A esquerda brasileira não conseguiu entender o que está em jogo na questão da liberdade de expressão, segundo Rui Costa Pimenta, presidente do Partido da Causa Operária (PCO). Ele expressa grande preocupação com a postura da esquerda em relação à decisão do STF que torna inconstitucional o artigo 19 da Lei da Internet. “Essa votação que foi apoiada por praticamente toda a esquerda brasileira, ela é o maior ataque antidemocrático à liberdade de expressão no Brasil nos últimos 60 anos, pelo menos”, disse.

“Eu vi com extremo desgosto a imprensa progressista e setores da esquerda apoiando essa medida, que na prática entrega o controle das redes sociais para os poderosos lobbies capitalistas e políticos burgueses”, explicou o dirigente no debate político Análise Política da Semana, transmitido ao vivo na Causa Operária TV. Ele destacou que, com a eliminação do artigo 19, as redes sociais passarão a ser responsabilizadas pelo conteúdo dos usuários, o que levará à censura massiva para evitar processos judiciais movidos por esses lobbies.

“Se o PCO defender Hamas no YouTube como fazemos frequentemente – agora vamos defender o Irã – e houver aí uma pressão política, com processos judiciais contra o YouTube por causa disso, para evitar esses processos, eles tirarão o PCO do ar.”

A esquerda e o “crime de opinião”

Pimenta criticou duramente a posição da “esquerda que se diz revolucionária” em relação ao caso do humorista Léo Lins. Ao analisar uma matéria do PSTU sobre o tema, o presidente do PCO apontou a contradição entre defender a arte e, ao mesmo tempo, apoiar um claro “crime de opinião”. “Quer dizer, ele [o PSTU] começa dizendo que tudo é arte e aí, tira do bolso do colete esse negócio que é um absurdo, transformar determinado tipo de coisa falada em crime é o crime de opinião”, afirmou.

“O crime de opinião é uma coisa obviamente autoritária, reacionária e fascista. Opinião não pode ser crime”, enfatizou. Ele alertou que, se a esquerda adere a essa lógica, abre-se um precedente perigoso para que, no futuro, ideologias como o comunismo também se tornem crimes. “Amanhã alguém aprova uma lei como alguns países têm aprovado de que o comunismo como ideologia é proibido, então é crime”.

Crise do governo Lula e a desconexão com a realidade

Segundo Pimenta, a popularidade do governo Lula está “despencando”, e a cúpula do PT falha em reconhecer a gravidade da situação. “A ficha está caindo muito lentamente, mas está caindo para muita gente, de que o que a burguesia está fazendo na condenação do Bolsonaro não vai dar um jogo muito bom para a esquerda”, observou.

Ele citou uma pesquisa do jornal golpista Folha de São Paulo que revela a queda de aprovação do governo, mesmo em segmentos tradicionalmente eleitores do PT. O presidente do PCO ressaltou que a “economia positiva no papel” não se traduz em melhoria real na vida das pessoas, que enfrentam alta de preços, inadimplência e aumento da população de rua.

Pimenta também destacou os erros do governo, como a taxação das compras internacionais (as “blusinhas”), que afetou milhões de pessoas e não trouxe benefícios significativos às contas públicas, além de ter levado a empresa dos Correios à falência. A política de austeridade e o “pacote de maldades” implementado, segundo ele, contribuíram para o desgaste.

Além disso, o dirigente apontou o que chamou de “desastre” no julgamento de Bolsonaro, que, para ele, se tornou um fiasco. “O Bolsonaro tava fazendo gênero lá, ele tava fazendo o gênero de eu sou um coitado”, disse, criticando a subestimação da inteligência do ex-presidente e a fragilidade do processo. “O fato da testemunha fugir é desmoralizante para o tribunal, assinala um tribunal que não merece respeito”, exemplificou, citando o caso de ajudantes de ordens de Bolsonaro.

O ataque israelense ao Irã: posição do PCO e crítica à esquerda

O presidente do PCO classificou o recente ataque israelense contra o Irã como “absolutamente criminoso” e reforçou o apoio incondicional do partido ao Irã. “Nós apoiamos o Irã, não tem essa conversa de que o regime é isso, o regime é aquilo. O que tá em pauta aqui é uma agressão imperialista contra um país atrasado”, afirmou.

Ele criticou o silêncio e a postura ambígua de parte da esquerda brasileira diante da agressão sionista. Pimenta leu a nota do governo brasileiro, que condenou o ataque, mas instou o Irã a não revidar, o que ele considerou uma “posição canalha do Itamaraty”, dominado pelo sionismo.

Ainda, teceu críticas ao órgão do MRT Esquerda Diário, que em sua análise do ataque, não condenou a ação israelense como criminosa e ainda insinuou que o ataque iraniano visava “infligir danos a Israel, inclusive à população”. “Essa é a posição da esquerda”, ironizou Pimenta, denunciando o que vê como um alinhamento “pró-imperialista” de parte do campo progressista.

“O que precisamos aqui é o seguinte: diante do ataque ao Irã, nós temos de dizer claramente que o governo brasileiro deve romper relações com ‘Israel’”, defendeu o líder do PCO, conclamando a uma campanha gigantesca no Brasil. Ele reiterou que quem não defende o Irã nesse momento é um apoiador do sionismo e do imperialismo.

Imperialismo agressivo e a necessidade de uma frente anti-imperialista

Rui Costa Pimenta concluiu sua análise alertando para a crescente agressividade da ditadura global. “O imperialismo tá preparando ativamente a guerra contra a Rússia”, afirmou, citando a militarização da Europa e o aumento das capacidades militares de países como a Alemanha.

Ele enfatizou que a luta em curso é do imperialismo contra os países oprimidos, e que a esquerda que se cala ou justifica as agressões age como “agentes do imperialismo”. “É preciso agrupar as pessoas que defendem, que levantam como bandeira principal a luta contra o imperialismo. É preciso agrupar numa frente única contra o imperialismo no Brasil e internacionalmente”, finalizou.

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Last Update: 15/06/2025