O presidente do Comitê de Assuntos Internacionais da Duma Estatal da Rússia, Leonid Slutsky, declarou nesta segunda-feira (24) que Moscou está pronta para responder de maneira proporcional a qualquer ameaça vinda da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). As declarações foram publicadas pela agência estatal russa TASS.
Slutsky, que também lidera o Partido Liberal Democrático da Rússia (LDPR), criticou duramente as recentes falas do novo secretário-geral da Otan, Mark Rutte.
O político holandês desconsiderou a relevância das negociações entre Rússia e Ucrânia realizadas em Istambul, chamando-as de “não sérias”. Em resposta, Slutsky afirmou que essa postura revela a rejeição do Ocidente em buscar soluções diplomáticas para o conflito.
“O que quer dizer esse ‘estrategista’ da Otan ao afirmar que espera por ‘conversas sérias’? Como de costume no Ocidente, não se aposta em mecanismos político-diplomáticos, mas sim na coerção pela força”, escreveu o deputado russo em seu canal no Telegram.
As críticas surgem em um momento de crescente tensão entre Moscou e a aliança militar ocidental. Para Slutsky, as conversas em Istambul representam uma via legítima de negociação e devem ser levadas em consideração. “As negociações em Istambul representam uma oportunidade real de cessar as hostilidades, salvar vidas e alcançar uma resolução”, declarou.
O parlamentar também avaliou que a situação no campo de batalha tem se agravado para Kiev e que o discurso ocidental de desqualificar o diálogo apenas enfraquece o governo ucraniano. “Repetir que as negociações não são sérias, como dizem os políticos ocidentais, é um tiro no pé do regime de Kiev”, afirmou.
Slutsky ainda acusou a Otan de sustentar um governo ucraniano que, segundo ele, estaria fundamentado no “ódio armado à Rússia e o neonazismo”. “A bravata de Otan não será capaz de salvar o regime ucraniano, que embarcou num caminho de russofobia armada e acionou assim seu próprio mecanismo de autodestruição”, completou.
As declarações do parlamentar ocorrem em meio à continuidade das trocas de prisioneiros entre Rússia e Ucrânia. Após duas rodadas de negociações realizadas na Turquia, os dois países chegaram a um acordo para uma troca em larga escala no modelo “1.000 por 1.000”. O arranjo inclui prisioneiros feridos gravemente, militares com menos de 25 anos e outros detidos classificados em categorias especiais, sob o princípio de “todos por todos”.
Ao longo dos dias 9, 10, 12 e 14 de junho, a Rússia repatriou quatro grupos de soldados que haviam sido capturados pelas forças ucranianas. De forma equivalente, a Ucrânia recebeu combatentes de volta em número similar. Esse movimento bilateral tem sido um dos poucos pontos de convergência entre os dois lados desde o início do conflito em fevereiro de 2022.
Outro aspecto destacado pelas autoridades russas é o retorno de corpos de militares mortos. Moscou afirma ter devolvido 6.060 corpos de soldados ucranianos e recebido, em troca, 78 corpos de combatentes russos. As informações fazem parte de um esforço conjunto para a repatriação de restos mortais, embora o desequilíbrio numérico na troca tenha gerado reações divergentes em ambos os países.
O pronunciamento de Slutsky também ocorre após a posse de Mark Rutte como novo secretário-geral da Otan. Rutte assume o posto em um momento de intensificação dos exercícios militares da aliança no leste europeu e de crescente pressão por parte de alguns Estados-membros para aumentar o apoio militar a Kiev. As falas do político russo reforçam a posição de Moscou de que o Ocidente estaria apostando no prolongamento do conflito em vez de buscar um desfecho negociado.
Embora não tenha anunciado medidas específicas, Slutsky reiterou que a Rússia está pronta para agir com base na proporcionalidade diante de qualquer iniciativa da Otan que seja percebida como ameaça direta. A retórica acompanha o posicionamento oficial do governo russo, que nos últimos meses tem alertado sobre o que considera uma escalada da aliança militar em direção às fronteiras russas.
A fala do parlamentar russo também destaca a dificuldade de retomada de negociações políticas mais amplas, em um cenário marcado por desconfiança mútua e acusações recíprocas. As conversas em Istambul, realizadas ainda no primeiro semestre do conflito, foram interrompidas sem um acordo concreto. Desde então, iniciativas mediadas por países terceiros têm enfrentado obstáculos tanto por parte de Moscou quanto por parte de Kiev e seus aliados.
Por ora, a troca de prisioneiros segue como um dos poucos canais de diálogo entre os dois países. O governo russo tem sinalizado disposição para manter esse tipo de negociação humanitária, mas insiste que qualquer avanço duradouro depende da mudança de postura por parte dos países ocidentais.
Enquanto isso, os embates no campo militar continuam, e as posições políticas entre Rússia e Otan parecem cada vez mais distantes.