Por Leonardo Sakamoto, no UOL
Ao tomar posse como o 47º presidente dos Estados Unidos, nesta segunda (20), Donald Trump pôs por terra os atuais esforços globais para limitar os impactos das mudanças climáticas ao prometer apoio total à exploração, ao uso e à exportação de petróleo e gás. Para isso, prometeu também combater leis ambientais e a prioridade a carros elétricos, política do governo Joe Biden.
Nenhum plano de mitigação do aquecimento global é possível com a nação mais rica do planeta jogando deliberadamente contra. Se já estava difícil, com o quadro atual, atingir a meta de restringir o aumento da temperatura global a 1,5ºC em relação ao início da era industrial, como proposto pelo Acordo de Paris, agora esse objetivo foi enterrado.
Se conseguiremos conter em 2ºC, 3ºC ou 4ºC, só o tempo vai dizer. Mas isso coloca o mundo em rota de extinção de espécies e de mudança definitiva da vida humana.
Em seu primeiro governo, Trump já havia retirado os Estados Unidos do acordo – a gestão Joe Biden reintegrou o país a ele. Agora, com o apoio da Câmara e do Senado e suporte na Suprema Corte, promete ser mais agressivo em ações negacionistas.
Claro que Trump não conseguirá reverter as (fracas) políticas de descarbonização global, mas ele deixou claro que vai fazer de tudo para vender energia norte-americana para o mundo. Ou seja, não apenas queimará carbono, mas tentará empurrar o planeta de volta ao antigo modelo. Em um momento em que precisamos de consensos, essa tensão condena o futuro comum da humanidade.
Anunciou que vai declarar uma “emergência energética nacional” para expandir a perfuração em busca de hidrocarbonetos. Usou como justificativa que a “a crise inflacionária foi causada por gastos excessivos e massivos e pela escalada dos preços da energia”. E repetiu um de seus bordões de campanha: “Perfure, querida, perfure!”.
Contraditoriamente, ele afirmou que seu governo vai garantir assistência às populações de estados atingidos por desastres, como o furacão na Carolina do Norte, em 2024, e os incêndios na Califórnia neste ano. Omitiu que a intensidade e a frequência de eventos climáticos extremos estão diretamente relacionadas ao aquecimento da temperatura média do planeta. Entre outros motivos, por estarmos queimando petróleo e gás.
Mas os eventos climáticos extremos que atingiram países como os Estados Unidos, a Espanha e o Brasil recentemente não foram suficientes para forçar que governos adotassem mudanças no comportamento.
As tragédias acontecem e, assim como o discurso de Trump, não se faz conexão entre uma coisa e outra. É capaz, como me comentou um observador privilegiado sobre debate do clima, que se culpem imigrantes trans pelos desastres e não a economia com base em carbono.
Trump é um negacionista-raiz, mas é apoiado por uma série de negacionistas-light. A diferença é que estes afirmam que acreditam no aquecimento global, mas defendem que dá tempo de salvar o planeta sem criar problemas para a exploração de petróleo. O que é uma grande fake news.
Todos os que batalham para, pelo menos, mitigar as mudanças climáticas, acreditavam que, quando a água chegasse ao pescoço e o fogo batesse à porta, os negacionistas votariam de forma diferente. Por aqui, o resultado das eleições do ano passado no Rio Grande do Sul das enchentes, por exemplo, mostrou que não.
A realidade fática e cientificamente comprovada importa cada vez menos. O que valem são as narrativas. É nesse contexto que Trump irá governar.
Conheça as redes sociais do DCM:
⚪️Facebook: https://www.facebook.com/diariodocentrodomundo
🟣Threads: https://www.threads.net/@dcm_on_line