 9 de novembro. Até a imprensa burguesa foi obrigada a reconhecer que o desempenho da Enel piorou de 2023 para 2024, mostrando que a tendência da empresa é torcer por tempo bom e seguir cobrando do povo.
A interminável sucessão de governos e prefeitos direitistas na cidade e estado de São Paulo, que atuam pela destruição dos serviços estatais, é convenientemente esquecida. Uma série de obras de infraestrutura que não foram realizadas ao longo dos anos também não existe para essa imprensa. A empresa de energia elétrica que abocanhou uma gigantesca estrutura de distribuição é citada no meio das matérias, mas como uma das vítimas da natureza malvada. A Enel aparece como uma empresa que contabiliza os danos e traz informação ao público, não como uma empresa que não investe em melhorias e atualizações, como trocar a fiação nos postes por fiação subterrânea, como na Avenida Paulista, por exemplo.
A receita neoliberal é bastante clara, entregar empresas públicas construídas com dinheiro de impostos e trabalho de funcionários públicos para capitalistas que vão destruir essas empresas e espremer o máximo de dinheiro da população que precisa usar os serviços. No caso das distribuidoras de energia elétrica, elas recebem de bandeja um monopólio. Toda a população é obrigada a usar seus serviços e sofrer as consequências da política da burguesia. Na propaganda, a iniciativa privada chega para injetar dinheiro e fazer o que o
Estado não consegue, modernizar e tudo o mais. Na realidade, aumentam as tarifas e enviam os lucros para fora do País.
Enquanto isso, a máquina estatal não mostra uma contrapartida. Na mão de verdadeiros criminosos, como são os políticos a serviço da burguesia, o Estado é colocado numa espécie de coma no que diz respeito aos serviços oferecidos ao povo. Essa é inclusive uma conhecida estratégia de propaganda a favor das privatizações, deixar os serviços estatais tão ruins que a população aceite qualquer mudança na esperança de alguma melhoria. Melhoria essa que não vem. E não virá da direita e dos capitalistas.