Nascido na vila de Arraba, no distrito de Jenin, em uma família rural e empobrecida, Sami Taha Hamran perdeu o pai ainda na infância. Concluiu apenas o quinto ano na escola da vila e, diante das necessidades familiares, abandonou os estudos para sustentar sua casa. Dirigiu-se então à cidade de Haifa, onde conseguiu um emprego humilde na Câmara de Comércio Árabe com a ajuda de Rashid al-Haj Ibrahim, uma figura importante do nacionalismo palestino.
Pouco depois, transferiu-se para a Sociedade dos Trabalhadores Árabes da Palestina (SWAP), fundada em 1923 por ferroviários árabes e considerada a primeira organização sindical árabe do país. Ingressou como escriturário com salário modesto, mas desde o início demonstrou grande dedicação à formação política e teórica, estudando por conta própria a história do movimento operário internacional e aprendendo inglês até atingir fluência. Sob a tutela de Abd al-Hamid Haimur, fundador da Sociedade, ascendeu rapidamente dentro da organização.
A SWAP enfrentava, desde sua origem, dura repressão do Mandato britânico e ataques sistemáticos da Histadrut, central sindical sionista subordinada ao projeto colonial de ocupação da Palestina. Ainda assim, a Sociedade se expandiu na década de 1920 e consolidou-se nas cidades de Haifa e Jafa. Até meados dos anos 1930, suas atividades restringiam-se à organização sindical, negociações salariais e congressos internos. Mas durante a histórica greve geral de 1936, marco do levante nacional contra os britânicos, a Sociedade ampliou seu papel. Hamran, com apenas 25 anos, passou a representar a organização no Comitê Nacional Palestino, coordenando frentes populares de greve e assistência aos trabalhadores.
A repressão brutal das forças britânicas após a Revolta de 1936-1939 enfraqueceu momentaneamente o movimento operário. No entanto, com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, o crescimento industrial estimulado pelas necessidades militares britânicas no Norte da África trouxe nova força à organização sindical. Hamran teve papel destacado nesse processo. Milhares de árabes foram recrutados para trabalhar em instalações militares britânicas, e a SWAP organizou uma nova base operária nesses locais.
Esse crescimento se expressou de maneira inequívoca na Conferência de Jafa, em abril de 1943, onde participaram representantes de cerca de 28 mil trabalhadores. Hamran foi eleito presidente da conferência e rejeitou publicamente a proposta de greve convocada pela Histadrut, denunciando sua tentativa de controlar os trabalhadores árabes e reafirmando a independência política da organização. Esse episódio marcou sua consolidação como principal liderança sindical da Palestina.
Nos anos seguintes, Hamran conquistou projeção internacional, especialmente em 1945, quando foi delegado oficial da Palestina na Conferência Sindical Mundial em Londres. Sua participação foi motivo de disputa entre a SWAP e a Federação dos Sindicatos Árabes e Sociedades Operárias, organização fundada por comunistas árabes vinculados ao stalinismo e ao Partido Comunista da Palestina, que havia se dividido entre árabes e judeus. O confronto entre as duas entidades culminou na criação do Congresso dos Trabalhadores Árabes em agosto de 1945, com apoio dos partidos comunistas e reconhecimento internacional — enquanto Hamran foi relegado à condição de observador na etapa seguinte da conferência, em Paris.
Mesmo diante das divisões, Hamran reorganizou a Sociedade. Reconstruiu os núcleos que haviam sofrido dissidência, fundou cooperativas de produção e consumo, bancos populares e instituições de crédito para a classe trabalhadora. Em abril de 1946, liderou uma greve geral que paralisou os serviços postais e telegráficos em protesto contra a recusa do governo britânico em reconhecer a representação sindical dos trabalhadores árabes. A greve demonstrou a capacidade de mobilização e de enfrentamento da organização.
Em 20 de agosto de 1946, durante uma conferência nacional em Haifa com delegados de 42 filiais sindicais representando cerca de 80 mil trabalhadores, a Sociedade transformou-se formalmente em Conselho dos Sindicatos, adotando um programa socialista e nacionalista. Hamran foi eleito secretário-geral. O congresso reafirmou que o movimento sindical era a base de qualquer ação política, rejeitando o controle por elementos pequeno-burgueses e defendendo a soberania do proletariado na luta pela libertação da Palestina. Também declarou que o movimento sindical palestino deveria contribuir com a luta internacional dos trabalhadores, mas sem abrir mão da independência nacional e política.
Com esse prestígio, Hamran foi incluído pela Comissão Árabe Superior como membro da delegação palestina na Conferência da Mesa Redonda em Londres, em janeiro de 1947, convocada pelos britânicos para discutir o futuro da Palestina. Foi a primeira vez que um dirigente sindical árabe participou de uma negociação diplomática desse nível. Apesar do fracasso da conferência, Hamran manteve sua atuação política. Quando a ONU formou a comissão UNSCOP para examinar a situação da Palestina, a Comissão Árabe Superior decidiu boicotá-la. Em oposição a essa diretriz, o Conselho dos Sindicatos optou por dialogar com a comissão, rompendo publicamente com a principal direção nacionalista palestina.
O conflito se agravou em agosto de 1947, quando o Conselho realizou uma nova conferência e enviou uma mensagem ao secretário-geral da ONU, rejeitando categoricamente a partilha da Palestina e exigindo independência nacional. A carta afirmava que os judeus árabes residentes antes da ocupação britânica deveriam ser considerados cidadãos com direitos iguais, mas que os imigrantes sionistas deveriam ser expulsos. Essa posição, embora compatível com declarações anteriores da própria Comissão Árabe Superior, foi usada como pretexto por setores reacionários para acusar Hamran de traição.
Pouco depois, na noite de 11 de setembro de 1947, Sami Taha Hamran foi assassinado por um atirador desconhecido em Haifa. Seu funeral, realizado em Balad al-Shaykh, reuniu milhares de trabalhadores e militantes. Até hoje, o autor do assassinato jamais foi identificado, mas as circunstâncias apontam para uma execução política ligada às disputas internas entre os nacionalistas conservadores e o movimento operário independente.