Sadhij Nassar nasceu em Haifa, durante o período do Mandato Britânico. Filha do iraniano Shaykh Badi‘ullah Baha’i, de Acre, recebeu formação escolar no colégio Sisters of Nazareth, também em Haifa. Casou-se com o jornalista Najib Nassar, fundador do jornal al-Karmel, criado em 1908 na mesma cidade, com quem teve um filho, Faruq.

Sua trajetória política e jornalística começou em 1923, ao ingressar como redatora no al-Karmel. Com o tempo, passou a editar e administrar a publicação ao lado do marido, assumindo funções centrais na organização do jornal. Em 1926, inaugurou a seção “Seção das Mulheres”, dedicada a artigos de conteúdo social escritos por homens e mulheres. A partir de 1932, passou a coordenar duas colunas distintas, uma voltada às questões femininas e outra aos problemas sociais em geral.

Os textos de Sadhij Nassar eram marcados por um conteúdo democrático e nacionalista. Defendia que as mães palestinas educassem seus filhos e filhas com igualdade, clamava pela formação educacional da mulher e sua inserção no mundo do trabalho. Criticava os vícios sociais da época e conclamava as mulheres a se engajarem na luta política e na resistência contra o colonialismo britânico e o projeto sionista de ocupação da Palestina.

Sua atuação, no entanto, não se limitava ao jornalismo. Em 1930, fundou com Mariam al-Khalil a União das Mulheres Árabes em Haifa, entidade que teria papel relevante durante a Greve Geral de 1936, inclusive organizando manifestações femininas durante o movimento. Foi pioneira na tentativa de organizar as mulheres camponesas do distrito de Baysan, onde viveu por um período, embora esse esforço não tenha tido continuidade prática.

Sadhij Nassar esteve presente em importantes conferências árabes. Participou do Congresso das Mulheres do Oriente, realizado no Cairo em outubro de 1938, a convite de Huda Sha‘rawi. Representando a delegação palestina, foi eleita secretária do escritório do congresso. A conferência defendia o fim do Mandato Britânico e a constituição de um Estado soberano na Palestina. Seis anos depois, em 1944, discursou no Congresso Geral das Mulheres Árabes, na Ópera do Cairo, organizado pela União Feminista Egípcia. Em sua fala, conclamou os povos árabes a agirem com urgência para salvar a Palestina.

Em decorrência de sua militância nacionalista, foi a primeira mulher palestina presa pelas autoridades britânicas. Em fins de 1938, foi acusada de fornecer armas aos combatentes palestinos e considerada pelas autoridades coloniais uma “agitadora perigosa”. Passou onze meses no campo de detenção de Belém. Uma campanha local e internacional foi deflagrada por sua libertação. Seu marido escreveu uma carta pública afirmando que, se não entrasse na história por seu trabalho no al-Karmel, o faria por ser companheiro de Sadhij.

Apesar da repressão, continuou atuando no jornal até seu fechamento definitivo em 1944, sob os dispositivos de emergência do Mandato. Após a Nakba de 1948, exilou-se no Líbano, onde publicou artigos no jornal al-Yawm sobre a catástrofe palestina e a degradação das condições de vida de seu povo. Mais tarde, já na Síria, continuou sua produção intelectual em periódicos como o al-Qabas.

Sadhij Nassar faleceu em Damasco, onde foi sepultada. Seu legado como militante nacionalista, jornalista e organizadora da resistência popular permanece como referência para a luta do povo palestino. Dominar quatro idiomas e transitar entre o jornalismo, a organização política e a ação direta a tornou uma figura singular na história da Palestina ocupada.

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 23/04/2025