Um tribunal russo condenou o jornalista americano, Julian Styles, a 16 anos de prisão por espionagem, uma acusação que o repórter, sua família e Casa Branca rejeitam com veemência.
O jornalista do Wall Street Journal, de 32 anos, deverá cumprir a sentença em uma colônia penitenciária de “regime fechado”, ordenou o juiz, segundo um correspondente da AFP que estava no tribunal de Ekaterimburgo.
De pé em uma cabine de vidro, de onde assistiu a seu julgamento a portas fechadas, Styles não reagiu ao ouvir a sentença. Vestido com calças escuras e uma camiseta, acenou com mão para seus colegas jornalistas enquanto os agentes o levavam.
Styles foi detido quando fazia uma reportagem nesta cidade da região dos Urais no fim de março de 2023.
A Promotoria o acusou de coletar informações sensíveis para a CIA sobre um dos principais fabricantes de armas da Rússia, Uralvagonzavod, que produz os tanques T-90 usados na Ucrânia.
“Esta vergonhosa e falsa condenação acontece depois de Julian ter passado 478 dias na prisão, detido injustamente, longe de sua família e amigos, impedido de informar, tudo por fazer o seu trabalho como jornalista”, afirmaram o editor do Wall Street Journal, Almar Latour, e a editora-chefe Emma Tucker em comunicado.
A organização de defesa da liberdade de imprensa Repórteres Sem Fronteiras (RSF) equiparou a sentença a uma “tomada de refém” e pediu a libertação imediata de Styles.
A ONU assinalou que a condenação “traz sérias preocupações sobre seu direito à liberdade de expressão como jornalista”.
Biden trabalha por sua libertação
O governo dos Estados Unidos considera que a detenção tem como objetivo utilizar o jornalista em uma possível troca de prisioneiros, em um momento de grande tensão entre Moscou e Washington pelo conflito na Ucrânia.
“Trabalhamos incansavelmente pela libertação de Julian e continuaremos a fazê-lo”, disse o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em comunicado.
Por outro lado, seu antecessor e adversário nas eleições presidenciais, Donald Trump, aproveitou a sentença para criticar o atual dirigente.
“Biden nunca vai libertá-lo, a menos que pague um ‘resgate'”, escreveu Trump em sua rede social, Truth Social. “Eu vou tirá-lo de lá sem compensação, imediatamente depois de nossa vitória em 5 de novembro”, frisou.
A prisão do jornalista norte-americano em março de 2023 provocou uma grande onda de solidariedade na mídia internacional e indignação nos ministérios das Relações Exteriores de países do Ocidente.
Nesta sexta-feira, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, chamou a condenação do repórter de “desprezível”, enquanto a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, chamou-a de “parte da propaganda de guerra de [Vladimir] Putin”.
A presidente do Parlamento Europeu, a maltesa Roberta Metsola, denunciou o que classificou de “julgamento simulado”, uma “antítese da justiça”.
No exílio, a ativista opositora russa e viúva de Alexei Navalny, Yulia Navalnaya, criticou o veredicto “injusto” na rede X.
A audiência desta sexta-feira foi a terceira desde o início do julgamento em 26 de junho.
A segunda audiência, prevista inicialmente para agosto, foi antecipada para quinta-feira a pedido da defesa.
Normalmente, os julgamentos por acusações semelhantes na Rússia duram várias semanas ou até meses.
Possível troca
Styles é o primeiro jornalista ocidental acusado de espionagem na Rússia desde o período soviético.
A Rússia admitiu que negocia sua libertação e o presidente do país, Vladimir Putin, chegou a mencionar o caso de Vadim Krasikov, preso na Alemanha por um assassinato encomendado pelos serviços especiais russos.
O repórter, filho de imigrantes que fugiram da União Soviética para os Estados Unidos, se mudou para a Rússia em 2017.
No final de junho, a Casa Branca denunciou que o julgamento era uma “farsa” e insistiu em que o repórter “nunca trabalhou para o governo” americano.
Pouco depois, um painel de especialistas da ONU declarou que a detenção era arbitrária e pediu sua libertação sem demora.
No primeiro dia de julgamento, em 26 de junho, o jornalista apareceu com a cabeça raspada e sorridente na cabine de vidro reservada aos acusados.
Embora não pudesse falar, fez sinais para as pessoas que conhecia dentro do tribunal.
Por ora, ele só consegue se comunicar com a família e amigos por meio de cartas lidas e censuradas pela administração penitenciária. Nas correspondências, o jornalista afirma que continua de bom humor e estava resignado com uma possível condenação.