Por Leonardo Sakamoto
Se Jesus voltasse defendendo a mesma ideia central presente nas escrituras sagradas do cristianismo (e que, por ser tão simples, não é seguida como deveria) e andando ao lado dos mesmos párias com os quais andou, seria humilhado, xingado, surrado, alfinetado e explodido.
Ele seria chamado de mendigo e de sem-teto vagabundo, olhado como operário subversivo, alcunhado como agressor da família e dos bons costumes, violentado e estuprado, rechaçado na propaganda eleitoral obrigatória em rádio e TV, difamado nas redes sociais, censurado pela Justiça.
Teria seu barraco queimado e toda sua vida transformada em cinzas em uma reintegração de posse ao som das palmas dos ricos. Seria finalizado como comunista, linchado num poste pela população em nome da fé e das tradições, escravizado em uma fazenda, jogado da ponte por policiais.
Receberia socos e pontapés dos hoje autointitulados sacerdotes do Templo, supostos representantes dos interesses de Deus na Terra que afirmam lutar pelo direito de expressarem suas crenças, quando querem anular tudo o que pode ameaçar seu controle sobre o povo. E, ao final, alguém ainda tiraria uma selfie ao lado de seu corpo morto para postar no Instagram. Ou faria uma dancinha sobre o cadáver para o TikTok.
Como já disse aqui um rosário de vezes, se Jesus voltasse à Terra, nós o mataríamos em seu próprio nome. Pelo menos, 50 vezes. Ainda mais porque voltaria pobre, negra, mulher, trans. Considerando que Jesus foi transgressor em sua época, hoje seria tudo aquilo que é considerado inferior, marginal, blasfêmico ou de segunda classe.
Ou você acha que viria coberto de ouro e moraria nos Jardins ou na Barra da Tijuca?
Se houver um Deus, ele ou ela não morrerá de vergonha por causa daqueles que tocam a vida da forma que os faz mais felizes. Mas por conta dos que lançam preces e cantam musiquinhas louvando seu nome – para, logo depois, censurar, ofender, cuspir, bater, esfolar, arremessar e matar também em sua honra. Nessa hora, deve experimentar um sentimento louco de culpa somado à vergonha alheia.
Como disse aqui ontem, não sou um homem de fé, apesar de ter crescido em um lar católico