Em meio à escalada das tensões no leste europeu, a Polônia elevou o tom contra a Rússia, após as declarações de Varsóvia sobre se preparar para um confronto direto com Moscou. O alerta foi dado pelo ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, que afirmou que as recentes movimentações militares e declarações do governo polonês não deixam dúvidas sobre as intenções beligerantes do país vizinho.
A denúncia russa ganha força diante de uma série de medidas adotadas pelo governo polonês nos últimos meses, que vão desde o aumento recorde dos gastos militares até a mobilização de tropas e discussões sobre o acesso a armas nucleares. A Polônia, por sua vez, justifica tais ações como resposta à ameaça hipotética representada pela Rússia, utilizando a operação de desnazificação de 2022 como um fantasma de uma eventual ameaça da Rússia de Putin aos demais países.
O país tem se destacado como um dos que mais recebem investimentos da OTAN em defesa, proporcionalmente. Em 2024, Varsóvia já destinava 4,1% do seu PIB ao setor militar, mas anunciou um novo pacote de USD 7,7 bilhões, que elevará esse percentual para mais de 5% em 2026 — superando até mesmo os Estados Unidos, em termos proporcionais. O orçamento militar polonês para 2025 deve atingir 4,7% do PIB, com cerca de 186 bilhões de zlotys (43,3 bilhões de euros) destinados à modernização das Forças Armadas e à aquisição de equipamentos de ponta, como tanques Abrams, caças F-35 e sistemas de defesa aérea Patriot.
O presidente polonês Andrzej Duda e o primeiro-ministro Donald Tusk têm defendido publicamente a necessidade de elevar o patamar mínimo de gastos em defesa para 4% do PIB, pressionando outros membros da OTAN a seguir o exemplo polonês. “Não vivemos mais em uma paz pós-Guerra Fria”, declarou o ministro das Relações Exteriores, Radoslaw Sikorski, ao justificar o aumento.
Outro ponto central da estratégia polonesa é a ampliação do efetivo militar. O governo anunciou planos para dobrar o tamanho do Exército, de 230 mil para 500 mil soldados, além de implementar um serviço militar obrigatório para todos os homens adultos até o fim do ano. Atualmente, as Forças Armadas contam com cerca de 216 mil militares na ativa e 670 mil reservistas; a meta é chegar a 500 mil soldados e mais de um milhão de reservistas nos próximos três anos.
O primeiro-ministro Tusk afirmou que o objetivo é criar uma reserva militar “verdadeiramente adequada às ameaças potenciais”, referindo-se aos russos, e destacando diretamente que o treinamento em massa é uma resposta direta à tal da ameaça russa. O plano inclui ainda a possibilidade de modificar a Constituição para tornar permanente o patamar elevado de gastos militares.
A Polônia também anunciou investimentos bilionários na fortificação de suas fronteiras com a Rússia (enclave de Kaliningrado) e Belarus. O programa “Escudo Oriental” prevê a construção de 400 km de fortificações e o deslocamento de até 17 mil soldados para apoiar guardas de fronteira e proteger infraestruturas estratégicas.
O objetivo declarado é “impedir e repelir a guerra em nossas fronteiras”, segundo o premiê Tusk. A Rússia, porém, jamais fez alusão a invadir a Polônia, ao contrário da Ucrânia, cuja operação militar foi resultado de 9 anos de massacre aos russos promovidos pelos nazistas da Ucrânia sem a devida resposta em campo por parte da Federação Russa.
Voltando às tropas e equipamentos, o exército polonês mobilizou aviões de combate e colocou seus sistemas de defesa aérea e reconhecimento em alerta máximo, ressaltando que tais medidas são “de caráter preventivo”. A Polônia, principal base logística para o envio de armas imperialistas à Ucrânia, teme ser o próximo alvo de Moscou – que, apesar de justificado caso houvesse um ataque defensivo, não chegou a ser alvo sequer de ameaças por parte do governo russo.
Em um movimento que eleva ainda mais a tensão, o primeiro-ministro Tusk defendeu abertamente que a Polônia busque acesso a armas nucleares para dissuadir possíveis agressões russas. “Não basta comprar armas convencionais. O campo de batalha está mudando diante de nossos olhos”, declarou Tusk no Parlamento, sugerindo que Varsóvia deve explorar “as possibilidades mais modernas, também relacionadas a armas nucleares e armas não convencionais”.
A discussão sobre armamento nuclear surge em meio à percepção de que o compromisso dos Estados Unidos com a defesa europeia estaria enfraquecendo, especialmente após declarações do presidente norte-americano, Donald Trump, sobre a possibilidade de abandonar a OTAN e forçar a Ucrânia a aceitar um acordo de paz favorável à Rússia.
As lideranças polonesas têm sido enfáticas ao apontar a Rússia como a maior ameaça à segurança europeia. O presidente Duda afirmou que “todos os países da aliança deveriam aumentar imediatamente os gastos com defesa para pelo menos 3% do PIB”. Já o premiê Tusk alertou que, caso a Ucrânia perca a guerra ou aceite termos que enfraqueçam sua soberania, “a Polônia se encontrará em uma situação geopolítica muito mais difícil”.
O ministro das Relações Exteriores, Sikorski, reforçou que a Polônia não está mais em tempos de “eterna paz” e que o país precisa estar preparado para o pior cenário. O chefe do Estado-Maior do Exército, general Wieslaw Kukula, destacou a importância de preparar os soldados para um “conflito total”, em linha com a mudança estratégica adotada pelo governo.
Por fim, o fato é um só: a combinação de aumento recorde dos gastos militares, expansão do efetivo, fortificação de fronteiras, mobilização de tropas e debate sobre armas nucleares corrobora a denúncia russa de que a Polônia se prepara para um eventual confronto direto com Moscou.