O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, disse que seu país está “pronto” para alcançar um acordo que ponha fim à guerra na Ucrânia, segundo trechos de uma entrevista para a emissora americana CBS News divulgados na quinta-feira 24.
O presidente Donald Trump “fala de um acordo e nós estamos prontos para alcançar um acordo, mas ainda há alguns elementos específicos deste acordo que precisam ser ajustados”, disse Lavrov na entrevista. “Há diversos sinais de que estamos nos movimentando na direção certa”, acrescentou sem fornecer detalhes de quais ‘elementos’ ainda travam a negociação.
Quando questionado sobre a nova onda de ataques à Ucrânia que deixaram ao menos 12 mortos e dezenas de feridos em Kiev, Lavrov respondeu: “Apenas visamos alvos militares ou locais civis utilizados pelos militares.”
“Se isso era um alvo utilizado pelo Exército ucraniano, o Ministério da Defesa, os comandantes no terreno têm o direito de atacá-los”, continuou.
O ataque irritou Trump, que um dia antes havia anunciado ter um acordo com a Rússia e havia acusado o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, de dificultar as negociações de paz para o conflito desencadeado pela invasão russa em fevereiro de 2022.
Trump emitiu uma rara repreensão ao Kremlin através das redes sociais: “Não estou contente com os ataques russos”, escreveu. “Não são necessários, e o momento é muito ruim. Vladimir [Putin], PARE!”
Zelensky interrompeu uma visita à África do Sul para retornar urgentemente a Kiev após o ataque russo contra a capital.
“Querem nos destruir”
Rússia lançou 70 mísseis e 145 drones durante a madrugada de quinta-feira, segundo o governo ucraniano, em seis regiões do país e várias cidades, incluindo a capital, onde testemunhas descreveram cenas apocalípticas em uma área residencial, com prédios destruídos e corpos sem vida nas ruas.
“Eles querem nos destruir”, disse Olena Davidiuk, uma advogada de 33 anos que mora muito perto do ponto de impacto dos mísseis russos em Kiev. Ela disse que acordou com o som de explosões e correu para fora quando “as janelas e portas começaram a cair”.
Londres denunciou um “banho de sangue perpetrado por Putin” e novas cenas “chocantes”. A União Europeia condenou o ataque e disse que a Rússia continua sendo “o principal obstáculo à paz”.
Zelensky acusou a Rússia de ter utilizado um míssil “fabricado na Coreia do Norte” para os ataques.

Imóvel em Kiev atingido por um bombardeio russo.
Foto: Genya SAVILOV / AFP
Ceder territórios
A Ucrânia, diante do avanço russo, pode se ver obrigada a ceder territórios para alcançar uma paz temporária no conflito, admitiu o prefeito de Kiev, o ex-boxeador Vitali Klitschko, em uma entrevista à BBC.
“Um dos cenários seria abandonar territórios. É injusto, mas para a paz, uma paz temporária, talvez seja uma solução temporária”, disse o ex-campeão mundial dos pesos pesados, em uma entrevista em inglês.
“Mais pressão sobre a Rússia”
Na quarta-feira, as negociações em nível ministerial entre os Estados Unidos, a Ucrânia e dois aliados europeus, França e Reino Unido, foram canceladas no último minuto, após o vazamento de informações à imprensa sobre o possível reconhecimento por Washington da soberania russa sobre a Crimeia, península ucraniana que Moscou anexou em 2014.
Zelensky voltou a tratar do assunto em Pretória nesta quinta-feira. “Estamos fazendo tudo o que nossos parceiros propuseram, exceto o que é contrário à nossa legislação e à Constituição” ucraniana no que diz respeito à integridade territorial do país, incluindo a Crimeia, reiterou. Ele também pediu “mais pressão sobre a Rússia”.
“Estamos pressionando muito a Rússia, e a Rússia sabe disso”, afirmou por sua vez Trump, que tem sido acusado desde que chegou à Casa Branca no final de janeiro de favorecer Moscou para conseguir um acordo que ponha fim à guerra.
O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, considerou nesta quinta-feira que cabe à Rússia, e não à Ucrânia, avançar nas negociações para encerrar a guerra.
“Agora há algo sobre a mesa, eu acho, e os ucranianos realmente estão jogando bem. E acredito que a bola está claramente no campo russo agora”, disse Rutte a jornalistas na Casa Branca após se reunir com o presidente americano.
O enviado americano, Steve Witkoff, deve visitar Moscou no fim desta semana, enquanto Trump e Zelensky comparecerão ao funeral do papa Francisco em Roma no sábado.
(Com informações de AFP)