O governo da Rússia acusou neste domingo, 4, a Ucrânia de adotar conduta que classificou como “comportamento terrorista clássico”, após a recusa de Kiev em aceitar uma proposta de cessar-fogo temporário durante as comemorações do Dia da Vitória, marcado para 9 de maio.
As declarações foram feitas por Maria Zakharova, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, em entrevista à emissora TVC, conforme divulgado pelo portal RT.
Segundo Zakharova, a recusa do governo ucraniano em considerar uma trégua no conflito é acompanhada de manifestações públicas que, na avaliação da diplomacia russa, representam ameaças à segurança da celebração militar que acontecerá em Moscou.
A cerimônia marcará os 80 anos da vitória da União Soviética sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial e contará com a presença de chefes de Estado estrangeiros.
A porta-voz fez referência a uma publicação feita por Andrey Yermak, chefe de gabinete da presidência ucraniana, que compartilhou nas redes sociais uma ilustração do presidente Volodymyr Zelensky diante do Kremlin em chamas.
A imagem, estilizada, incluía um trecho de uma canção soviética da época da guerra: “Fizemos tudo o que podíamos para tornar este dia mais próximo”. Yermak comentou: “Bem desenhado”.
Zakharova afirmou que manifestações como essa indicam um propósito que transcende o enfrentamento militar.
“As conversas sobre uma trégua por parte do regime de Kiev são uma zombaria dos esforços daqueles que realmente buscam a paz. Seu verdadeiro objetivo é explorar o Ocidente, espalhar o medo, matar, promover a ideologia neonazista e operar em um vácuo legal – um comportamento terrorista clássico”, declarou a representante do governo russo.
Ainda segundo ela, a postura da liderança ucraniana busca instrumentalizar negociações de paz como meio para obtenção de recursos externos. “Eles roubam bilhões em ajuda ocidental enquanto simulam disposição para dialogar”, acrescentou.
A proposta russa previa a suspensão temporária dos combates por um período de 72 horas, coincidindo com os preparativos e a realização do desfile militar na Praça Vermelha, evento que, de acordo com autoridades do Kremlin, tem caráter simbólico e representa um momento de reverência histórica à memória da vitória soviética. Moscou considera a preservação dessa cerimônia parte fundamental de sua política de Estado.
Em paralelo, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, fez um apelo a líderes estrangeiros para que evitem comparecer à capital russa durante o evento. Segundo ele, há riscos à segurança dos participantes.
“A Ucrânia não pode garantir sua segurança”, afirmou. De acordo com Zelensky, a Rússia poderia promover “incêndios criminosos, explosões e outras medidas” com o objetivo de responsabilizar Kiev por esses atos.
Em resposta a essa declaração, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia afirmou que o pronunciamento do presidente ucraniano configura uma ameaça disfarçada. A pasta também acusou Kiev de envolvimento prévio em ações de violência no território russo.
Entre os episódios citados por autoridades do Kremlin estão ataques com drones contra edifícios residenciais em Moscou e a atuação de agentes com explosivos em atentados dirigidos contra alvos específicos.
O agravamento da retórica entre os dois países ocorre em meio a uma fase de estagnação nas tentativas de negociação diplomática. Desde o início da invasão russa em território ucraniano, em fevereiro de 2022, sucessivas iniciativas de cessar-fogo foram frustradas, seja por escaladas militares ou pela ausência de condições políticas favoráveis.
A proposta de trégua apresentada por Moscou não foi formalizada em organismos multilaterais e tampouco recebeu respaldo de países mediadores. Ainda assim, a rejeição pública por parte de Kiev levou a Rússia a elevar o tom das críticas.
O governo russo avalia que a recusa demonstra ausência de interesse da Ucrânia em processos de pacificação, especialmente em datas consideradas simbólicas no calendário político russo.
O desfile do Dia da Vitória, programado para quinta-feira (9), mantém previsão de realização na Praça Vermelha, com exibição de tropas, veículos blindados e presença de convidados internacionais.
O governo russo não divulgou a lista de chefes de Estado confirmados até o momento. O evento tem ocorrido anualmente, mesmo durante a guerra, como parte do esforço do Kremlin de manter sua narrativa histórica e política.
A escalada verbal entre Moscou e Kiev foi acompanhada de alertas de segurança em diversas cidades russas nos últimos dias. Autoridades locais reforçaram medidas de vigilância, especialmente em áreas próximas aos locais de celebração e prédios governamentais. Não houve confirmação oficial de alterações no cronograma das cerimônias ou restrições adicionais ao público.
As reações internacionais às declarações de ambos os lados foram limitadas até o momento. Organismos multilaterais e governos estrangeiros mantêm postura de cautela diante do aumento das tensões e da proximidade de um evento com forte carga simbólica para a política externa russa.
As acusações de Moscou contra Kiev, somadas ao alerta de Zelensky aos líderes internacionais, refletem a permanência de um ambiente de instabilidade e desconfiança. As datas comemorativas que marcam o passado militar soviético voltam a ser utilizadas como elemento estratégico nos discursos e movimentações das partes envolvidas no conflito.