As relações militares entre a Rússia e a Coreia do Norte avançaram mais um passo com o envio de uma delegação de alto nível de Pyongyang a Moscou. A informação foi divulgada nesta terça-feira, 1, pela Agência Central de Notícias da Coreia (KCNA), órgão estatal norte-coreano.
A comitiva é liderada por Kim Kum Chol, chefe de uma das mais importantes escolas militares da Coreia do Norte, e partiu da capital norte-coreana no último domingo (30). O principal destino da delegação é a Academia Militar do Estado-Maior General das Forças Armadas da Federação Russa, em Moscou, onde serão realizadas atividades de cooperação no setor de defesa.
A missão representa a segunda visita de Kim Kum Chol à Rússia em menos de um ano. A primeira ocorreu em julho de 2024, o que, segundo a KCNA, demonstra o ritmo contínuo da aproximação entre os dois países na área de segurança.
A viagem inclui representantes do Exército Popular da Coreia do Norte, também chamado de Exército Popular da República Popular Democrática da Coreia (RPDC), e diplomatas russos baseados em Pyongyang. A presença da embaixada da Federação Russa na organização da visita é vista como indicativo do envolvimento direto do governo russo no aprofundamento das relações bilaterais.
Acordo estratégico assinado em 2024
A intensificação da cooperação ocorre após a assinatura de um acordo de parceria estratégica abrangente entre Rússia e Coreia do Norte, oficializado em junho de 2024. O pacto prevê o aprofundamento dos laços em várias frentes, com ênfase nos setores militar, de segurança e diplomacia.
Esse acordo formalizou um processo de aproximação iniciado em setembro de 2023, quando o líder norte-coreano Kim Jong-un realizou uma visita à Rússia e se reuniu com o presidente Vladimir Putin. O encontro abriu espaço para novas trocas institucionais, missões técnicas e colaboração no setor de defesa, em um momento de rearranjos geopolíticos no leste da Ásia.
De acordo com declarações públicas feitas desde então, os dois países afirmaram compromisso com a expansão de iniciativas conjuntas voltadas à “estabilidade regional” e à “cooperação estratégica em longo prazo”. O conteúdo completo do acordo não foi integralmente divulgado, mas diplomatas russos e norte-coreanos têm reiterado o caráter “abrangente” do documento.
Diplomacia paralela avança no setor cultural
Além da área militar, as relações entre os dois países também se intensificaram no campo diplomático e cultural. Na segunda-feira (30), uma delegação russa liderada pela ministra da Cultura da Federação Russa, Olga Lyubimova, visitou locais simbólicos de Pyongyang, entre eles o Museu dos Presentes de Estado, a Igreja Ortodoxa Russa na capital norte-coreana e o centro de música e artes Juche.
A agenda cultural, divulgada pela KCNA, foi interpretada por analistas como parte da estratégia de Moscou de consolidar alianças fora do eixo tradicional das potências ocidentais. A presença da ministra em eventos com autoridades norte-coreanas ocorre em meio ao aumento da pressão internacional sobre a Rússia devido ao conflito na Ucrânia e ao isolamento diplomático imposto por sanções.
Visita reforça aliança em meio a tensão internacional
A delegação norte-coreana enviada a Moscou ocorre em um cenário global de crescente tensão entre grandes potências. A guerra entre Rússia e Ucrânia, a crescente presença militar dos Estados Unidos no Indo-Pacífico e os testes balísticos realizados por Pyongyang têm sido pontos de atenção de organismos multilaterais e governos da região.
O estreitamento de laços entre Moscou e Pyongyang é monitorado por países membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e também por aliados dos Estados Unidos na Ásia, como Coreia do Sul e Japão. O risco de transferência de tecnologia militar, inclusive de mísseis e drones, é uma das principais preocupações mencionadas por autoridades do Ocidente.
O governo norte-coreano não divulgou o conteúdo das atividades previstas durante a visita à Academia Militar do Estado-Maior General das Forças Armadas da Rússia. No entanto, fontes oficiais da KCNA indicaram que o foco será a ampliação das capacidades de intercâmbio técnico e formação de pessoal no setor de defesa.
Alinhamento pode impactar cenário regional
Especialistas internacionais avaliam que a visita pode consolidar um novo eixo de influência regional no leste da Ásia, com efeitos indiretos sobre o equilíbrio militar da região. A cooperação entre Rússia e Coreia do Norte, segundo observadores, sinaliza uma reorganização de alianças estratégicas que transcende os formatos tradicionais baseados na presença americana e da OTAN.
Embora os governos de Moscou e Pyongyang mantenham silêncio sobre possíveis acordos de fornecimento de armas, há preocupação crescente sobre uma eventual coordenação entre os dois países em conflitos que envolvam interesses diretos de potências ocidentais.
O envio da delegação norte-coreana à Rússia amplia o calendário de atividades conjuntas entre os dois países e antecipa um cenário de colaboração crescente nos próximos meses, com potencial impacto nos debates de segurança regional promovidos por fóruns como o Conselho de Segurança da ONU.