Luiz Fux e Alexandre de Moraes no STF. Foto: Fellipe Sampaio/STF

Por Leonardo Sakamoto

O bate-boca com o presidente Luís Roberto Barroso foi mais um capítulo do isolamento do ministro Luiz Fux no Supremo Tribunal Federal (STF) após ser poupado das sanções impostas pelos Estados Unidos a outros oito colegas da corte. Seu alinhamento a algumas posições defendidas por bolsonaristas tem sido visto como oportunismo diante do cenário eleitoral.

Barroso discutiu, nesta quinta (14), com ele, chegando a dizer que o colega não estava sendo “fiel aos fatos”. O quiprocó começou após Fux reclamar de ter sido substituído como relator de um processo.

Fux, André Mendonça e Kassio Nunes Marques, os dois últimos indicados por Jair Bolsonaro, não foram afetados pelas medidas punitivas de Donald Trump, que incluíram restrições de visto e sanções financeiras, especialmente direcionadas a Alexandre de Moraes — relator do julgamento do ex-presidente por tentativa de golpe de Estado e organização criminosa armada.

O ministro tem sido celebrado pelo bolsonarismo como alguém “moderado”, por ter se colocado de forma contrária a penas mais robustas contra alguns dos golpistas que participaram do 8 de janeiro. Ou questionado o julgamento em outros momentos, fugindo da maioria da Primeira Turma.

Se um nome alinhado ao ex-presidente, como o governador Tarcísio de Freitas, ganha a eleição, Fux, Mendonça e Nunes Marques terão mais poder do que têm hoje. O que significará influência para indicar nomes para o Superior Tribunal de Justiça, Tribunais Regionais federais, entre outros postos nos Poderes Judiciário e Executivo.

Como ele sabe que Lula não morre de amores por sua figura, é uma aposta pragmática.

Fux, ministro do STF, e Jair Bolsonaro. Foto: reprodução

A desconfiança vem da época do Mensalão. Petistas que foram envolvidos no escândalo apontaram, na época, que Fux, em campanha por uma indicação ao STF, garantiu: “mato no peito”. Interpretaram como alguém que se oferecia para ajudar a inocentá-los, apesar de afirmarem que não pediram isso a ele. Dilma Rousseff o indicou em 2011, e ele condenou os réus.

Já presidente da corte, em 2021, Fux foi acusado de matar no peito a revelação de que membros do Exército articularam uma pressão sobre o tribunal para não conceder um habeas corpus para Lula em 2018 (ele viria a ficar 580 dias preso, abrindo espaço para Jair Bolsonaro se eleger presidente). Na época, coube ao ministro Edson Fachin afirmar que isso era “intolerável e inaceitável”.

E, uma vez preso, Lula foi proibido por Fux de dar entrevistas, ao contrário do que acontecia com outros presos.

O ministro pode ter calculado que ficar ao lado de Moraes, que está apanhando que nem Judas em Sábado de Aleluia por causa de suas decisões nesta reta final do processo, vai levá-lo a ser alvo também. E tudo o que não deseja é ser colocado nos holofotes, até para não ser prejudicado em sua vida pessoal ou seus negócios.

Neste momento, conjectura-se que ele pode pedir vistas do processo, o que adiaria condenação e prisão de Bolsonaro, dadas como certas, para o início de 2026. Isso é tudo que o bolsonarismo deseja, para reforçar a condenação como tema eleitoral.

Pessoas ligadas aos ministros do STF dizem que ele não vai deixar de ser chamado para o aniversário de colegas. E, mesmo que isso acontecesse, não se importaria com isso. O isolamento, um sinal da dinâmica interna, não o afeta emocionalmente, nem politicamente.

Afinal, o ministro está à direita no espectro político, mas não é bolsonarista. É fuxista.

Publicado originalmente no Uol

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 15/08/2025