Mais uma vez, me valho de Mahmud Darwich: seu poema “A Lei do Medo” foi escrito há muito tempo; não obstante, ainda se aplica à Palestina de hoje…
Por Salem Nasser, em Cegueira Coletiva
O assassino olha para o fantasma da vítima,
não para seus olhos,
sem remorso.
Diz aos que estão ao seu redor:
“Não me culpem, pois tenho medo.
Matei porque tenho medo,
e matarei porque tenho medo.”
Alguns espectadores
treinados em detalhar a análise psicanalítica
segundo a jurisprudência da justiça
dizem:
“Ele está se defendendo.”
E outros,
admiradores da superioridade
da evolução sobre a moral,
dizem:
“A justiça é aquilo que flui
da generosidade da força.
E a vítima deveria ter se desculpado
pelo trauma que causou ao assassino!”
E outros ainda,
dentre os juristas que distinguem
entre realidade e vida,
dizem:
“Se este incidente comum tivesse ocorrido
em outros países
que não estas terras sagradas,
a vítima teria nome e fama?
Vamos então consolar o amedrontado.”
E quando marcharam
em solidariedade ao assassino amedrontado,
alguns transeuntes
turistas estrangeiros
lhes perguntaram:
“Qual é a culpa da criança?”
Eles responderam:
“Ela crescerá e causará medo ao filho do amedrontado.”
“E qual é a culpa da mulher?”
Disseram:
“Ela dará à luz uma memória.”
“E qual é a culpa da árvore?”
Disseram:
“Dela nascerá um pássaro verde.”
E gritaram:
“O medo, não a justiça, é a base do reino!”
Quanto ao fantasma da vítima,
ele os observou de um céu límpido.
E quando atiraram nele,
não viram uma única gota de sangue!…
E ficaram com medo!
Salem Nasser é professor de Direito Internacional.
Este artigo não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.