O ministro do STF Alexandre de Moraes olhando para o lado, sério, sentado, de roupa social, perto de microfone
O ministro do STF Alexandre de Moraes durante julgamento da denúncia do núcleo 4 de trama golpista – Rosinei Coutinho/STF

O bolsonarismo precisa tomar cuidado com o que deseja, pois corre o risco que isso se torne realidade.

Respondendo à pergunta de um deputado republicano em uma audiência da Comissão de Relações Exteriores na Câmara do Deputados dos Estados Unidos, nesta quarta (21), o secretário de Estado Marco Rubio disse que está em análise e há uma grande possibilidade de acontecer uma punição contra o ministro do STF, Alexandre de Moraes.

Atendendo a pedidos do bolsonarismo (que vem articulando pressões da ala trumpista do Capitólio contra o julgamento de Bolsonaro por tentativa de golpe), o deputado republicano da Flórida Cory Lee Mills acusou o STF de perseguição. E afirmou que a prisão de Jair será política. A pergunta, que tortura a realidade, levantou a bola para a resposta de Rubio.

O instrumento usado pode ser a lei Magnitsky, que autoriza sanções contra indivíduos acusados de corrupção ou graves violações de direitos humanos. Moraes pode ser impedido de ir aos EUA e ter contas bloqueadas no país – o ministro diz que não tem nenhuma.

O governo Trump adoraria ver alguém mais alinhado a ele na Presidência do Brasil. Por exemplo, um político que bate continência para a bandeira de listras brancas e vermelhas e estrelas. Ou um outro político que veste orgulhosamente o boné MAGA (Fazer a América Grande de Novo, em inglês) e agora vê o aumento das tarifas de exportação impostas aos nossos produtos.

Tarcísio de Freitas (Republicanos) coloca boné pró-Trump e comemora posse do republicano. Foto: Reprodução

Mas a questão é que a depender do tamanho do movimento contra as instituições do nosso país, isso pode provocar o efeito oposto ao desejado. Ou seja, gerar uma identidade reativa e criar um caldo de insatisfação junto aos patriotas de verdade – que não gostam de outro país dizendo o que o Brasil deve ou não deve fazer.

Um exemplo disso aconteceu no Canadá, quando Trump começou a defender que ele se tornasse o 51º estado norte-americano. Os conservadores, que estavam liderando as pesquisas desabaram e o povo manteve os liberais no poder. Na América Latina, Trump conseguiu melhorar a popularidade da presidente Claudia Sheinbaum ao criticar o México. Sim, ele está se consolidando como um excelente anticabo eleitoral em democracias.

A família Bolsonaro confia que Trump vai pressionar o STF e o Estado brasileiro para evitar uma punição ao ex-presidente. Inclusive, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) tirou uma licença do mandato para ficar nos Estados Unidos conspirando contra a democracia brasileira ao pedir um help às autoridades de lá para emparedar as daqui.

Em uma de suas articulações, o Comitê de Assuntos Judiciários da Câmara dos EUA aprovou um projeto de lei que prevê deportação e veto de entrada a qualquer estrangeiro que, na opinião do governo norte-americano, atue contra a liberdade de expressão. Na prática, a proposta foi criada para impor sanções a Alexandre de Moraes, que suspendeu plataformas digitais instaladas no Brasil que se negaram a cumprir a lei e a obedecer a Justiça em território nacional.

O projeto ainda precisa ser aprovado no plenário da Câmara e do Senado e tem um longo caminho pela frente, mas foi usado como ferramenta de discurso de bolsonaristas, do bilionário Elon Musk (que detesta Moraes devido à suspensão temporária do X por aqui) e da gestão Donald Trump (que pressiona para que empresas norte-americanas tenham privilégios em outros países).

Vale lembrar que a prioridade do governo dos EUA são seus próprios interesses.

Se as narrativas entregues pela família Bolsonaro puderem servir a esses interesses, fomentando protecionismo e privilégios de empresas norte-americanas, por exemplo, serão usadas. O que reforça que o Brasil pode perder receitas e empregos devido a um grupo de brasileiros que não aceitou a derrota nas eleições e tentou um golpe de Estado.

Mas se o ataque a Moraes, ao STF e às instituições for muito forte, os EUA podem dar um empurrãozinho eleitoral à reeleição de Lula, que deve ser o principal crítico ao bolsonarismo e às próprias políticas de Trump no pleito de 2026.

Publicado originalmente em UOL

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Last Update: 21/05/2025