
Foto: Evaristo Sá – 10.jun.2025/AFP
Por Leonardo Sakamoto
Você, que ficou acampado na frente de um quartel, tomando chuva e passando frio, no final de 2022, pedindo que as Forças Armadas interviessem no resultado das eleições, é maluco. Doido. Biruta. Não sou eu quem disse disso, mas Jair Messias Bolsonaro, em seu depoimento, hoje, ao Supremo Tribunal Federal.
O que mostra que o ex-presidente é realmente um sobrevivente e abandona qualquer um à beira da estrada para se salvar.
“Agora, tem sempre os malucos ali que ficam com aquela ideia de AI-5 e intervenção militar. As Forças Armadas, os chefes militares, jamais iriam embarcar nessa porque não cabia isso aí”, disse o ex-presidente.
Isso foi proferido no momento em que ele jurava que não incentivou ataques contra instituições. E que graças a ele, “o pessoal não fez absurdo”.
🚨Bolsonaro diz que não estimulou nenhum ato anormal, mas que sempre tem uns malucos com a ideia
“Tem sempre uns malucos ali que ficam com aquela ideia de AI-5, intervenção.” pic.twitter.com/sHcIWmVvxZ
— Michelle Freitas (@BrazUK_News) June 10, 2025
O mais doido é que passamos o governo passado ouvindo reiteradas defesas da interpretação golpista de que o artigo 142 da Constituição Federal confere às Forças Armadas uma espécie de “poder moderador”. Ou seja, uma função de árbitro e xerife sobre os demais poderes.
A interpretação mirabolante é um dos pilares do golpismo bolsonarista, defendida em faixas carregadas por uniformizados com o amarelo-CBF e em orações na porta de quartéis. Foi amparada por juristas alinhados ao ultraconservadorismo e à extrema direita, mas rechaçada pelo STF e por quem está ancorado na democracia e na realidade.
Bolsonaro editou o texto de uma minuta de decreto de golpe de Estado que mandaria para o xilindró uma série de autoridades, melaria as eleições de 2022 e conferiria poderes excepcionais às Forças Armadas. Apresentou um rascunho do documento aos comandantes militares (que ele diz que não era nada, pois faltava cabeçalho e desfecho), sendo rechaçado pelo general Freire Gomes e pelo brigadeiro Baptista Júnior e abraçado pelo almirante Garnier.
Bolsonaro admitiu, hoje, ter procurado os três para agir contra as eleições, mas afirmou que não tinha clima. Não é que ele não tentou, ele não conseguiu. Acreditava também, portanto, na intervenção militar até que ela indicou que não acreditava nele.
Os seguidores mais ferrenhos, certamente, não vão se importar. Talvez porque acreditem que isso faz parte da estratégia do “mito” de contornar sua condenação. Talvez porque saibam que Bolsonaro fará qualquer coisa para triunfar. Ou talvez porque Jair esteja certo e eles sejam, de fato, malucos.
Publicado originalmente no Uol