Depois dos atletas com “gênero neutro”, o imperialismo traz novamente restrições à identidade russa e agora inventou os atletas de “nacionalidade neutra” nas Olimpíadas. Nas Olimpíadas de 2020 e nos Jogos de Inverno de 2018 e 2022, os atletas russos já competiram sem bandeira nacional e quando subiam ao pódio não era tocado o Hino da Federação Russa.
Na ocasião, a justificativa foi que atletas russos haviam testado positivo em exames antidoping. Ao invés de propor punições individuais, todos os atletas russos tiveram sua nacionalidade banida na competição, o que afastou diversos atletas, que se recusaram a consentir com tal humilhação.
Dessa vez, o pretexto foi a guerra travada contra o regime autoritário que governa a Ucrânia desde o golpe de 2014. Além de não participarem do desfile de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, os atletas russos e bielorrussos vão disputar como “Atletas Neutros Individuais”.
Seguem sem bandeira nacional nem hino no pódio, seus uniformes não podem nem ter as cores nacionais, devendo usar apenas uma cor. Além disso, não poderão competir em equipes, ficando assim vetados integralmente nos esportes coletivos. Mas mesmo um atleta que concorde com todas essas condições ainda passa por um filtro político, caso tenham se manifestado favoravelmente às posições russas no conflito já estão excluídos automaticamente da competição.
Assim como vimos no início da operação militar russa, o imperialismo segue proliferando uma campanha de perseguição a quaisquer símbolos russos, com episódios grotescos como a alteração do nome do quadro “Dançarinas” de Edgar Degas para “Dançarinas Ucranianas”. Uma espécie de veto à identidade russa em geral, o que foi chamado até de russofobia, expandindo para nível global o racismo anti-russo estimulado pelo governo autoritário da Ucrânia.
Se a perseguição aos atletas russos, que costumam se destacar em jogos olímpicos, já era bem explícita, agora a coisa desandou de vez. Isso porque o escândalo dos ataques militares contra civis palestinos não pode ser escondido, em grande parte por conta da comunicação através das redes sociais. No mínimo 40 mil civis já morreram diretamente na carnificina, se levarmos em conta as mortes indiretas a cifra supera a centena de milhar. Ao contrário da Rússia, que combate soldados, ataca civis desarmados. Mas os atletas israelenses não vão competir como Atletas Neutros Individuais.
Se os fatos fossem realmente importantes para o Comitê Olímpico Internacional, deveriam levar em consideração, por exemplo, que o governo ucraniano passou oito anos atacando civis do próprio país no Donbass. E, para piorar, por motivação étnica. Não por acaso as forças armadas do país acolheram as milícias fascistas às suas fileiras, incluindo as abertamente saudosistas do nazismo. A resposta russa, longe de ser algo repentino ou inesperado, foi até demorada. Em nenhum momento se cogitou punir atletas ucranianos, o que, vale destacar, também não faria qualquer sentido.
Indo mais além, por que os Estados Unidos não seriam banidos pela longa ficha corrida das suas forças armadas? Para ficar em apenas dois dos seus crimes neste século, cabe citar a criminosa invasão do Iraque, que causou a morte de mais de um milhão de pessoas, deixando um rastro de desestabilização política na região. Pouco antes, invadiram o Afeganistão e praticaram crimes de guerra como diversas modalidades de tortura na prisão de Guantánamo.
Crimes que foram amplamente expostos através do portal WikiLeaks de Julian Assange. Nunca o banimento de seus atletas foi cogitado nas competições internacionais.
Mas a campanha anti-Rússia nas Olimpíadas não se restringe apenas aos atletas. A França foi além e decidiu impedir até os jornalistas russos de cobrir o evento. Como denunciado corretamente pela Embaixada Russa em Paris, uma ação que “viola grosseiramente a liberdade de imprensa”.
E ainda expõe mais uma vez a hipocrisia dos governos imperialistas, que se apresentam como os campeões da “democracia” no mundo, mas são inimigos dos direitos democráticos. A justificativa apresentada pelo governo francês foi coibir “interferência e espionagem”. Ou seja, no melhor estilo hollywoodiano, qualquer profissional russo seria na verdade um espião.
Nem os voluntários russos foram aceitos nas olimpíadas. Como naqueles filmes onde todo o vilão é russo e todo herói é norte-americano, as Olimpíadas de Paris se mostram um palco para a farsa do imperialismo “democrático”.