Declarações agravam ainda mais a situação jurídica do ex-presidente, que de acordo com a PGR, seria o principal beneficiado da derrocada da democracia
O ex-presidente Jair Bolsonaro, réu no Supremo Tribunal Federal (STF), por tentativa de golpe de Estado, confessou, durante interrogatório realizado nesta terça-feira (10), que discutiu com a cúpula das Forças Armadas, a decretação de um estado de sítio após o PL, partido em que ele faz parte, ser multado em R$ 22 milhões após questionar sem provas a segurança do sistema eletrônico de votação. A declaração agrava ainda mais a situação jurídica de Bolsonaro, que de acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR), seria o principal beneficiado com o golpe.
A oitiva de Bolsonaro ocorreu na ação penal que investiga a organização criminosa montada para tentar derrubar o regime democrático no Brasil e impedir a posse e o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele confessou que realizou diversas reuniões no Palácio da Alvorada com militares após Lula vencer a eleição e que estudou medidas a serem tomadas em relação à Justiça Eleitoral.
“Essas reuniões que ocorreram foram em grande parte em função da decisão do TSE. Quando peticionamos sobre possíveis vulnerabilidade, no dia seguinte não foi acolhido e nos surpreendeu uma multa de R$ 22 milhões de reais. Se viesse a recorrer da multa ou da petição, poderia ser agravada. Decidimos então encerrar com o TSE qualquer discussão sobre o resultado das eleições”, disse Bolsonaro.
Antes dele, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, também réu no mesmo processo do golpe, confirmou a existência de uma minuta golpista que foi encontrada na casa dele e tinha como intuito decretar Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para impedir a posse do presidente Lula e do vice, Geraldo Alckmin. Bolsonaro disse que uma minuta foi apresentada durante uma das reuniões no Alvorada.
Leia mais – Em “sincericídio”, Heleno confessa golpismo ao responder ao próprio advogado
“Eu ouvi o Paulo Sérgio (ministro da Defesa), ouvi o Freire Gomes (então comandante do Exército), ouvi o Garnier (Marinha) e não pude ouvir muito o Baptista Júnior (Força Aérea) porque ele pouco falava. Ele nem leu a minuta que ele acusa, nem chegou a ler aquele assunto. O militar é aquele que está do seu lado nas horas boas e nas horas ruins. E eu confesso que muita coisa que eles falaram eu absorvi e chegou à conclusão rapidamente que não tinha mais o que fazer”, completou o ex-presidente.
O presidente do PT, senador Humberto Costa, destacou que Bolsonaro falta com a verdade. “Bolsonaro finalmente descobriu que mentiras têm pernas curtas… especialmente quando o alvo é Xandão. Que surpresa, não?”, publicou o senador.
O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias, destacou que Bolsonaro fracassa em sua tentativa de enganar a Justiça. “Jair Bolsonaro diz que não alterou a minuta golpista. Mas Mauro Cid afirmou que ele recebeu, leu e fez alterações no texto que previa estado de sítio, prisão de ministros e novas eleições. A minuta não surgiu do nada nem ficou esquecida em gaveta: foi discutida, editada e tratada como plano real. Negar agora é só o último ato de quem tentou destruir a democracia — e fracassou”, ressalta.
Alegações finais
Com as oitivas realizadas, a ação penal se aproxima do encerramento, e a Corte deve marcar a audiência que vai definir quem serão os condenados e quais suas penas. Os depoimentos, provas e informações colhidas até agora apontam envolvimento profundo e intenso de Bolsonaro nas articulações golpistas.
Leia mais: Em interrogatório no Supremo, Anderson Torres confirma existência de minuta golpista
Durante o depoimento, Bolsonaro apresentou contradições, quando tentou desmentir a existência de uma minuta, mas em seguida confirmou que o documento foi apresentado em um telão no Alvorada. Ele também tentou voltar atrás em declarações públicas que fez quando era presidente e atacou o sistema eletrônico de votação e colocou em dúvida a integridade do resultado das eleições.
PTNacional