A Rússia lançou neste domingo (29) a maior ofensiva aérea desde o início da guerra contra a Ucrânia, há mais de três anos. Segundo o Comando da Força Aérea Ucraniana, foram 537 projéteis disparados, entre drones Shahed, mísseis de cruzeiro e balísticos — um novo recorde de intensidade nos ataques.
Apesar da interceptação de 475 desses artefatos segundo as defesas ucranianas, ao menos duas pessoas morreram e outras sete ficaram feridas em diferentes regiões do país. Além disso, um caça F-16 de fabricação americana foi destruído, matando o piloto.
Explosões em várias cidades
Os impactos da ofensiva foram sentidos de norte a sul da Ucrânia. Em Cherkasy, região central do país, seis pessoas ficaram feridas. A explosão danificou três edifícios residenciais e uma faculdade, segundo o governador regional Ihor Taburets.
A imprensa local, como o Kyiv Independent, relatou sons de explosões em Lviv, Mykolaiv, Zaporizhia e Dnipropetrovsk, além da capital, Kiev, onde uma nuvem laranja iluminou o céu durante a noite, resultado de detonações no ar.
Ataque como retaliação
Segundo analistas militares, a ação russa é uma resposta direta ao ataque ucraniano à frota de bombardeiros estratégicos de Moscou, ocorrido no início do mês. Na ocasião, drones e mísseis de Kiev teriam atingido instalações russas em profundidade.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, acusou Vladimir Putin de “insistir na guerra apesar dos apelos internacionais por paz”. O líder de Kiev voltou a pedir o envio de sistemas antiaéreos Patriot por parte dos Estados Unidos.
Washington, que tem demonstrado apoio limitado desde o governo Trump, ainda não respondeu oficialmente ao pedido.
Danos civis e infraestrutura
Além das perdas humanas, os ataques de domingo afetaram infraestruturas civis e industriais, especialmente no sul (Mykolaiv) e no centro do país (Dnipropetrovsk). Imagens divulgadas por autoridades mostram prédios carbonizados, vidros estilhaçados e equipes de resgate evacuando moradores.
Em resposta, o Ministério da Defesa russo afirmou ter atingido complexos militares e refinarias de petróleo ucranianos, além de interceptar três drones ucranianos na Crimeia e nas regiões de Kursk e Rostov, na fronteira.
Na área ocupada de Luhansk, uma pessoa teria sido morta por um drone de Kiev, segundo a agência russa RIA Novosti. Moscou também afirmou ter tomado a vila de Novoukrainka, em Donetsk.
Zelensky inicia saída de tratado antiminas
No mesmo dia, Zelensky assinou um decreto que coloca a Ucrânia no caminho para deixar a Convenção de Ottawa, que proíbe a produção e uso de minas antipessoais.
A medida, que ainda precisa ser ratificada pelo parlamento ucraniano, foi justificada como uma “necessidade de autodefesa diante da invasão russa”. O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia argumentou que Moscou utiliza minas de forma indiscriminada contra civis e soldados ucranianos.
A decisão segue o movimento de países aliados como Polônia, Finlândia, Lituânia, Letônia e Estônia, que também já anunciaram a saída do tratado diante da suposta ameaça regional.
Estagnação nas negociações de paz
Embora Putin tenha sinalizado interesse em uma nova rodada de negociações, não há avanços concretos nas tratativas entre Moscou e Kiev, que já realizaram duas reuniões em Istambul nos últimos meses, sem acordo.
Ambos os lados, no entanto, têm cooperado na troca de prisioneiros, um dos poucos pontos de entendimento desde o início da guerra, em fevereiro de 2022.
Enquanto o conflito se arrasta e a Ucrânia perde cerca de 20% de seu território, cresce a pressão internacional por uma solução política. Mas a ofensiva deste domingo reforça a percepção de que, pelo menos por ora, a guerra ainda está longe do fim.