Nessa semana, foi ao ar uma edição especial do programa Puxando o Fio, do Estúdio 5º Elemento. Além da presença cativa de Filipe Trielli, Kim Paim e Artur Machado, o programa contou ainda com a participação de Rui Costa Pimenta, presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO). O encontro, que marcou a segunda participação do dirigente trotskista no canal, permitiu uma discussão franca e direta sobre os rumos da política brasileira e da política internacional, mesmo com uma bancada que se considera ideologicamente de direita.

Para Rui Costa Pimenta, a situação atual, com a direita mobilizada nas ruas e a esquerda paralisada, não é uma surpresa.

“A esquerda optou por uma batalha judicial, ou seja, optou por utilizar o poder repressivo do Estado contra a direita. Isso é um clássico do que a gente não deve fazer”.

Segundo ele, as ações do judiciário, como as de Alexandre de Moraes contra Bolsonaro, “criaram uma situação em que a direita aparece como perseguida pelos poderes do Estado”. O presidente do PCO enfatizou que o povo “não gosta dos poderosos” e tende a desconfiar da perseguição estatal.

Rui Pimenta analisou a solidez da organização da direita, citando as igrejas evangélicas como um “grupo mais importante”, além de sua presença na polícia e nas forças armadas. Ele ressaltou o “clima combativo” da direita, que “se enxerga como combatendo o sistema”. Em contrapartida, a esquerda, “principalmente por influência do PT, acaba se identificando com o sistema, o que é muito ruim”, disse.

A análise de Pimenta se aprofundou na crise do capitalismo pós-2008 e os efeitos da política neoliberal, que “gera uma repulsa universal”. Contudo, “a esquerda, por erros políticos muito claros, aparece associada com aqueles que são vistos como os responsáveis por essa situação social extremamente ruim. E a direita não, a direita aparece contestando isso”, explicou. Ele traçou paralelos com a situação internacional, mencionando o crescimento do partido Chega em Portugal, que passou de “insignificante” para 60 deputados na última eleição.

Rui Pimenta expressou preocupação com o futuro do País, acreditando que direita e esquerda estão “enfrentando, na realidade, o mesmo inimigo”. O presidente do PCO considera que está em marcha um “verdadeiro golpe de estado”, onde “os verdadeiramente poderosos” buscam “tirar o Bolsonaro da disputa eleitoral” e “tirar o Lula da disputa eleitoral”, para “enfiar um candidato que não tem voto”.

Demonstrando acordo com a maior parte das colocações feitas pelo presidente do PCO, o comentarista Arthur Machado defendeu que o há “um esgotamento do sistema neoliberal” e que “parte da esquerda abandonou o movimento sindical e foi para a pauta DEI [Diversidade, Equidade e Inclusão]”, fazendo com que “acabasse com o discurso sindical, asfixiasse o discurso sindical”. Durante o programa, Machado chegou a perguntar a Rui Pimenta se o movimento do presidente Donald Trump pela reindustrialização nos Estados Unidos seria uma “versão à direita de movimento da volta do movimento sindical”.

O presidente do PCO, por sua vez, classificou o movimento de Trump como “natural” diante do “colapso que a política neoliberal promoveu”. Segundo ele, a “primeira vítima da política neoliberal foi justamente a classe operária”, resultando em desemprego massivo e no fenômeno do “cinturão da ferrugem”. Nesse sentido, o dirigente trotskista destacou que Trump, mesmo sendo um bilionário, “está contra o sistema que favorece os bilionários”. Isso acontece não porque o presidente nutra qualquer tipo de amor aos trabalhadores, mas porque “um setor da burguesia norte-americana que trabalha fundamentalmente para o mercado interno está sendo destruída também”.

Para Pimenta, a tentativa de Trump de reverter o neoliberalismo “levaria a uma revitalização do movimento operário norte-americano”, de modo que, “se no Brasil fizessem a mesma coisa, levaria uma revitalização do movimento operário brasileiro”.

Sobre a situação no Brasil, o presidente do PCO descreveu Lula como um “típico político do nacionalismo burguês latino-americano”, comparando-o a Getúlio Vargas e Perón. Ele explicou que, devido à “muito pouca base social dentro das instituições”, esses líderes são “malabaristas políticos”, fazendo um “jogo de equilibrismo muito complicado”, com guinadas “à direita e à esquerda de acordo com a situação”.

Pimenta relembrou a trajetória de Lula, desde o sindicalismo na ditadura militar, onde deu uma “guinada à esquerda” acompanhando o movimento grevista, até a criação do Partido dos Trabalhadores. A política de Lula, na visão de Pimenta, se encontra “no momento de maior fraqueza”. Ele apontou que Lula “só conseguiu fazer alguma coisa quando a situação econômica mundial era favorável a ele”, com a China comprando minério e o dinheiro entrando no Brasil.

“O governo é fraquíssimo, não tem maioria no Congresso, não tem apoio pela mobilização popular. Nas instituições, ele não tem apoio nenhum”.

Rui Pimenta afirmou categoricamente que o “regime capitalista no Brasil e o regime da Constituição de 88 estão esgotados”. Segundo ele, “vai ter que haver uma reformulação das instituições, porque não dá para continuar governando desse jeito”. Ele alertou que “a burguesia sabe e o povo também não está aguentando muito mais”, descrevendo a situação como “muito crítica”.

Ao final do programa, os participantes reiteraram a importância do debate. Rui Costa Pimenta agradeceu a oportunidade, afirmando: “achei muito boa a conversa. Eu gosto de discutir. Não, quem gosta de discutir com quem pensa a mesma coisa tem um problema”. Ele defendeu a necessidade de “conversar com todo mundo, buscar convergências”, mesmo entre setores tão distintos como a esquerda e a direita bolsonarista. “Eu acho que num certo sentido a gente está fazendo isso de lutar contra determinadas coisas juntos”, disse, citando a defesa das “liberdades democráticas” e a “oposição ao imperialismo, que o pessoal chama de globalismo”.

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Last Update: 06/07/2025