Tarcísio de Freitas concluiu, na terça-feira 23, o processo de privatização da Sabesp. Com a venda de 32% das cotas da companhia de saneamento, o governador paulista levantou 14,77 bilhões de reais. Um negócio da China. Para os compradores, como de hábito. A ação vendida pelo Estado foi precificada em 67 reais, valor 23% inferior ao preço de cada papel negociado na Bolsa de Valores naquele mesmo dia, 87 reais.
Sem concorrentes, a Equatorial Energia havia arrematado 15% dos papéis da Sabesp no início de julho por 6,9 bilhões de reais, tornando-se a acionista de referência. Outra fatia de 17% foi vendida por meio de uma oferta pulverizada de ações, com a participação de 17,9 mil pessoas físicas, que desembolsaram, ao todo, 1,5 bilhão de reais. O restante do valor, pouco mais de 6,3 bilhões, foi aportado por investidores institucionais.
Com a oferta pública, o governo paulista reduziu sua participação no capital social da Sabesp de 50,3% para 18%, abdicando de indicar o presidente da companhia. O novo conselho de administração será composto de nove integrantes, sendo três escolhidos pelo governo, três indicados pelo acionista de referência e três conselheiros independentes.
Ao se desfazer do controle da maior companhia de saneamento da América Latina e uma das maiores do mundo, Freitas minimizou a falta de concorrência para o acionista de referência da Sabesp e o baixo valor das ações vendidas pelo Estado. “Alguns candidatos tiveram dificuldade com o tamanho do cheque. Foi a maior ordem individual da história do Brasil”, disse o governador, acrescentando que os investimentos privados permitirão antecipar a universalização do acesso a água e esgoto para 2029.
Não é uma tarefa tão hercúlea quanto aparenta. Segundo o Novo Marco do Saneamento, a universalização significa 99% da população abastecida com água tratada e 90% com coleta e tratamento de esgoto. Do total dos domicílios atendidos pela Sabesp, 98% já possuem água tratada e 83% têm esgotamento sanitário. Além disso, a companhia computou um lucro líquido de 3,5 bilhões de reais em 2023. Como acionista majoritário, o governo poderia, se desejasse, ampliar significativamente os investimentos.
Fora da lista suja da OMS
O número de crianças sem ao menos uma dose da vacina contra difteria, tétano e coqueluche (a DTP) despencou de 687 mil, em 2021, para 103 mil no ano passado. Com a expressiva redução de 85%, o Brasil saiu da “lista suja” da Organização Mundial da Saúde, como é conhecido o ranking das 20 nações com pior cobertura vacinal do mundo. Em 2021, ocupávamos o sétimo lugar, um dos vergonhosos feitos do negacionista governo de Jair Bolsonaro. Graças aos avanços obtidos pelo País em 14 dos 16 imunizantes pesquisados, superamos o vexame global. “Após anos de queda nas coberturas vacinais infantis, a retomada da imunização no Brasil merece ser comemorada”, observou Luciana Phebo, chefe de Saúde do Unicef no Brasil. “Agora, é fundamental continuar avançando, ainda mais rápido, para encontrar e imunizar as meninas e meninos que ainda não receberam as vacinas.”
Pesquisa/ Problema doméstico
Desmatamento da Amazônia é mais impactado por consumo do Brasil que por exportações
A demanda estrangeira por commodities é frequentemente apontada como o motor do desmatamento na Amazônia, mas uma pesquisa coordenada por Eduardo Haddad, professor da Faculdade de Economia e Administração da USP, revela que os mercados domésticos exercem pressão ainda maior. Publicado na revista científica Nature Sustainability, o estudo indica que 83,17% da devastação do bioma está relacionada ao consumo fora da Amazônia. “Verificamos que 59,68% foram decorrentes de demandas do restante do Brasil e 23,49% de demandas do comércio internacional”, relatou Haddad à Agência Fapesp.
A produção local de soja, inferior a 200 toneladas até 1974, alcançou 50 milhões de toneladas em 2022, 41,5% do total. Igualmente vertiginoso foi o crescimento da pecuária. O número de cabeças de gado passou de 8,9 milhões, em 1974, para 104,3 milhões de cabeças em 2022 – 44,5% do rebanho nacional.
Valentão terá de indenizar Zanin
A 6ª Vara Criminal de Brasília condenou o empresário Luiz Carlos Basseto Júnior a pagar indenização de 10 mil reais a Cristiano Zanin, ministro do Supremo Tribunal Federal. Em janeiro de 2023, antes de ser nomeado para a Corte, o então advogado de Lula foi chamado de “corrupto”, “safado” e “vagabundo” pelo agressor, além de ter sido ameaçado no banheiro do aeroporto de Brasília. “Vontade de meter a mão na orelha de um cara desses”, disse Basseto, que registrou em vídeo o ataque, orgulhoso do feito. Na tentativa de escapar da punição, o valentão depois gravou um vídeo pedindo desculpas pelo incidente. A Justiça ainda condenou o empresário a quatro meses e 15 dias de detenção pelo crime de injúria, mas substituiu a pena privativa de liberdade por uma pena restritiva de direito. Ele poderá recorrer da decisão em liberdade.
Previdência/ No encalço dos falsários
PF deflagra operação contra fraudes em benefícios do INSS
A Polícia Federal e a Força-Tarefa Previdenciária deflagraram, na terça-feira 23, uma operação para combater fraudes no INSS. Ao todo foram cumpridos sete mandados de busca e apreensão expedidos pela 10ª Vara Federal Criminal do Distrito Federal. As investigações indicam que, de 2019 a 2022, criminosos se passaram por beneficiários com o uso de documentos falsos, abriram contas na Caixa Econômica Federal e solicitaram a transferência de benefícios para essas contas. Em algumas ocasiões, também conseguiram fazer empréstimos consignados. Ao menos 49 contas das Caixa e benefícios foram fraudados pela quadrilha.
Obituário/ Entre capas e móbiles
Hélio de Almeida explorava a força da simplicidade
Os caminhos profissionais enveredaram por outras direções, mas a amizade entre Hélio de Almeida e Mino Carta permaneceu no mesmo trilho, solidificada pela admiração e respeito mútuos. No fim da década passada, o designer e artista plástico desenhou algumas edições especiais de CartaCapital, em homenagem à parceria com Mino iniciada na revista Veja e aprofundada na IstoÉ e na curta experiência do Jornal da República. Afável, romântico, desenvolveu um estilo inconfundível, celebrado, entre outras publicações, pela referencial revista suíça Graph. Aliava imagens cruas a uma tipografia forte para conceder à literalidade jornalística o sonho da metalinguagem artística. Ao longo da carreira, desenvolveu projetos para as editoras Abril e Globo, o jornal Folha de S.Paulo e a revista Pesquisa Fapesp, além de conceber centenas de capas de livros, cartazes, ilustrações, logotipos e esculturas. Tinha fascinação por móbiles. “Foi um artista absolutamente livre, nunca preso a estéticas do momento, inquieto no melhor sentido”, descreveu a colega Mayumi Okuyama. Almeida morreu no sábado 20. Havia completado 80 anos de vida dias antes.
O dia mais quente
Domingo, 21 de junho de 2024. Segundo o observatório europeu Copernicus, foi o dia mais quente registrado desde o início das medições, em 1940. A temperatura média do planeta atingiu 17,09 graus Celsius. O recorde anterior havia acontecido no ano passado, no mês de julho (17,08°C). Pelo andar da carruagem, este será um recorde de curta duração. Mês após mês, os cientistas apontam elevações da temperatura nunca antes captadas pelos termômetros.
Esporte/ Olimpíada da paciência
Que comecem os jogos em Paris
Os parisienses estão incomodados com as restrições à circulação impostas pelo cuidado redobrado na segurança da cidade e o país continua sem um primeiro-ministro, passadas duas semanas das inconclusivas eleições legislativas antecipadas. Cem anos depois de ter sediado os jogos pela última vez, a capital francesa volta a receber, em clima de certeza e apreensão, uma Olimpíada. Como prometido, o Rio Sena está apto para as provas aquáticas. Há, no entanto, outras polêmicas. O comitê holandês decidiu manter longe da Vila Olímpica Steven van Velde, jogador da seleção de vôlei, condenado a quatro anos de prisão por estupro. Van Velde, de 29 anos, cometeu o crime há uma década. A vítima, uma pré-adolescente inglesa, tinha 12 anos. O holandês conheceu a vítima pelo Facebook e viajou de Amsterdã a Milton Keynes, vilarejo a 70 quilômetros de Londres, onde atacou a menor. A medida, diz o comitê holandês, visa “garantir um